
De Saint-Tropez a Garibaldi |
A bela e charmosa produtora Valérie Rousselle, nascida em Saint-Tropez, ganhou-me rapidamente. Contou-me que seu sonho era produzir espumantes rosés no Brasil. Aquilo que, inicialmente, pareceu-me apenas uma gentileza para com os nativos, na verdade revelou-se bem mais do que um simples sonho. No dia seguinte, a produtora seguiria para Garibaldi, para conversar com Philippe Mével, enólogo da Chandon, em busca de orientações para aquisição de um vinhedo na Serra Gaúcha. Isso soa como música aos meus ouvidos... É a longa tradição francesa encontrando os vinhedos jovens do Brasil.
Valérie contou-nos que na Provence foi elaborado, há 2.600 anos, pelos romanos, os primeiros vinhos rosés do mundo. E o próprio Chateau Roubine tem uma história que se perde no tempo, havendo registros do século XIV, quando ele pertencia à Ordem dos Templários.
Mas pulando bastante para a história mais recente, a propriedade foi adquirida pela família de Valérie há 20 anos e ela, cheia de entusiasmo, contou-nos que irá fazer uma grande festa comemorativa, em julho, com a apresentação de 100 cantores da Moldávia interpretando Carmina Burana em meio aos vinhedos. Que espetáculo emocionante será!
Situado na denominação Côtes de Provence, o Chateau Roubine é um dos 18 Crus Classés da classificação de 1955 que exibem essa honraria. E Valérie busca fazer jus a esse título elaborando vinhos gastronômicos, de pura elegância e com requintes de produção para apresentar a imbatível cor que caracteriza os vinhos da região. Diz a produtora que o segredo da delicada cor de seus rosés é a colheita noturna, quando as cascas estão mais frias, permitindo uma extração de cor mais suave.
Mas a vinícola não se resume apenas aos rosés e investe também na produção de brancos (10% do total) e tintos (20%). E no almoço oferecido à imprensa, no Fasano, tivemos a oportunidade de provar todas as cores.
O coquetel de entrada foi harmonizado com o Chateau Roubine Rosé Cru Classé 2012, com uma lista de castas que é quase uma enciclopédia: Cinsault, Grenache, Cabernet Sauvignon, Carignan, Tibouren, Syrah e Mourvèdre. Mas Valérie consegue dosar essa confusão toda com uma cor atraente, aromas delicados e uma boca de excelente acidez que o faz companhia ideal para muitos pratos leves e estivais.
Mas a coisa fica muito mais séria com o outro rosé servido, o surpreendente Inspire 2012, elaborado com apenas uma casta, a ancestral e desconhecida Tibouren, que Valérie se orgulha de haver salvo da extinção. Quando assumiu os vinhedos da propriedade, encontrou apenas meio hectare dessa temperamental variedade e hoje exibe 6 hectares. A casta é complicada, suscetível a doenças e irregular em rendimento, mas vale a pena o esforço: seu caráter fumado e mineral, temperado com aromas florais, resulta em um vinho inesquecível e particularmente lindo.
O Chateau Roubine Blanc Cru Classé 2011 é uma delícia: elaborado com um corte de Ugni Blanc, Sémillon, Rolle (Vermentino) e Clairette, é bastante tropical, com bela estrutura, fresco e ideal para os dias calorentos do Rio de Janeiro, acompanhando frutos do mar.
Mas, veja bem, pensou Provence, pensou rosé. Com mais um pouco de elasticidade mental, o branco entra na equação. Mas Provence tinto?!? É a última coisa que a gente pensa, pero que los hay, los hay... E pudemos testemunhar sua existência com o Chateau Roubine Rouge Cru Classé 2011, um corte de Syrah, Cabernet Sauvignon, Grenache e Carignan. Embora reconhecendo a dificuldade de convencer os consumidores a escolher esse vinho, a importadora World Wine apostou em trazê-lo para os trópicos. E ele não fez feio escortando uma geométrica Paleta de Cordeiro com Batatas.
Oscar Daudt
12/03/2014 |