Para conhecer melhor o mundo
The Wine Institute é uma associação de mais de 1.000 vinícolas californianas dedicada a promover políticas públicas pelo interesse da indústria. Uma de suas missões é a de prover os associados com informações a respeito dessa atividade econômica.

Recentemente, o Instituto publicou uma interessante estudo sobre o consumo de vinhos, em nível mundial, classificando 223 países segundo o consumo per capita em 2011. As surpresas foram muitas.

O EnoEventos sempre em busca de disseminar as informações referentes ao vinho para nossos leitores - e para a atividade econômica como um todo - aproveitou essa divulgação para analisar com lentes mais focadas os números apresentados.

Conheçam um pouco mais como se comporta o vinho pelo mundo!

Oscar Daudt
26/02/2014
Os 30 países com o maior consumo per capita
A classificação divulgada pelo The Wine Institute causou uma certa surpresa ao trazer em primeiro lugar o pequeno estado eclesiástico do Vaticano. Todos já ficam imaginando um grande orgia etílica ocorrendo na Basílica de São Pedro.

Mas é bom lembrar que em 2011, quando os dados foram levantados, o Papa Francisco ainda não havia assumido o controle da Igreja. Pode-se esperar, para as estatísticas dos próximos anos, um aumento no consumo de Malbec's na Santa Sé.

Há uma característica comum entre os 4 primeiros colocados na tabela abaixo: são todos micro-países que, embora tenham alto consumo per capita, são insignificantes para a indústria mundial do vinho. A coisa só começa a ficar séria na quinta colocação, ocupada pela França, ainda posicionada como o primeiro país importante em termos de consumo por habitante.

Como estou relacionando apenas os 30 mais bem colocados, o Brasil não fica nem perto de aparecer nesta tabela. Conforme os mais curiosos podem conferir no link a seguir, onde se apresenta a classificação completa, nosso país ocupa uma decepcionante 104ª colocação. Também, pudera! Com os preços que temos por aqui...

Para obter a classificação completa, com o consumo dos 223 países pesquisados, basta acessar a planilha Excel clicando aqui.
A classificação dos principais países
O levantamento efetuado pelo Wine Institute é bastante abrangente, incluindo micro-países e até mesmo ilhas que nem países são. A consequência disso é uma classificação bastante poluída de informações totalmente desimportantes para a indústria do vinho. Afinal, de que serve saber o consumo per capita do pequeno Vaticano, ou da Ilha Norfolk, pertencente à Austrália?

Para apresentar, então, uma classificação mais focada, decidimos realizar uma seleção dos dados da tabela original e apresentar apenas os países cuja população fosse de, pelo menos 3 milhões de habitantes. Com isso, a quantidade de países baixou de 223 para 134, resultando em uma tabela bem mais útil para a análise. Só aparecem aqueles que realmente importam.

Mesmo nessa tabela, a posição do Brasil é modestíssima, colocando-se em 51ª colocação dentre os 134 países. Perdemos para países tumultuados, como Angola, para países empobrecidos, como a Argélia, e até mesmo de países muçulmanos, onde não se bebe álcool, como os Emirados Árabes Unidos.

Claro que isso não deve ser surpresa para ninguém, pois com os vinhos vendidos a preços absurdos em nosso país, não há mesmo como aumentar o consumo.
Os países com o maior crescimento de consumo
Para organizar a classificação dos 10 países com o maior crescimento de consumo, de 2008 a 2011, partimos da relação das 134 nações com mais de 3 milhões de habitantes, desconsiderando os pequenos estados. Além disso, fixamos um consumo per capita, em 2008, de no mínimo 1 litro/habitante, com o intuito de nos concentrarmos apenas nos jogadores importantes.

Pois se há uma boa notícia para nós, brasileiros, é constatar que apresentamos o 6º maior crescimento de consumo per capita do mundo, com um aumento de 23,29% de 2008 para 2011. Não é exatamente grande coisa, já que nossos níveis de consumo são modestos e 23% de pouco é também pouco. Mas sinaliza uma tênue luz no fim do túnel.
Os países com a maior queda de consumo
Para a construção da classificação dos países com as maiores quedas de consumo, utilizamos os mesmos critérios da tabela anterior: apenas países com pelo menos 3 milhões de habitantes e apenas aqueles com um consumo de pelo menos 1 litro/habitante em 2008.

