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Brasil

O amanhã é agora
Os primeiros vinhos pelos quais me encantei no início de minha vida de apreciador foram os poderosos Amarones, glórias da vinicultura italiana. E naquela época eu pensava com meus botões: "Quando o Brasil irá elaborar vinhos assim?". A resposta chegou esta semana, com a apresentação do espetacular Luiz Argenta Merlot Uvas Desidratadas 2009.

O estado-maior da vinícola Luiz Argenta invadiu o Rio de Janeiro para o lançamento desse vinho especial, elaborado pelo enólogo Edegar Scortegagna. Tendo estudado na Itália, por 5 anos, em um curso de Enologia no Trentino, Edegar teve a oportunidade de estagiar em diversas vinícolas do vizinho Veneto, onde aprendeu os segredos da vinificação dos Amarones.

Um processo de paciência
De volta ao Brasil, o enólogo vislumbrou, em 2009, quando o verão foi bastante seco, a oportunidade de elaborar um vinho nos moldes das joias do Veneto. Com o sotaque carregado, típico dos descendentes de italianos da Serra Gaúcha, e com a emoção de quem apresenta um filho recém-nascido, Edegar discorreu sobre a gestação.

Naquele ano, uma parcela antiga de Merlot apresentava uvas excepcionais e foi o estopim do processo. Os 1.500 quilos colhidos foram levados para a antiga sede da Granja União, preservada em meio aos vinhedos da Luiz Argenta. Como essa construção de madeira se abre em janelas por todos os lados, as uvas foram desidratadas em esteiras durante 43 dias, com ventilação natural. Ao final do processo, o peso total havia diminuído para somente 1.000 quilos.

As uvas concentradas foram fermentadas por longos 45 dias, resultando em 450 litros de um vinho com 16% de álcool e 8 g/l de açúcar residual. Faltava ainda o estágio em madeira e lá se foi o vinho repousar na bela adega subterrânea, escavada nas rochas, por mais 3 anos, em barricas de 2º uso.

Mas a espera ainda não havia terminado e, após engarrafado, o vinho ainda descansou por um ano até despertar como o mais impressionante vinho brasileiro da atualidade.

O prazer do desconhecido
Quem aprecia os Amarones, vai se sentir em casa. A estrutura gigantesca, a textura mastigável, o aconchego dos 16% de álcool, o açúcar residual, as notas de chocolate e de terra, o café e as frutas secas estão todos engarrafados.

Mas ao mesmo tempo, a personalidade da Merlot dirige o conjunto para mares nunca dantes navegados e a gente perde as referências. A fruta é abusada e toma conta de todas as sensações, acariciando o palato, sem querer nunca mais partir. É um vinho fascinante!

Enfiando a viola no saco
Deslumbrado com a novidade, mas temeroso do que iria ouvir, ao final perguntei qual seria o preço. Meus medos se justificavam, pois a bela Daiane Argenta me informou que custaria assustadores R$290! Antes de eu cair da cadeira, minha interlocutora ainda teve tempo de explicar que, como eram apenas 600 garrafas, o vinho seria vendido somente direto ao consumidor final, pela página da vinícola e que não seria direcionado para lojas e restaurantes.

Enquanto eu argumentava que o preço era muito alto e que seria difícil vender, um participante da noite arrematou, na hora, nada menos do que 6 garrafas. E eu tive de enfiar a viola no saco...

Oscar Daudt
26/07/2014
Os vinhos
LA Brut Rosé
Método: tradicional
Casta: 100% Pinot Noir
Álcool: 12%
Preço: R$63
LA Jovem Shiraz 2014
Casta: 100% Shiraz
Álcool: 12%
Preço: R$57
Luiz Argenta Uvas Desidratadas 2009
Casta: 100% Merlot
Álcool: 16%
Preço: R$290
Luiz Argenta Merlot 2009
Castas: 100% Merlot
Álcool: 13%
Preço: R$78
Luiz Argenta Cuvée 2005
Castas: 50% Cabernet Sauvignon, 50% Merlot
Álcool: 13,8%
Preço: R$140
O jantar do Vieira Souto
Carpaccio de frutos do mar com manjericão Ravioloni alla Caprese
Paleta de cordeiro com cuzcuz marroquino ao açafrão Torta de maçã e sorvete de baunilha
A equipe da Luiz Argenta
Daiane Argenta, diretora de marketing Deunir Argenta, proprietário
Edegar Scortegagna, enólogo Patrícia Poggere, diretora comercial

Comentários
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
28/07/2014 Oscar,

Muito louvável a iniciativa da vinícola em produzir este ícone artesanal, o Luiz Argenta Merlot Uvas Desidratadas 2009; demonstra ao mercado consumidor o alcance de alta capacidade técnica para bem qualificar seus vinhos. E para- se por aí.

