
Angelo Barzelloni é um italiano de Alba que vive há 3 anos aqui no Rio de Janeiro, casado com um brasileira. Apaixonado pela gastronomia - como todo bom piemontês - há cerca de 6 meses abriu um restaurante na Conde de Irajá, a mais badalada rua de Botafogo, onde a cada mês parece pipocar uma nova casa.
Para tomar conta das panelas, Angelo convidou seu encaracolado conterrâneo Giuseppe Dalmazzo, que por muito tempo foi chefe de um restaurante no Piemonte. E assim nasceu o Il Borgo del Conte.
A convite de Angelo estive esta semana visitando a casa e fiquei entusiasmado com o que vi - e o que comi... A decoração é despojada, com mesas de madeira sem toalha e paredes de tijolos aparentes, mas de muito bom gosto e extremamente eficaz: a impressão que se tem é de estar entrando em uma típica trattoria italiana (mas sem os presuntos, é claro!).
As opções do cardápio são poucas e boas, com foco nas especialidades italianas e, em particular, piemontesas. E a casa nos preparou uma sequência de degustação com os mais destacados itens. Harmonizando com a decoração, os pratos são apresentados com simplicidade, sem firulas, mas com um requinte de elaboração espetacular. Tudo era muito bem feito, delicioso e com texturas tentadoras.
Por favor, não deixem de pedir como entrada o Flan di Verdure (R$32), um aveludado pudim de abobrinhas que vem acompanhado de creme de parmezão e geleia de peras. Tivemos também uma degustação de dois nhoques - um de Gorgonzola (R$37) e outro de espinafre com queijo Tallegio (R$46) - e ambos, mais uma vez, se desmanchavam prazerosamente na boca. Uma delícia, ou melhor, duas delícias!
Mas o forte da casa, pelo menos agora durante o inverno, é Risotto Mantecato al Fondo Bruno (R$53). Esse tal de Fondo Bruno é um complexo molho de aipo, cenoura, cebola, vinho tinto e Marsala, onde ossos de boi são fervidos durante 6 pacientes horas, para se converter em um espesso caldo celestial. O risotto cremoso em si é uma obra de arte, elaborado com arroz Acquarello, uma especialidade tradicional piemontesa, em que os grãos são envelhecidos com sua casca durante 12 meses. Mas - ATENÇÃO! - essa iguaria só é servida às terças e quartas. Angelo bem que tentou me explicar a razão, mas não dá para compreender o porquê de o melhor prato do restaurante não poder ser experimentado nos outros dias.
A carta de vinhos é enxuta e, praticamente, oferece apenas rótulos italianos, como seria de se esperar. A organização dos vinhos é insólita, com divisão em função dos preços: Dia-a-dia (bem baratos), Democráticos (bom preço), Ocasiões especiais (mais caros) e Dói-no-bolso (os rótulos mais inatingíveis). Um Aglianico a 83 reais foi o que mais me chamou a atenção na seção dos Democráticos.
No entanto, como eu era convidado, a escolha dos vinhos foi feita pela casa e um tanto - digamos - surpreendente. Foram 2 Dolcettos di Dogliani DOCG, do mesmo produtor, o Poderi Luigi Eunaldi, e com preços muito aproximados. O primeiro, da safra 2011, custa R$103 e o segundo, de um único vinhedo, o Vigna Tecc 2009, custa R$114. As semelhanças, no entanto, terminam por aí. Na taça, o segundo vinho se revelou um campeão: com aromas de chocolate, concentrado, carnudo, enérgico e com um longo final. Tudo aquilo que eu nunca pensei que um Dolcetto pudesse ser.
Oscar Daudt
Fotos: Lilian Seldin
26/06/2014
Serviço:
Il Borgo del Conte
Rua Conde de Irajá, 201
Botafogo
Tel: (21)3502-2991
Horário
Terça a sexta, das 19h30m às 23h
Sábado, das 19h30m à meia-noite
Domingo, das 12h30m às 18h |