Mostrando como o consumo de vinhos é sensível à situação econômica de um país, aparecem na relação países que enfrentaram graves crises nesses anos, como a Grécia, a Espanha, a Itália, a Argentina e a Rússia.

E o que parece ser mais uma boa notícia para o Brasil, o Paraguai apresenta a segunda maior queda de consumo per capita, o que pode representar um melhora no controle do contrabando de vinhos que costuma entrar pela fronteira desse país. Um bom sinal!

O consumo total
Como temos a população total e o consumo per capita em 2011, é fácil calcular o consumo total e foi o que fizemos, apresentando os 30 países de maior consumo de vinhos no mundo.

Em função da enormidade de sua população, o Brasil fica bem posicionado nessa tabela, ocupando uma honrosa 15ª classificação. Ainda assim, chama a atenção estarmos posicionados bem atrás da Romênia e da Austrália, países com população equivalente a um décimo da nossa e que consomem bem mais do que nós.


Comentários
Osvaldir Castro
Professor Universitário e enófilo
São José do Rio Preto
SP
26/02/2014 Oscar, mais uma vez você nos oferece um excelente material informativo. Obrigado.
Luiz Marcio Malzone
Aposentado
Rio de Janeiro
RJ
26/02/2014 Caro Oscar

Pelo que entendi, no consumo per capita, estamos lá em baixo na tabela. Mas na quantidade total bebida, estamos num honroso 15º lugar. Isso significa que poucos bebem, não é? Mas os que bebem, bebem muito bem!!

Abraços
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
27/02/2014 Em um país gigantesco como o nosso, com diversidades regionais, multicultural, com desníveis gritantes em educação e renda de sua população, a apuração de qualquer consumo deve ser considerada setorialmente, a fim de embasar as estratégias de mercado para cada segmento analisado.

A análise que faço baseia-se em informações coletadas em levantamentos dos censos do IBGE, como a tabela ao lado que, a princípio, representa a população em idade de trabalhar, e que para o consumo de vinho considerarei a coluna 20 a 64 anos. Com o surgimento da nova classe média, a classe social de renda C representa hoje 56% de nossa população, enquanto as classes de renda A e B representam 6%, e as classes de renda D e E representam 38%.

Para hipótese deste cálculo, considerarei que as classes A, B e C consumam vinhos finos, e as classes D e E consumam vinhos de mesa, e temos:

  • população em idade de trabalhar de 20 a 64 anos das classes A, B e C em 2013 = 62% x 119,2 milhões = 73,9 milhões
  • população em idade de trabalhar de 20 a 64 anos das classes D e E em 2013 = 38% x 119,2 milhões = 45,3 milhões
  • consumo total de vinhos de mesa em 2013 pelo Ibravin ~ 200 milhões de litros
  • consumo total de vinhos finos pelo Wine Institute em 2011 e Ibravin 2013-~ 370,3 milhões - 200 milhões ~ 170,3 milhões de litros

    Portanto,

  • consumo de vinhos finos per capita ativa de 20 a 64 anos das classes A,B e C em 2013 ~ 170,3 milhões de litros / 73,9 milhões ~ 2,3 l/hab
  • consumo de vinhos de mesa per capita ativa de 20 a 64 anos das classes D e E em 2013 ~ 200 milhões de litros / 45,3 milhões ~ 4,4 l/hab
  • consumo total de vinhos per capita ativa de 20 a 64 anos das classes em geral em 2013 = 370,3 milhões de litros / 119,2 milhões = 3,1 l/hab

    As projeções de crescimento, até o ano de 2050, da população brasileira em idade de trabalhar, não são nada animadoras para o desenvolvimento econômico e social que necessitamos; portanto, cada vez mais é urgente para o país investir em formação educacional e aculturamento , que por consequência esta população terá conhecimento e renda para consumir mais vinhos, e os finos.

    Inchalah!!

    Interessantíssima sua análise, Rafael.

