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A Macedônia é um país situado na Península Balcânica e que, durante boa parte do século XX, era uma das repúblicas que compunham a Federação da Iugoslávia. Com o esfacelamento desta, a Macedônia declarou independência em 1991. É um pequenino país - menor do que o estado de Alagoas - com apenas 2 milhões de habitantes.
Apesar do diminuto tamanho, sua produção anual de vinhos (em 2011), de acordo com o Wine Institute, foi de 75 milhões de litros, posicionando-se como o 30º produtor mundial, à frente de gente grande, como o Canadá. A área plantada de vinhedos é de 20.000 hectares e existem 80 produtores registrados.

O país se divide em 3 regiões vinícolas (imagem à direita):
Povardarie: localizada ao centro do país, é a maior e mais importante região, onde 85% do vinho é produzido;
Pchinya-Osogovo: localizada a oeste;
Pelagonia-Polog : localizada a leste.
A produção de uvas é bem distribuída entre as tintas e as brancas, com ligeira predominância das primeiras que somam 60% da produção. Além das indefectíveis castas internacionais - Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Chardonnay, Riesling e Sauvignon Blanc - a Macedônia planta algumas variedades autóctones dos Bálcãs, tais como:
Vranec (tinta): é a mais importante casta do país, de alta qualidade, produzindo vinhos poderosos e com potencial de guarda; seu nome que dizer "garanhão negro" em homenagem à força dessa variedade;
Stanusina (tinta): era a mais difundida no país, antes do advento da filoxera e atualmente desempenha um papel secundário; produz vinhos de baixo teor alcoólico, pouca acidez e corpo discreto;
Traminec (branca): variedade exclusiva do país, elabora vinhos levemente adocicados e com acidez moderada;
Temjanika (branca): segundo Jancis Robinson, é o nome local para a Muscat Blanc à Petits Grains;
Zilavka (branca): variedade que elabora vinhos encorpados e de alta qualidade.
Claro que aqui no Brasil é impossível encontrar um vinho com essa origem. Simplesmente não existem. E mesmo na Europa esses vinhos são uma raridade, dedicados àqueles incansáveis aventureiros.
Quando minha querida irmã Neneca foi a Londres, há alguns meses, perguntou-me que vinhos eu queria de lá. Eu pedi vinhos do Leste Europeu. Se encomendar vinhos para quem viaja já é um abuso, imaginem pedir rótulos difíceis de serem encontrados! E a minha encomenda resultou em um cansativo garimpo pelas lojas londrinas. Mas um dos vinhos que Neneca pacientemente encontrou foi o Bovin Vranec 2010, pelo qual ela pagou £9,99 (cerca de 39 reais) na Elite Wine Merchants.
A Bovin é uma empresa estabelecida em 1998, na região de Povardarie, como a primeira vinícola privada daquele país. Possui um total de 60 hectares de vinhedos, com uma produção de mais de 1 milhão de garrafas, seguindo práticas ecologicamente sustentáveis.
O vinho é 100% Vranec e não tem passagem por madeira, o que neste caso é uma vantagem, deixando a fruta se mostrar exatamente como ela é. Se eu devesse compará-la com alguma variedade mais conhecida, minha primeira escolha seria a Syrah, com sua potência e seus toques de especiarias. Mas não se deixe enganar: ainda assim está a anos-luz dessa casta internacional.
A cor, característica principal desta uva, é de um vermelho impenetrável. Os aromas são marcantes, surpreendentes, dominados por frutas maduras, onde o doce de cerejas se sobressai, temperado com canela, pimenta branca e deliciosa lavanda. No paladar, o vinho é a epítome da potência, com muita estrutura, taninos maduros, ótima duração, suculento, mas bem equilibrado pelo frescor.
É um dos 100 melhores vinhos que já bebi? Longe disso... Mas é um vinho bem feito, gostoso, exótico. E, com certeza, é um dos mais interessantes dentre todos. Só o fato de eu ter acrescentado um novo país e uma nova casta à minha lista, já valeu a experiência. E é bom ficar se exibindo sobre essa façanha, pois duvido que muita gente por aqui tenha tido essa oportunidade.
Muito obrigado, minha irmã!
Oscar Daudt
23/12/2013 |
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