
Dom Lourenço de Almeida foi um nobre português que sempre contou com a boa vontade da Corte de Lisboa. Enviado ao Brasil, foi governador de Pernambuco, de 1715 a 1718, e posteriormente, governador das Minas Gerais, de 1721 a 1732. Nesse ano, retorna a Portugal e constrói a Quinta Nossa Senhora da Conceição da Lapa, em 1733, passando a produzir vinhos na nova propriedade.
A quinta permaneceu com os descendentes de Dom Lourenço até a Revolução dos Cravos, quando então passou a ser administrada pelos camponeses, interrompendo a produção de vinhos. A experiência não foi muito positiva e, em 1989, José Costa adquiriu parte da Quinta, incluindo a histórica sede. Rebatizou-a com o abreviado nome de Quinta da Lapa e passou a investir na produção de vinhos e no enoturismo.
Dos 80 hectares adquiridos, 30 foram destinados à plantação de uvas: as brancas Arinto e Tamarez, e as tintas Touriga Nacional, Aragonês, Castelão, Trincadeira, Alicante Bouschet, junto com as internacionais Syrah, Merlot e Cabernet Sauvignon.
Para comandar a enologia, a vinícola conta com um dos nomes mais prestigiados de Portugal: Jaime Quendera, enólogo que, dentre outras, assina os vinhos da Casa Ermelinda Freitas e da Adega de Pegões.
Esta semana, a produtora Sílvia Canas da Costa (foto à esquerda), filha do proprietário, esteve no Rio de Janeiro e apresentou seus vinhos para um pequeno grupo de apreciadores.
Sílvia nos apresentou 4 vinhos que já estão sendo importados para o Brasil (pela Porto Mediterrâneo) e mais 2 vinhos que não constam da carteira brasileira.
Os vinhos inéditos foram o Quinta da Lapa Espumante Bruto 2011, um 100% Arinto, com elegante e duradoura perlage e aromas florais, e o TT 2012, um inesperado corte de Touriga Nacional vinificado em branco com Tamarez, uma antiga variedade do sul de Portugal. Uma bela cor amarelo-palha, enfeitada com nuances rosadas fazem o cenário para a mineralidade e bela acidez embalada por aromas cítricos. Mas não adianta sonhar, pois como eu disse, o vinho não foi trazido para o Brasil. Pelo menos por enquanto...
A prova continuou com 4 tintos, todos eles disponíveis em nosso mercado. O primeiro, Quinta da Lapa Syrah 2010: esta é uma casta cada vez mais utilizada no sul de Portugal e uma das especialidades do enólogo. Com deliciosos aromas florais e de ameixa, tem força e frescor e, embora repouse 12 meses em barricas de primeiro uso, a madeira é uma leve referência dentro do elegante conjunto. O vinho seguinte causou uma inesperada polêmica: o Quinta da Lapa Merlot 2010 foi decretado como prejudicado pela produtora que garantia que seu vinho era muito melhor do que aquele que estava sendo servido. Bobagem, o vinho era ótimo, com muita fruta e bela estrutura. E se ele pode ser ainda melhor, não vejo a hora de conferir.
O Quinta da Lapa Touriga Nacional Reserva 2012 foi o famoso infanticídio, mas mostrava que tem tudo para melhorar - e muito - com o passar dos anos. Finalmente, um espetacular - e caro - Quinta da Lapa Reserva DOC 2010, corte de Touriga Nacional, Merlot e Aragonês que estagia 12 meses em meias-pipas de carvalho francês e americano. Suculento, com excelente estrutura e taninos agradáveis, mais uma vez mostrou a maestria com que o enólogo dosa a madeira, que aqui aparece como uma mera coadjuvante, deixando a fruta dar as cartas.
Os 4 vinhos tintos possuem rótulos exatamente iguais, só mudando a casta. Até o Touriga Nacional que é Reserva - enquanto o Syrah e o Merlot não são - tem essa palavrinha escrita em fonte tão miúda que passa desapercebida para o consumidor, parecendo da mesma linha. Só que os vinhos têm preços que variam de R$69 a R$156, o que pode atordoar o cliente com tal diferença para vinhos que, à primeira vista, são semelhantes. Que isso me pareceu confuso, ah! pareceu...
Oscar Daudt
10/03/2014 |