    Viajando sobre ela, eu achei bom fazer dois exercícios alternativos. Em ambos vou considerar o total da população, para que os resultados obtidos possam ser comparados com os dados dos outros países.

    Levando em conta que a classe C é definida como tendo renda familiar de 4 a 10 salários mínimos, vou alterar o padrão de consumo em duas hipóteses.

    Na primeira hipótese, eu consideraria a metade da classe C (C1) consumindo vinhos finos e a outra metade (C2), vinhos de mesa. Com isso, chegaria aos seguintes resultados:

  • consumo de vinhos finos per capita das classes A, B e C1 em 2013 ~ 170,3 milhões de litros / 69,9 milhões ~ 2,5 l/hab
  • consumo de vinhos de mesa per capita das classes C2, D e E em 2013 ~ 200 milhões de litros / 135,7 milhões ~ 1,5 l/hab

    Na segunda hipótese, colocaria toda a classe C como consumidora de vinhos de mesa, o que - a meu ver - parece mais atrelado à realidade. Neste caso, os números de consumo seriam:

  • consumo de vinhos finos per capita ativa de 20 a 64 anos das classes A e B em 2013 ~ 170,3 milhões de litros / 12,3 milhões ~ 13,85 l/hab
  • consumo de vinhos de mesa per capita ativa de 20 a 64 anos das classes C, D e E em 2013 ~ 200 milhões de litros / 193,4 milhões ~ 1,0 l/hab

    A segunda hipótese é a minha preferida e nos remete não à Belíndia, mas sim à Conganda: as classes A e B consumindo vinho a níveis similares aos da Irlanda e as classes C, D e E bebendo como se bebe no Congo.

    Abraços, Oscar
  • Aguinaldo Aldighieri
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    27/02/2014 Oscar

    A colocação dos três primeiros em consumo per capita tem explicação:

  • em Luxemburgo, não há impostos sobre vinhos, o que motiva franceses, alemães, belgas e holandeses que residem não muito distante do Grão-Ducado a lá se abastecerem, principalmente nos finais de semana;

  • o Principado de Andorra, encravado nos Pirineus, é "porto livre", isto é, não tem impostos de consumo, o que atrai franceses e espanhóis, além dos turistas (cerca de 10 milhões por ano) que circulam entre a Espanha e a França para as compras alí;

  • quanto ao Vaticano não tenho informações concretas, mas parece-me que há alí um único mercado, com preços reduzidos, onde se abastecem apenas os cerca de 2 mil funcionários da Santa Sé; mas é lógico que eles compram também para outros romanos.

    Abs e parabéns pela matéria.
  • Osmir Ávila Abrantes
    Engenheiro e Enófilo
    Cascavel
    PR
    27/02/2014 Oscar

    Pela minha análise, o grande responsável pelo consumo no Brasil acredito que sou eu!! hahahaha

    Abraços
    Osmir

    E eu também faço a minha parte... Abraços, Oscar
    Valdiney C Ferreira
    VINISA/FGV Wine Business
    Rio de Janeiro
    RJ
    28/02/2014 Caro Oscar

    Estou contente com a frequência que o EnoEventos vem ultimamemnte fazendo matérias sobre dados de mercado do vinho no Brasil e no mundo. E esta de consumo é vital para quem se interessa pelos negócios do vinho.

    Sobre o assunto abordado uso os dados de 2012 do DECEX, IBRAVIN, IBGE para falar em consumo per capita da população geral ou qualquer corte que se queira fazer: população adulta, diferentes classes, etc. Aí trabalho com os dados abaixo em milhões de litros:

    População Geral 2012 (IBGE): 193,946 milhões



    Fiquei na dúvida com o dado utilizado por vocês, de consumo de 170 milhões de vinhos finos! Seriam apenas 140 milhões, se considerássemos que toda a produção + importação fossem consumidos. Sabemos que isto, infelizmente, não é verdade nem para os importados. Tem muito estoque de vinhos nas nossas vinícolas e importadoras.

    A saída para este consumo mínimo continua passando por melhoria de renda, política fiscal e uma redução em margens de lucros de todos envolvidos na cadeia de negócios do vinho. O resto até que fazemos direitinho!

