
Para quem curte comer e beber bem, esta é uma recomendação imperdível!
O filme Os Sabores do Palácio (Les Saveurs du Palais) conta a história de Hortense Laborie, uma reconhecida chefe que vive em uma fazenda no Périgord e que é escolhida pelo presidente da França (não identificado no filme) para ser sua cozinheira pessoal. Cansado da alta gastronomia que é servida no Palácio do Eliseu, o presidente recebe a recomendação de Joël Robuchon para contratá-la, a fim de preparar uma cozinha de raiz. Hortense é conhecida defensora da gastronomia tradicional francesa, em especial o foie gras e as trufas.
Relutante, a nova chefe aceita o convite e tem de enfrentar o machismo e os ciúmes que desperta na cozinha oficial do Palácio. Logo, logo, ela é maldosamente apelidada de Du Barry, em alusão não apenas à favorita do rei Luís XV, como também à conhecida marca francesa de foie gras Comtesse du Barry.

A trama refere-se a uma história da vida real, em que Hortense é, na verdade, a chefe Danièle Mazet-Delpeuch (foto à direita) que é convidada para ser a cozinheira pessoal do presidente François Mitterand, em seu segundo mandato. Ela ficou dois anos cozinhando para o presidente e, referindo-se ao filme, explica: "Alguns momentos foram inventados, claro. Mas às vezes a lenda é melhor do que a realidade."
Em uma de suas primeiras conversas com o presidente, Hortense recebe o pedido de elaborar uma cozinha igual à da avó dele, uma cozinha simples, onde se pode sentir o sabor dos ingredientes.
Mas não se deixe enganar: o que os franceses chamam de cozinha simples é, na verdade, o que o resto do mundo chama de "a mais alta gastronomia". Todos os ingredientes têm denominação de origem e os pratos que a chefe elabora são requintados, belíssimos e, pelo jeito, deliciosos.
Uma das mensagens que o filme nos traz é a da seriedade com que a França trata da gastronomia, transformando-a quase que em um assunto de Estado. Não é à toa que esse país está a frente de todos os demais nesse quesito e continua dando as cartas em todas as mesas.
O filme é irresistível e como se fosse uma "Rosa Púrpura do Cairo" ao contrário, é o espectador que quer pular para dentro da tela. Portanto, eu recomendo jantar direitinho antes de assistí-lo.
De quando em quando, o vinho também faz parte do enredo. Há uma cena em que se bebe um Champagne Cristal, e o merchandising informa que é o preferido do presidente; em outra passagem, é descrita uma memorável harmonização com vinhos do Loire, onde entram um Vouvray Huet, um Dagueneau Silex, um Coulée de Serrant Vieilles Vignes e um Clos Rougeard. Apenas isto...
Mas, para mim, o momento mais especial foi a cena em que o presidente vai à cozinha e Hortense lhe serve uma torrada douradinha, amanteigada, coberta com generosas fatias de trufas negras e harmonizada com um Château Rayas Chateauneuf-du-Pape 1969. Inesquecível!
Eu não consegui encontrar esse filme nem no Netflix, nem no Google Play. Eu o aluguei em minha locadora usual, a Guimarães Video Club, situada à Rua das Laranjeiras 462 - Loja 4.
Oscar Daudt
29/12/2013 |