| Esqueça o que lhe ensinaram |
Em todo e qualquer curso de vinhos, logo na primeira aula, a gente aprende que os rótulos da Borgonha são todos elaborados com Chardonnay, os brancos, e Pinot Noir, os tintos. Assim simples... Se formos consultar os livros especializados, mesmo os mais importantes, essa informação é confirmada. Compêndios mais detalhados chegam a lembrar que alguns poucos vinhos brancos são feitos com a Aligoté - a irmã mais pobre da Chardonnay - mas que são usualmente vinhos inexpressivos, de baixa qualidade e que é até melhor nem lembrar deles.
Por isso, quando alguns amigos vieram me contar que haviam bebido um Sauvignon da Borgonha, reagi com incredulidade. Mas em função da insistência deles, terminei decretando que - tudo bem! - o vinho poderia existir, mas não poderia identificar a região no rótulo. Provavelmente seria apenas um "Vin de France". Como eu estava errado!
Uma simples consulta à página do INAO - Institut National de l'Origine et de la Qualité, mostrou-me que há, sim, na Borgonha, uma denominação dedicada à casta Sauvignon - a Saint-Bris - e que seus vinhos podem estampar no rótulo a cobiçada identificação: Grand Vin de Bourgogne!
A história de Saint-Bris é bastante interessante: até o advento da filoxera, a região era plantada, basicamente, com a casta Roublot, uma parente próxima da Chardonnay. Quando as videiras foram devastadas pela praga, os agricultores atônitos decidiram substituir os vinhedos pela Sauvignon Blanc, casta bem menos suscetível ao temido inseto. É bom lembrar que isso ocorreu bem antes das estritas determinações da Borgonha.
Com isso - exceção das exceções! - a região, que fica bem perto de Chablis e é cercada de Chardonnay por todos os lados, foi autorizada a manter sua tradição já centenária e, em 2003, foi reconhecida como a AOC Saint-Bris. A área demarcada é bem pequena, com cerca de 100 hectares de vinhedos, e abrange 5 comunas: Chitry, Irancy, Quenne, Saint-Bris-le-Vineux e Vincelottes.
A denominação permite somente a utilização de duas castas: a Sauvignon Blanc e a Sauvignon Gris.
Bem, o vinho que meus amigos beberam foi o Goisot Saint-Bris Moury Sauvignon 2009, em uma visita que fizeram à nova Porto di Vino (www.portodivino.com.br), na Gávea. É claro que eu fiquei louco de curiosidade e em seguida liguei para lá e comprei uma garrafa para experimentar e divulgar.
Eu não hesitaria em recomendar esse vinho, mesmo se ele não fosse nenhuma Brastemp. Apenas ser um improvável Sauvignon Blanc da Borgonha já seria credencial suficiente para que todos procurassem provar. Afinal, no caso de um amigo repetir o mantra de que todos os brancos da região são Chardonnay, só o fato de você poder responder que já degustou um Sauvignon borgonhês é igualzinho a Mastercard.
Mas o vinho, em si, é muito bom. Elaborado com 100% de Sauvignon Blanc, embala um teor alcoólico de 12,7%. Mas, por favor, não esperem aqueles exageros de frutas tropicais e herbáceos tão comuns na América do Sul. O nome do jogo, aqui, é a elegância e a sofisticação! E o nariz entrega mais discretos aromas de flores brancas, frutas maduras, grapefruit e pimenta branca sobre um fundo mineral. E na boca é cremoso, com boa acidez, belíssimo corpo, bem seco e de média duração. Com frutos do mar é um chuá!
O vinho custa R$85,00 na loja. Para aqueles que não moram no Rio de Janeiro e estejam interessados em comprar esse rótulo, informo que quem o importa é a Nova Fazendinha (www.novafazendinha.com.br), que o vende pelo mesmo preço da loja.
Oscar Daudt
22/11/2013 |
Roberto Franco
Anselmo Federico