Matérias relacionadas
Hungria

Alquimia divina
A história do vinho se escreve não apenas detalhando a evolução dos acontecimentos relevantes, mas também registra as lendas que, na maioria dos casos, podem contar as particularidades associadas a um vinho, como por exemplo ao modo particular de sua elaboração ou ao efeito benéfico de seu consumo para o ser humano. Um vinho envolto em mitos provoca especial interesse e sua fama, às vezes, deriva mais da curiosidade de sua história do que de suas qualidades intrínsecas.

Se aceitarmos a percepção comum de que a arte do vinho está relacionada à alquimia divina, que dá origem a um néctar provocador de especial euforia, igualmente se poderia acreditar nas crenças segundo as quais certos tipos da bebida têm uma série de efeitos benéficos diretamente relacionados a diferentes órgãos do corpo humano.

No caso do branco Juhfark, elaborado com essa variedade autóctone húngara e cujo nome, literalmente, significa "rabo-de-ovelha", não se trata apenas do fato de que seu consumo aporta sensações agradáveis, estimulando um encontro romântico íntimo e servindo de afrodisíaco, mas também porque seu consumo na noite de núpcias aumenta as probabilidades de fecundação e de que a criança seja um menino. As crônicas revelam que, há alguns séculos, a Casa Imperial dos Habsburgos efetuou muitas compras desse vinho, proveniente de Somló, provavelmente com o intuito de aproveitar o efeito dessa bebida mítica. Os húngaros que acreditam na lenda sobre o vinho Juhfark de Somló continuam sendo, até hoje, fiéis consumidores em busca dos mesmos objetivos.

Essa região vinícola que, com apenas 500 hectares de vinhedos, é a menor em extensão da Hungria, encontra-se na parte centro-ocidental do país. Seus vinhedos estão localizados nas encostas de um vulcão, cujo solo é uma mistura de loessito e basalto, onde as videiras são cultivadas desde o tempo dos romanos. A primeira menção a seus vinhos data de 1093, em um documento da Fortaleza de Somló, mas sua atividade vitícola foi regulamentada, pela primeira vez, apenas em 1511. Em tempos passados e até a devastação causada pela filoxera, cultivavam-se dezenas de variedades de uvas, mas após a praga apenas poucas castas continuaram a ser plantadas, castas essas que proporcionam vinhos brancos com caráter rústico. Atualmente, além da Juhfark, as principais variedades são a Olaszrizling e a Furmint.

Os vinhos elaborados com base na Juhfark são de longa evolução, com marcado caráter mineral e alto grau de acidez. Pode-se até dizer que se trata de uma riqueza singular em ácidos, à qual se junta uma exuberância de aromas frutados e florais. Ao bebê-los, a boca é invadida por uma carícia sedutora, apresentando concentração e estrutura excelentes.

Segundo as palavras do ensaísta húngaro Béla Hamvas, autor de um afamado livro sobre os aspectos filosóficos da bebida, os vinhos de Somló são "para os sábios, para os homens que aprenderam a desfrutar ao máximo do prazer".

Alguns dos melhores vinho de Juhfark no mercado da Hungria são:

  • Györgykovács 2008
  • Tornai Aranyhegy 2008
  • Hollóvár 2009
  • Kreinbacher 2009
  • Spiegelberg 2009.

    József Kosárka é diplomata, gourmet e escritor húngaro; membro da Academia Húngara do Vinho, é colunista de publicações de enologia em seu país; foi embaixador da Hungria no Peru e no Chile; associado à FIJEV

    Nota do editor: essa coluna foi escrita originalmente para a página La Yema del Gusto, do Peru; tradução por Oscar Daudt
  • Comentários
    Sem comentários até o momento    
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]