Um mundo de estatísticas
A Universidade de Adelaide, na Austrália, realizou um abrangente levantamento de dados, patrocinado pela Grape and Wine Research Development Corporation, sobre os vinhedos em todo o mundo.

No total, foram pesquisados os vinhedos de 44 países, mais de 500 regiões vinícolas e mais de 2000 variedades de uvas. Os dados levantados correspondem aos anos de 2000 e 2010, com algumas informações disponíveis também para o ano de 1990.

O melhor de tudo é que o estudo foi disponibilizado, livremente, para ser consultado por qualquer internauta, com uma riqueza de detalhes impressionante. E, dados estatísticos são a arma mais importante que o EnoEventos lança mão para fazer com que o mercado de vinhos, no Brasil, avance com bases cada vez mais consistentes.

Fizemos uma criteriosa análise dos dados e os transformamos em informação, com apresentação em formato facilmente digerível por nossos leitores. É uma ferramenta essencial para quem quer melhor compreender o mercado internacional de vinhos.

Confiram esses preciosos dados!

Oscar Daudt
07/01/2014
As mais plantadas
Pergunte a seus amigos apreciadores de vinho qual a variedade mais plantada no mundo e, provavelmente, a metade deles irá responder a espanhola Airén. A resposta está errada, mas a culpa é das estatísticas pouco atualizadas. Essa casta foi realmente a mais plantada até o ano 2000, mas neste novo estudo, ela já aparece na terceira colocação, atrás das estrelas internacionais Cabernet Sauvignon e Merlot.

Nas primeiras posições da tabela, chama a atenção a meteórica ascenção da Syrah, que em 1990 estava enraizada em 35 mil hectares e agora, 20 anos depois, ocupa nada menos do que 185 mil hectares, saltando da 35ª para a 6ª colocação.

A tabela abaixo apresenta as 50 uvas mais plantadas em 2010, exibindo também as áreas plantadas em 2000 e 1990. Mas se você tiver a curiosidade de conhecer a relação completa, com a classificação de nada menos do que 1.469 variedades, basta clicar aqui para obter a planilha Excel.

Maiores avanços Maiores recuos
Considerando a posição que ocupava entre todas as castas no ano 2000 e a posição assumida no ano de 2010, nota-se que algumas uvas tiveram um considerável aumento em suas posições relativas, representando muitas vezes tendências de consumo, outras vezes peculiaridades regionais.

Penso que esteja no senso comum que a uva que mais tenha avançado nesses 10 anos seja a Petit Verdot. Muito embora tenha subido 145 posições na tabela, ainda assim ocupa uma modesta 90ª colocação dentre todas as castas. Mas revela uma tendência de consumo, onde muitos produtores e consumidores a elevaram à condição de uva "da vez", deixando de lado sua fama de uva de corte para assumir-se como a varietal da moda.

Já a desconhecida Feteasca Regala é a uva mais plantada na Romênia e seu crescimento apenas revela uma tendência localizada naquele país.

O crescimento da Grillo, casta siciliana de alta qualidade, está atrelado à cada vez maior popularidade dos vinhos dessa ilha italiana no mercado mundial.

Assim como a classificação relativa pode mostrar as estrelas ascendentes, por outro lado revela também as uvas que estão sendo abandonadas pelo mercado.

A desconhecida Pamid é uma casta de qualidade duvidosa, largamente plantada na Bulgária, que deve estar em busca de variedades que possam produzir vinhos mais competitivos.

A Pedro Ximenez é ícone na região de Montilla-Moriles, na Espanha, onde é utilizada para a elaboração de vinhos melosos e de baixa acidez. Também é utilizada na região de Jerez, para o mesmo propósito.

A terceira maior queda também vai para a Espanha, com a casta Chelva, muito mais utilizada como uva de mesa do que para a elaboração de vinhos, muito embora seja uma das castas autorizadas para a DO Ribera del Guadiana.

Área plantada por país
Embora tenha sofrido uma queda violenta em sua área plantada, a Espanha continua a ser o país com a maior área de vinhedos em todo o mundo, seguida da França e da Itália. O Velho Mundo ainda comanda...

No entanto, é interessante observar os dois subtotais, ao final da tabela abaixo, que demonstram que, enquando o Velho Mundo vem diminuindo sua área plantada, com uma queda de 10% nos últimos 10 anos, o Novo Mundo segue o caminho inverso e apresenta um crescimento de 12% no mesmo período.

Maiores crescimentos Maiores perdas
À exceção da República da Geórgia, os demais países que apresentaram crescimento em sua área plantada são todos do Novo Mundo. O exemplo mais significativo é o dos Estados Unidos, que apresentou no período de 10 anos um estonteante aumento de sua área plantada de 30%. Isso significa, com certeza, problemas à vista para os produtores europeus que contam com a força do mercado americano para turbinarem suas exportações.

