 
António Canto Moniz é um médico-cirurgião residente no Porto, operando seus pacientes durante a semana, mas passando seus fins-de-semana em Viseu, onde sua família está ligada ao vinho há mais de 150 anos. Mas foi apenas em 1990 que ele decidiu levar o negócio a sério, criando a Vinha Paz, nome dado em homenagem a sua mãe, Maria da Paz.
Seus vinhedos são emoldurados pela Serra da Estrela e divididos em 2 parcelas: uma, mais recente, com vinhas de 7 anos, e outra, mais vetusta, com mais de 60 anos. A vinificação é realizada em centenários lagares de granito, construídos por seu bisavô, onde ainda se pratica a pisa a pé.
O renomado crítico português Rui Falcão derrete-se em elogios a essa vinícola: "Não paro de ficar emocionado com os Vinha Paz, um dos melhores produtores do Dão."
A melhor casta branca de Portugal |
Esta semana recebi, como divulgação da loja Porto di Vino, o Vinha Paz Branco Colheita 2012, um DOC Dão, que é vendido a R$74,00.
A composição do corte é um mistério. A ficha que me foi encaminhada informa que o vinho é elaborado com 60% de Encruzado, mais a colaboração não quantificada da Malvasia Fina, da Verdelho e da Sémillon. No entanto, todas as publicações portuguesas sobre ele não se referem à Sémillon como componente do corte. Como o produtor não tem página Internet - ou, se tem, está muito bem escondida - não tive como confirmar qual a informação é a correta.
Independente desta dúvida, o alto percentual de Encruzado já basta para me encantar. Esta, para mim, é a grande casta branca portuguesa, que cada vez mais vem sendo apresentada em vôos solo, em vinhos com alta mineralidade, grande potencial de envelhecimento e com a estrutura de um gigante. Até hoje não encontrei um único Encruzado que me decepcionasse. Mas este exemplar aqui não é um puro-sangue e quem sabe o que viria pela frente.
Confesso que o nariz não me entusiasmou: trivial, direto, monocromático. Mas ele não faz, de maneira alguma, justiça ao vem pela frente.
Na boca, é um vinho corpulento, de mineralidade extremada, mostrando que a minha querida Encruzado é que dá as cartas neste jogo. A acidez é viva e deliciosa, disfarçando os 14% de álcool, e o comprimento é bem longo, fazendo a festa das papilas. Não há passagem em madeira e as uvas podem se exibir faceiras.
O vinho é novíssimo - 2012 - e por certo um pouco de paz na adega só lhe fará bem. A Encruzado assina em baixo.
Oscar Daudt
05/02/2014 |