Andrea Panzacchi é um bolonhês que se apaixonou pelo Rio de Janeiro e há cerca de 3 anos abriu, em Ipanema, as portas do Vero Gelato Italiano, uma das sorveterias de maior prestígio em nossa cidade.
Vez por outra, Andrea volta a sua terra e por lá garimpa vinhos italianos que se posicionam totalmente fora da curva normal. Só pequenos produtores, de agricultura biológica, com castas inesperadas e nomes desconhecidos aqui no Brasil - e acho que desconhecidos até mesmo na Itália. E, para nossa sorte, quando ele volta, gosta de convidar os amigos para a degustação dessas raridades. É sempre um espetáculo!
Desta vez, Andrea convidou um pequeno grupo para se reunir na Porto di Vino, a nova loja da Praça Santos Dumont, onde apresentou 10 vinhos - 9 brancos e 1 tinto. Ao final, ainda foi servido um vinho de sobremesa, mas eu saí antes de isso acontecer.
Os 10 vinhos eram todos especiais, mas aqueles que mais me emocionaram - nada menos do que 7 dentre os 10 - foram:
Cantina Filippi Vigne della Brà 2010, um 100% Garganega, da DOC Soave, iniciou o desfile. Como dessa denominação provêem normalmente vinhos sem grande expressão, as expectativas não estavam muito altas. Mas o vinho era maravilhoso e se posicionou como um dos melhores da noite. E isso em uma noite só com vinhos especiais! É um vinho biológico, de vinhedos de 60 anos plantados a 400m de altitude, que passa 20 meses sobre as lias.
L'Acino Mantonicoz 2010, um vinho calabrês, elaborado com a desconhecida casta Mantonico Pinto, uva raríssima, da qual só existe o vinhedo de menos de 1 hectare, plantado a 600m de altitude, de onde provem este vinho. Com muita mineralidade, aromas de pera e de rosas, tem uma acidez vibrante e um corpo sarado.
Barraco Zibbibo 2011, vinho biológico, elaborado com 100% de Zibbibo, que é o nome da Moscato de Alexandria na Sicília, surpreendentemente vinificada como vinho seco. No nariz, notas de chá, rosas, eucalipto e tangerina, era o protótipo do vinho laranja, com taninos a emoldurar uma boca de ótima acidez.
Champagne Emmanuel Brochet Le Mont Benoit 1er Cru NV, foi o único representante de fora da Itália; um inesperado Champagne com acidez elétrica e notas de padaria, laranja e leve tostado.
Borc Dodòn Uis Bláncis 2006, um vinho do Friuli, com um complicado corte de 55% Friulano, 30% Sauvignon Blanc, 10% Pinot Blanc e 5% Verduzzo Friulano, de vinhedos de mais de 55 anos; estagia por 12 meses em tonéis de carvalho, e traz uma cor âmbar luminosa, excelente acidez e notas de grapefruit, mel e chá preto.
Radikon Jakot 2003 foi mais um extraordinário vinho laranja com mais de 10 anos de vida e ainda com o viço da juventude; se você ler o nome ao contrário - Tokaj - verá que é mais um dos incontáveis protestos do Friuli contra a proibição de nomear seus vinhos como Tocai Friulano, como o faziam há séculos; vinho turvo, com notas de frutas secas; seu único problema foi a garrafa de apenas 500ml, o que fez com que a dose servida fosse bem menos do que eu gostaria.
Guccione Perpetuo di Cerasa NV, um vinho siciliano elaborado com a normalmente desrespeitada casta Trebbiano; não é o caso aqui, e o vinho elaborado com capricho, usa sistema de soleras para obter apenas 450 garrafas ao ano; foi um privilégio poder bebê-lo e só tenho de agradecer ao Andrea por essa oportunidade inesquecível; com cor amarelo ouro velho, brilhante e um teor alcoólico de 16,5%, apresenta leve oxidação, aromas de casca de laranja e melão Cantaloupe, com um corpo de halterofilista. Um verdadeiro gran finale!
Oscar Daudt
28/02/2014 |
Vídeo da prova |
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