A Península Ibérica lidera as perdas de área de vinhedos, com a Espanha em 1º lugar e Portugal em 3º.

Contraditoriamente, enquanto sua uva mais disseminada, a Feteasca Regala, apresenta um marcante desempenho, com um dos maiores crescimentos relativos, a Romênia vê sua área plantada ser reduzida em um quarto da situação do ano 2000.

A importância das uvas brancas
É interessante comparar os diversos países em função da área que dedicam às castas tintas e às castas brancas. Enquanto há países - notadamente do Leste Europeu e da antiga União Soviética - em que a cultura de castas brancas é bastante superior à das tintas, existem aqueles - principalmente os países do Cone Sul da América Latina, nós incluídos - em que as castas brancas representam percentuais desprezíveis. Confiram a tabela abaixo:

As uvas no Brasil
A lista das castas mais plantadas em nosso país não é nada edificante: as seis uvas com maior área de vinhedos são americanas ou híbridas. É claro que grande parte dessa produção é destinada à elaboração de sucos - indústria cada vez mais importante em nosso país - mas ainda há um percentual considerável que se destina aos tão populares vinhos de mesa.

A variedade vinífera mais plantada, que aparece em 7º lugar, é a Moscato - utilizada para nossos premiados espumantes - seguida pela Cabernet Sauvignon.


Comentários
Ronaldo M. Vilela
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
07/01/2014 Oscar

Parabéns! Um trabalhão! Literalmente também! Os números não mentem jamais!

Abraço.
Ronaldo M. Vilela
Carlos Stoever
Advogado e enófilo
Porto Alegre
RS
07/01/2014 Grande Oscar!

Já bebi muita coisa, como todos aqui do blog, e nunca havia ouvido falar na tal Airén!

Essa merece uma matéria... Como é esta uva?

Sempre aprendendo! Forte abraço!

Na verdade, a Airén não merece uma matéria, não. Ela é utilizada para a elaboração de brandies e de vinhos de qualidade não muito destacada. Abraços.
Osvaldir Francisco Castro
Professor Universitário
Sao Jose do Rio Preto
SP
07/01/2014 Daudt, mais uma vez você nos brinda com um magnifico trabalho informativo. Quanta informação!

E quanta surpresa! Valeu.
Carlos Alberto Amorim Junior
ABS - Brasília
Brasília
DF
07/01/2014 Parabéns, Oscar. Mais um "gol de placa".
Cezar Bagesteiro
Armazem Rep
Lauro de Freitas
BA
07/01/2014 Parabéns pelo trabalho, muito interessante!
Luiz Otávio Peçanha
Enófilo
Piracicaba
SP
07/01/2014 Prezado Oscar,

Só vi os dados superficialmente e posso estar falando besteira, mas do que observei não bate.

Pelos dados da OIV temos em torno de 7600 mha (milhares de hectares) de videiras plantadas no mundo e na somatória deste levantamento não passam de 5000 mha. A China com 518.000 ha já é a quarta area mais plantada no mundo, e a Turquia com 505.000 ha é a quinta, a frente dos EUA com 403.000 ha, e ambas praticamente não aparecem nesta estatistica. No Brasil temos pelo menos 85.000 hectares de vinhedos e nos dados constam somente 50.000.

Desculpe por indagar.

Grande abraço,
Luiz Otávio

Luiz Otávio, não tenho acesso aos dados da OIV, portanto não tenho como compará-los. A primeira coisa a conferir é a data dos dados. Estes da Universidade de Adelaide são de 2010. Os da OIV são de quando?

Outro aspecto que deve ser considerado é a quantidade de países pesquisados. Neste da Universidade foram levantados dados de 44 países. Os da OIV foram quantos?

Quando há dois ou mais levantamentos utilizando fontes diversas, dificilmente os dados conseguem ser iguais. E, não sendo, não temos condições de afirmar qual deles mais se aproxima da realidade.

Independente disso, a riqueza e a transparência dos dados da Universidade fazem com que eles sejam inestimáveis para o conhecimento.

Abraços, Oscar


Oscar,

Sem duvida que é um grande trabalho e obrigado por publicar para nós.

Os dados da OIV são de 2009.

Acredito que descobri a diferença dos dados, pois num é considerado o total da area de vinhedos e nos dados que compilou é considerado as area plantada de videiras para a produção de vinhos.

Desculpe a confusão.
Grande abraço,
Luiz Otávio
Aguinaldo Aldighieri
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
07/01/2014 Oscar

Como sempre, um belo trabalho seu; mas estranhei algumas informações da Universidade australiana:

  • omissão, nas 50 primeiras, da Nebbiolo do Piemonte e da Primitivo di Manduria muito plantada na Puglia;
  • enorme quantidade de castas espanholas nas 50 primeiras;
  • aparecem a Garnacha Tinta e a Monastrell espanholas mas não a Grenache Noir e a Mourvèdre do Rhône, que são as mesmas uvas respectivamente;
  • aparece a Cot francesa mas não a Malbec argentina, idem.

