Matérias relacionadas
Winebrands
Copacabana Palace

Meio a meio
A imagem difusa que eu fazia de Washington, localizado no cantinho noroeste dos Estados Unidos, era de uma terra verde, chuvosa, fértil e fria. Bem, eu não estava de todo errado, mas apenas metade do estado corresponde a essa descrição. Há uma cadeia de montanhas - Cascade Mountains - que corta o território de norte a sul e cria dois climas diametralmente opostos. À esquerda, na costa do Pacífico, ficam as verdes e chuvosas terras, mas à direita o que existe é um quase deserto em que as chuvas raramente aparecem, sendo bloqueadas pelos altos picos nevados que atingem mais de 4.000 metros de altitude. E é nesta metade que se desenvolve praticamente toda a viticultura do estado.

Washington está situado entre os paralelos 46 e 49 e essa localização setentrional levou os primeiros viticultores a apostarem em variedades ditas "do norte", como a Riesling, a Gewürztraminer e a Chardonnay. No entanto, para surpresa geral, as castas que apresentaram resultados excepcionais e se tornaram o emblema da vinicultura do estado, foram as improváveis Cabernet Sauvignon e Merlot, que se transformam vinhos de alta octanagem e sedosa maciez. Atualmente, essas são as duas variedades mais plantadas por lá, superando as pioneiras castas brancas.

Além da falta de chuva, o terreno arenoso da metade leste e o inclemente frio do inverno contribuiram para que Washington nunca tenha sido atacado pela filoxera, mesmo quando o mundo se debatia para controlar a praga.

Para compensar a quase total ausência de chuvas, os viticultores contam com a irrigação a partir dos importantes rios que são alimentados pelo derretimento das geleiras: Columbia, Yakima, Snake e Walla Walla são os mais importantes, sendo bordados pelos vinhedos que acompanham seus cursos.

Vertical privilegiada
Tendo origem no estado, o Ste. Michelle Wine Estates, com 8 vinícolas em Washington (onde é responsável por 2/3 da produção total), 1 no Oregon e 5 na California, é o segundo maior grupo vinícola dos Estados Unidos, atrás apenas para o E.&J. Gallo.

A Columbia Crest é uma das vinícolas do grupo, e elabora estonteantes 14 milhões de garrafas ao ano. Esta semana, seu enólogo Juan Muñoz-Oca esteve no Rio de Janeiro e a importadora Winebrands convidou para um almoço no Cipriani, com direito a uma espetacular degustação vertical do vinho Columbia Crest Reserve Cabernet Sauvignon, das safras 2006, 2007 e 2008. Embora se apresente como varietal Cabernet Sauvignon, o Reserve é sempre cortado com um pouco de Merlot e, às vezes, também com um tiquinho de Cabernet Franc. E esse é um vinho com um currículo destacado, pois sua safra 2005 foi escolhida como o melhor vinho do ano na lista da Wine Spectator Top 100 2009.

É uma pena que essa edição 2005 não tenho feito parte da vertical, mas o que pode se ver, pelos 3 anos apresentados, é uma enorme regularidade entre as safras e pode-se imaginar que a edição premiada não deveria ser muito diferente do que nos foi servido. O enólogo explicou que em Washington não existe o problema de anos bons e anos ruins, já que as condições meteorológicas são sempre excepcionalmente positivas.

Provar esses vinhos é uma experiência inesquecível. A alta concentração, o toque aveludado na boca, a intensidade das frutas causaram um impacto que quase me fizeram levitar de satisfação. Como eram bons esses vinhos! Com um estágio de 26 meses em barricas de carvalho francês novo, era de se esperar uma presença marcante da madeira. Mas - qual o quê - as notas de carvalho chegam discretas, elegantemente integradas à explosão da fruta. Um forte candidato a meu melhor vinho de 2014!

Não consigo nem dizer de qual safra eu gostei mais, mas o infalível indicador "qual-taça-termina-primeiro" revelou uma preferência para 2006, na qual uma estrutura tânica mais destacada embalava a harmonia geral.

Infelizmente, esses vinhos são um capricho para poucos, pois sua etiqueta exibe um preço de 383 reais, independente da safra. É só para quem pode...

Oscar Daudt
07/06/2014
Os vinhos
Columbia Crest H3 Chardonnay 2010
Preço: R$115
Columbia Crest H3 Cabernet Sauvignon 2011
Preço: R$115
Vertical de Columbia Crest Reserve Cabernet Sauvignon
2006 - 2007 - 2008
Preço: R$383
O almoço do Cipriani
Entrada Filé de robalo sobre creme de batata e provolone defumado Risotto de Funghi
Carré de cordeiro em crosta de pistache com batata gratin Sobremesa Petits fours
O almoço do Cipriani
Pablo Porretti, diretor comercial
Juan Muñoz-Oca, diretor de enologia Ariovaldo Carmignani, proprietário da Winebrands
Lou Bittencourt, de O Globo Paulo Nicolay, consultor enogastronômico Mariana Morgado, da Winebrands

Comentários
Sem comentários até o momento    
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)99636-8643 - [email protected]