
A Viña San Pedro é o segundo maior grupo vinícola do Chile, só ficando atrás da Concha y Toro.
Sua carteira exibe duas das marcas mais populares do nosso mercado: Santa Helena e Gato Negro, que se pode encontrar em qualquer grotão. Se você for a Cafundó do Judas, é bem provável que possa beber alguma delas no boteco da praça.
Porém, além de passear pelos limites pouco virtuosos dos vinhos de massa, o grupo investe também na extrema qualidade e é proprietário da espetacular Viña Altaïr, casa de dois dos melhores vinhos chilenos.
Para quem não sabe, a vinícola foi batizada com o nome da estrela mais brilhante da constelação da Águia. E esta escolha foi quase uma profecia celestina, visto que seu vinho de mesmo nome, o Altaïr, é uma das estrelas mais reluzentes na constelação dos vinhos chilenos, unanimemente cultuado.
A composição do vinho é diferente a cada safra, mas o corte sempre tem a predominância de uma grandiosa Cabernet Sauvignon, que parece ter encontrado seu apogeu no Vale de Cachapoal. Por exemplo, a safra 2005, que nos foi servida, abusa dessa casta, com 85% do vinho, temperada com discretas quantidades de Syrah e menos ainda de Carménère. O tempo hospedado em barricas francesas de primeiro uso é de 15 meses, mas ao provador mais desavisado pode até passar desapercebido, tamanha a integração com a fruta intensa e a estrutura olímpica. É realmente um vinho especial, gigantesco e eu considerei um privilégio poder harmonizá-lo com um delicioso cordeiro do Alloro. Foi daqueles momentos para dar "gracias a la vida".
Mas nossas taças foram, previamente, premiadas com o segundo vinho da casa, o também delicioso e caprichadamente elaborado Sideral 2010. Embora seja o segundo, foi como um cometa que abrilhantou o almoço e preparou nossos corações e mentes para seu irmão mais velho. O corte é tão complexo quanto as Plêiades e mistura, com se fora um buraco negro, 45% Cabernet Sauvignon, 29% Syrah, 16% Carménère, 6% Cabernet Franc, 3% Petit Verdot e - ufa! - 1% Petit Syrah. Tão lindo quanto uma chuva de estrelas!
O trocadilho acima é bem indevido, pois o Sideral 2010 tem os pés colados à terra. Seus 131 reais são bem razoáveis para a qualidade que engarrafa. O Altaïr 2005 é que embarcou na Sonda Cassini e projetou-se para fora do sistema solar: 433 astronômicos reais!
A bela diretora Claudia disse-me que busca controlar os preços de seus vinhos para que sejam vendidos mundo afora por valores semelhantes. Mas é claro que o indomável mercado brasileiro não respeita as determinações da produtora. Enquanto nos Estados Unidos o vinho custa 74 dólares, aqui nos trópicos a etiqueta exibe um valor equivalente a 188 dólares.
É interessante comparar os preços de hoje com os de 2 anos atrás, durante o Grand Cru Grand Tasting de 2012: o Sideral custava, à época, 110 reais e ganhou, portanto, um aumento de 18%; já o Altaïr, custava 320 reais e sofreu um aumento de 35%!
Eu disse para mim mesmo: "Não deve vender quase nada!" Como eu estava enganado! Na verdade, o Brasil importa anualmente - e vende! - a inacreditável quantidade 4.800 garrafas do ícone Altaïr, o que representa mais de um quarto de toda a produção do vinho!
País rico é outra coisa! Dá a impressão de que quanto mais caro, mais vende...
Oscar Daudt
17/09/2014 |