    Bom carnaval
    José Paulo Schiffini
    Enófilo da velha guarda
    Rio de Janeiro
    RJ
    28/02/2014 Meus amigos, fiquei curioso com estas análises... Me pergunto: quanto eu bebi até agora que completo 70 anos? Oscar, você tem algum modelito para calcular?

    Eu comecei em casa, aos 8 aninhos, misturando Brunellos com água, sob orientação e monitoramento direto dos pais... Digamos nesta fase: 1 x 3 partes de vinho com água e assim foi aumentando gradativamente, aos 14 era 1 x 1 x 7 , uma taça, por dia por semana. Aos 20 acho que extrapolava devia ser 1 x 1, uma garrafa por noite, segue assim até os 30.

    Aí eu casei esbelto, atlético com 70 quilos e a Cecília, excelente cuoca que é me segurou no vinho; passei à normalidade 1 x 2, uma garrafa para dois, mas eu engordei...

    O melhor vinho que bebi foi um Petrus 82; naquela ocasião acho que cometemos um homicídio, o vinho era jovem ainda, mas nós não entendíamos nada de vinho... Era ir ao Lidador da Assembléia e pedir ao vendedor Agostinho: qual o melhor hoje?

    Depois conheci o Danio Braga, no velho Enotria da Constante Ramos (ele era um parigina, de terno pied de poule). Aí, me perdí na ABS, era muito vinho....

    Agora o coração precisa ser melhor cuidado, bebo pouco, e aprecio garimpar vinhos bbb para comprar de caixa...

    Tenho inveja de Luxemburgo e fico preocupado com a queda da Itália.... Os americanos prefiro não comentar: eles transformam tudo em Business, com contrato pré-marital e tudo... Eu bebo vinho por Prazer, não para cumprir metas.

    Agora a minha tchurma do Osmar Buzin, desenvolveu uma Birra: Amara de ter 10,5*GL e amargor 100 unidades, que é um show, um quase vinho. Só não é vinho porque para desespero dos amantes das cervejas, o vinho tem prazo de validade indeterminado e as cervas, dificilmente aguentam 1 ano...

    Mas adorei este estudo do Wine Institute, que você publicou. Parabéns...
    Elson Bernardes de Oliveira
    Enófilo
    Santo André
    SP
    05/03/2014 Como você mesmo disse, Oscar, a culpa é dos altos preços dos vinhos no Brasil. Recentemente eu tive uma grande surpresa encontrando, aqui em Santo André, vinhos da Gran Legado por preços espetaculares! Mas temos que ter sorte para encontrar vinho nacional com preço bom.

    Abraços e parabéns.
    Juan Jose Verdesio
    ABS vicepres. Brasilia
    Brasília
    DF
    06/03/2014 Gostei da análise, Rafael Mauaccad. Eu já fiz cálculos semelhantes e cheguei a conclusões similares. Concordo também que o país, dada a desigualdade social, é uma Conganda em matéria de vinho e também em muitas outras coisas.

    O que discordo é sobre as definições do que é classe média. Classe média na Europa não tem empregada doméstica (isso está mudando no Brasil) e só tem um lugar com vaso sanitário e outro separado com pia e banheira com chuveiro manual. Tem serviços públicos de saúde, educação, e segurança sem tem que pagar privadamente. E gasta muito menos tempo em deslocamentos.

    Outro paradoxo é que eu, por exemplo, professor de universidade federal e a minha mulher psicóloga nos localizamos na classe A1 do IBGE, coisa que nunca poderia ser possível na Europa. A Serasa Experian usa como definição de classe média rendas familiares mensais entre 1964 e 3094 reais (muito mais realista do que as margens do governo) e a divide em promissores, batalhadores, experientes e empreendedores.

    Vejam isso aqui que pode ser muito útil para destrinchar melhor o padrão de consumo e verão que o consumo de vinho fino está ainda muito mais concentrado do que poderíamos pensar: clique aqui.
    Jackson Fernando Packer
    Engenheiro Civil - Enófilo
    Timbó
    SC
    10/08/2014 As tabelas de consumo per capita já estão mais atualizadas ou 2011 é o ano mais atual?

    2011 é o dado mais recente disponível. Oscar
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)99636-8643 - [email protected]