 |

Semana passada, reuni alguns amigos para uma degustação diferente. Selecionei alguns vinhos não disponíveis em nosso mercado, garimpados em algumas viagens que fiz.
Alguns podem até estranhar a afirmação de que os vinhos não se encontram em nosso mercado, quando dois deles são elaborados no Rio Grande do Sul. Mas é isso mesmo. Apesar de serem nacionais, são quase impossíveis de serem comprados, principalmente aqui no Rio de Janeiro. Seu produtor, Eduardo Zenker, é uma figura estranha: levei quase um ano para conseguir comprar seus vinhos. Ele me explicou que trabalha absolutamente sozinho e com isso não encontra tempo para vender. Alguém pode me explicar para que serve produzir vinhos se não for para vendê-los? Mas não adianta, se você não insistir, não reclamar, não postar no Facebook, ele não presta atenção aos compradores...
O critério para a escolha dos vinhos foi duplo: ou rótulos de procedência exótica (México, Turquia e Geórgia) ou de produtores que quebram as regras e preferem desclassificar seus vinhos, adotando práticas orgânicas, biodinâmicas, sem se curvar às determinações de denominações e apenas seguindo suas crenças. Aqui estão eles:
Inusitado Espumante Nature Branco de Tintas 2011 |
Produtor: Vinhas da Loucura (ou Arte da Vinha)
Castas: Pinot Noir, Cabernet Franc, Carménère, Cabernet Sauvignon, Malbec
Região: Serra Gaúcha
Método: artesanal, com 18 meses de autólise
Preço: R$65
Este é um dos vinhos de Eduardo Zenker, acima referido. É um espumante com o verdadeiramente "inusitado" corte de 5 uvas tintas. Com um nariz exótico, o vinho no entanto decepcionou com sua espuma de vida bastante efêmera.
Produtor: Antoine Arena
Denominação: Vin de France
Casta: 100% Biancu Gentile
Álcool: 14%
Comprado em: Lavinia - Paris
Classificado como Vin de France, a garrafa não pode informar de onde provem e nem de que casta é. Os vendedores da Lavinia não sabiam informar nada sobre esse vinho e, portanto, eu o comprei às cegas de uma prateleira que se identificava como Vins insolites (vinhos insólitos). Pesquisando na Internet, descobri tratar-se de um vinho da Córsega, elaborado com 100% da casta Biancu Gentile - daí o BG do nome - uma casta raríssima, que só existe naquela ilha - e apenas 6 hectares. Agradou em cheio na degustação, com seus aromas cítricos e uma estrutura poderosa. Houve gente que, várias etapas à frente, ainda voltava a essa garrafa para beber um pouquinho mais.
Produtor: Vinhas da Loucura ou (Arte da Vinha)
Castas: 75% Pinot Noir vinificado em branco e 25% Chardonnay
Região: Serra Gaúcha
Álcool: 10,4%
Mais um vinho de garagem de Eduardo Zenker, apresentou a cor mais espetacular da noite: com um âmbar intenso e luminoso, enfeitava as taças e divertia os participantes com seu nome insólito. Um corte tipico de Champagne em um vinho tranquilo. Seu corpo magrinho e a rapidez com que desaparecia da boca, no entanto, não entusiasmaram os presentes.
Produtor: Il Cacciagalli
Castas: 100% Falanghina
Denominação: IGT Falanghina Roccamonfina
Álcool: 12,5%
Um típico vinho laranja, com uma cor nem tanto. 100% Falanghina, é biológico e biodinâmico, plantado em terreno vulcânico. É fermentado e macerado com as cascas por 5 meses em ânforas de barro. Vinho de ótima acidez, elegante e mineral.
Produtor: Damijan Podversic
Castas: Chardonnay 40%, Friulano 30% e Malvasia Istriana 30%
Região: Venezia-Giulia
Álcool: 14,5%
Um vinho laranja de onde os grandes laranjas provêm: do Friuli. Rivalizava com o Suvaco de Anjo em sua cor luminosa, mas apresentava um corpão, bela acidez e aromas poderosos de cítricos, nozes e mel. Um vinhaço!
Produtor: Nikolos Antadze
Castas: 100% Rkatsiteli (ou talvez 100% Mtsvane)
Região: Kakheti - Geórgia
Álcool: 13%
Vinho comprado em Londres. Fora isso, não consegui mais nenhuma informação sobre ele. Nem a casta pude descobrir com certeza, pois enquanto o rótulo informava ser um Rkatsiteli, o contra-rótulo dizia que era um 100% Mtsvane. Mas como todos os vinhos daquela país, deve ser fermentado com as cascas e até mesmo com os engaços em ânforas de barro. Excelente vinho!
Produtor: Yazgan
Castas: 100% Bogazkere
Região: Mar Egeu - Turquia
Álcool: 12,5%
A Turquia tem uma das maiores áreas plantada de vinhedos no mundo (4ª maior, segundo Jancis Robinson), mas apenas 3% deles dedicados ao vinho. A Yazgan é uma das mais antigas vinícolas (fundada em 1943) e também uma das maiores da Turquia (6 milhões de litros). Este vinho é elaborado com a casta Bogazkere, casta de alta qualidade autóctone do país. Tende a produzir vinhos tânicos, de cor não muito profunda e acidez moderada. E foi exatamente isso o que se apresentou nas taças. Uma curiosidade, nada mais do que isso.
Monte Xanic Syrah Cabernet Sauvignon 2010 |
Produtor: Monte Xanic
Castas: 60% Syrah, 40% Cabernet Sauvignon
Região: Valle de Guadalupe, Baja California
Envelhecimento: 18 meses em barricas de carvalho francês
Bom vinho, muito bem elaborado, mas igual a diversos chilenos e argentinos que andam por aí, com muita extração e muita madeira.
Produtor: Château de Villars Fontaine
Castas: 100% Chardonnay
Denominação: Hautes Côtes de Nuits
Álcool: 13%
Conforme o costume da Borgonha, encerra-se a degustação com um branco de longa guarda. Visitamos esta vinícola na Borgonha e os vinhos são de extrema longevidade. Provamos por lá um branco 1984 e um tinto 1985. Espetaculares!
Oscar Daudt
06/04/2014 |
|