    Um abraço
    Aguinaldo

    Aguinaldo, vamos às explicações:

  • o estudo eliminou os sinônimos e cada uva aparece apenas uma vez
  • a Cot engloba a Malbec
  • a Tribidrag (nunca tinha ouvido falar nesse nome) engloba a Primitivo a Zinfandel
  • a Garnacha engloba a Grenache
  • a Monastrell engloba a Mourvèdre
  • na tabela completa, a Nebbiolo aparece na 101ª posição

    Abraços, Oscar
  • Paulinho Gomes
    Enófilo, empresário
    Visconde de Mauá
    RJ
    07/01/2014 Oscar, feliz ano novo para você.

    A matéria é muito rica, trazendo informações globais e específicas sobre o mundo do vinho. Tenho certeza que foi uma bela contribuição, um presente de 2014, para todos os profissionais que trabalham o vinho.
    Tomaz Elias Robinson
    Enófilo
    Campinas
    SP
    08/01/2014 Oscar,

    Parabens pelo trabalho, e muito grato por mais uma vez despertar minha curiosidade. Há algumas variedades que não conheço e terei que provar.
    José Grimberg
    Bergut
    Rio de Janeiro
    RJ
    08/01/2014 Oscar,

    Parabéns pela matéria. Muita informação importante.
    Rafael Mauaccad
    Enófilo
    São Paulo
    SP
    08/01/2014 Oscar,

    A imediata correlação que faço ao analisar estes quadros é relativa à desfasagem atual de 8% entre a evolução da produção e consumo mundial de vinhos, apresentada pelo jornal inglês Telegraph em outubro p.p, baseada no relatório do Morgan Stanley, onde aponta que "vai faltar vinho nas prateleiras"!! Vide o gráfico postado na matéria ao final.

    O acréscimo de consumo deve-se ao incremento de renda das populações dos países emergentes, como também ao acréscimo do número de consumidores de vinho nos EUA, como noticiado pela revista Wine Spectator na edição de 31 Oct. É a primeira vez que este número empata com o de consumidores de cerveja naquele país. É interessante notar que o acréscimo de consumo norte americano foi acompanhado pelo acréscimo de sua área plantada.

    Cabe ao setor vinícola brasileiro aproveitar mais esta oportunidade, e incrementar a sua área plantada e produção, principalmente para espumantes, fincando posição no concorrido mercado norte americano.

    Posto a matéria, na íntegra, publicada pelo Estadão para leitura (clique aqui).

    Parabéns pelo seu excelente informe.
    Marta Maria Esperanca
    Professora
    Rio de Janeiro
    RJ
    08/01/2014 Oscar,

    Adorei a matéria. Vou arquivá-la para futuras consultas.

    Saudades ... bjo.
    José Luiz Giorgi Pagliari
    Engenheiro químico
    São Paulo
    SP
    09/01/2014 Prezado Oscar,

    Parabéns por trazer à tona essas informações, apresentadas em tabelas de forma didática.

    Sempre vai existir discussão nessa área de conhecimento: são variedades mal identificadas, seja por tradição local, seja por ignorância técnica. Lembra-se da Carmenère no Chile? E os vastos vinhedos da antiga União Soviética e China, que costumam ficar fora ou estarem desatualizados nas estatísticas oficiais?

    Acredito que todo trabalho sério acrescenta informação ao universo do saber sobre o assunto. Louvável é a disponibilização dos dados, que pode ser baixado em www.adelaide.edu.au/press/titles/winegrapes

    Com obras como essa e a da Jancis Robinson, Julia Harding e Jose Vouillamoz, o desconhecimento sobre o assunto vai diminuindo...

    Como observação ao ponto do Luiz Otávio referente à Turquia, e em parte aos EUA, nas estatísticas da OIV entram as áreas de uva não utilizadas para vinho. Lembro que a Turquia é grande produtora de uva passa. As áreas para produzir as California Sun-Maid raisins também devem completar os números.

    Abraços,
    Pagliari
    Rogério Serra
    Enófilo ABS
    Rio de Janeiro
    RJ
    09/01/2014 Caro Oscar,

    Até então, sempre apostei na Airén, como sendo a uva mais plantada no mundo. Esse levantamento realizado pela Universidade de Adelaide me surpreendeu. E viva a bela Cabernet Sauvignon!

    Parabéns pela excelente matéria!

    Abraços,
    RS
    Marcus Dassie
    Professora
    Rio de Janeiro
    RJ
    09/01/2014 Oscar, parabéns, excelente matéria.

    Você diz que o estudo realizado pela Universidade de Adelaide foi disponibilizado, livremente. Você saberia dizer onde posso obtê-lo?

    Marcus, todas os resultados estão disponíveis clicando aqui.
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)99636-8643 - [email protected]