
Chover no molhado é dizer que o Paris, na Casa Julieta de Serpa, é o mais belo restaurante do Rio de Janeiro. Mas mais do que isso, ele oferece um artigo de luxo, que eu tanto prezo e sempre em falta, com raríssimas exceções, nas demais casas de nossa cidade: ESPAÇO! Como é bom poder jantar em mesas grandes, com boa separação entre elas, sem necessidade de participar da conversa das mesas ao lado. Ponto para o Paris!
Esta semana fui convidado a experimentar a cozinha do novo chefe que passou a comandar os fogões por lá. Ele é novo porque é recém-chegado, mas também porque traz a inquietude de juventude, com seus 30 anos, aos requintados salões do restaurante. Mas não se deixem enganar: apesar de jovem, Thiago tem uma experiência de causar inveja a muita gente. Sua carteira profissional traz os carimbos do estrelado Mirazur, na Côte d'Azur, do ícone paulistano D.O.M. e do celebrado El Celler de Can Roca, da Catalunha, que foi escolhido como o melhor restaurante do mundo, em 2013.
O chefe optou por nos apresentar um painel de seu novo cardápio, com uma degustação - em pequenas porções - de suas criações mais emblemáticas. Foi uma festa! E assim passaram em nossa mesa 9 etapas de entusiasmar.
Muito embora Thiago declare buscar uma cozinha minimalista, quando ele vinha à mesa apresentar suas obras, a relação de ingredientes era tão longa que, quando ele contava o último, eu já havia esquecido do primeiro. Mas é impressionante sua capacidade de combinar em um mesmo prato uma enorme quantidade de ítens aparentemente díspares e chegar a uma unidade gastronômica coesa e deliciosa. Ponto para o Thiago!
O Portobello com creme de alho negro - esse sim, minimalista - foi um delicioso começo. Enfeitando a mesa com sua estética - digamos - cubista, as Vieiras com nhoque de beterraba tinham, tanto o molusco quanto o nhoque, uma textura cremosa. Foi meu primeiro nhoque de beterraba e espero que não seja o último!
Avisando que havia feito uma releitura sobre um clássico do restaurante, Thiago apresentou os Foie gras em profiteroles que agora vêm com carpaccio de cogumelos e rúcula. Mas aqui mora minha única crítica à sequência da noite, pois os profiteroles estavam com uma dose extra de manteiga.
Mas tudo voltou aos trinques com o ícone da gastronomia luso-carioca, o Risoto de polvo com brócolis, que sofreu uma transformação em que o arroz foi trocado pela quínoa, ganhando uma leveza que combinava com a maciez do polvo. E tudo terminou com o Peito de pato com lentilhas italianas, acompanhado de uma original pera grelhada com Chardonnay. Belo momento!
Embora estivéssemos como convidados, eu não resisti e pedi para levar os vinhos, curioso que estava para provar dois rótulos que não paravam de me provocar: um branco e um tinto.
O branco chegou há poucos dias de Nova Iorque e nem tinha tido o tempo de desfazer as malas. Era um Contrada Salvarenza Soave Classico, da Gini, de uma safra de assustar qualquer um, 2004, pois um Soave não costuma durar tanto tempo. A tensão era grande para saber se ele ainda estaria brilhando, mas foram preocupações vãs, pois o vinho estava um espetáculo! E fez um bonito papel escortando nada menos do que 5 etapas com sua bela acidez e seu corpinho sarado.
O tinto era mais clássico e não assustava ninguém. Pelo contrário, a questão era saber se já era hora de abrir. Um fantástico Domaine de Cristia Châteauneuf-du-Pape 2005, soberbo, requintado, com bela estrutura, harmonizando muito bem com o ambiente aristocrático do restaurante
Oscar Daudt
10/11/2013 |