Somente a qualidade não o classifica em posição de destaque no ranking dos vinhos brasileiros; será necessário o incremento da disponibilidade, a redução significativa de preço e o aumento do desejo de possuí-lo, para atingir este marco.

É de falsa superioridade a precificação em R$290,00/gf + frete, equivalente a comparação pela média de preços dos Amarones no Brasil, o qual não se sustenta pela semelhança do método.

Hedonisticamente, pelo prazer que proporciona seu concorrente direto, o Villa Bari Gran Rosso, da Vinícola Barrichello de Porto Alegre, seria neste patamar de preço que deveria se situar: R$70,00/gf.

“Está tudo como dantes no quartel d’Abrantes”.
Abílio Cardoso
Dentista e enófilo
Brasília
DF
28/07/2014 Fiquei curioso, Oscar, mas o preço está fora da faixa que aceito pagar.

Este é o grande mal do vinho nacional. Enquanto tivermos consumidores pagando estes valores, os vinhos não terão seus valores reduzidos.

Abraços
Antonio Paulo Milanesio
Enófilo
Santo André
SP
28/07/2014 Olá Oscar!

Sempre é um grande prazer quando lemos sobre assuntos relacionados a vinho e temos a presença de vinícolas nacionais.

E no caso da Luiz Argenta, que tive o prazer de visitar em Flores da Cunha, é um caso à parte. Uma vinícola moderna, planejada, de primeiro mundo; com sua cave escavada na rocha então, sensacional!! Ao mesmo tempo a acolhida de seus simpáticos e atenciosos proprietários (conheci o sr. Deunir) nos faz sentir em casa, lá no RS.

Seus espumantes são deliciosos e os vinhos tranquilos cada vez mais nos seduzem ... Quanto a precificação, em especial ao Luiz Argenta Merlot Uvas Desidratadas 2009, ainda é uma questão que de fato precisa ser reavaliada. Afinal é uma luta insana colocar o mercado nacional em evidência ao mesmo tempo em que este mesmo mercado impõe restrições econômicas para que se possa crescer. Esse antagonismo econômico faz com que por vezes o mercado não consiga um preço equilibrado para seus produtos, afastando o consumidor de sua própria casa.

Mas ainda assim nos dá orgulho de termos mais um grande exemplar produzido aqui no Brasil, e reconhecido pelos apreciadores do bom vinho!

Abraços, Paulo Milanesio
Carlos Stoever
Advogado e Enófilo
Porto Alegre
RS
28/07/2014 Os espumantes e o Chardonnay da Luis Argenta são muito bons...

Quanto ao Amarone brasileiro, o raciocínio que sempre faço é: ok, custa R$ 290,00... E o que mais eu poderia comprar com isso? Qual outro vinho? Quantas garrafas de qual vinho?

Ai, sim, a disputa fica acirradíssima...

Abraço!
Pedro Esteves de Freitas
Eno-blogger
Rio de Janeiro
RJ
28/07/2014 Prezado, é um absurdo o vinho custar tanto.

Com certeza nossa produção é cara, mais cara do que na Itália, mas é injustificável esse valor. O problema é que se prefere manter o vinho como status, como bem de consumo de luxo, ao invés de se buscar construir uma cultura de consumo vínico no Brasil.

Nossos produtores, distribuidores, importadores e revendedores (não todos, é claro) são responsáveis, em grande parte, por um país que não consegue se identificar com o vinho.

Abraços
Luiz Carlos Cattacini Gelli
Empresário
Rio de Janeiro
RJ
28/07/2014 Oscar, apenas como reflexão:

  • 1500 kg que se transformam em 450 litros, 600 garrafas;
  • 3 anos em barricas - que não significam anos largados e sim cuidados semanalmente, degustação e atesto;
  • 1 ano em garrafa, de qualidade e rolha correspondente, repousando;
  • e sem entramos nas tarefas da passificação e seu inerente risco.

    Não poderia resultar em um vinho barato. Não podemos esquecer que as uvas são de 2009 e que o vinho só agora, 2014, chegou ao mercado.

    Poderia ser um pouco mais barato ou mais caro, não sei, mas me coloco no lugar do produtor e não consigo imaginar algo muito diferente.

    Quando comparamos com os preços do Amarone esquecemos que este é produzido todos os anos e em quantidades muito maiores.

    Na minha opinião penso que o mais importante é que este vinho prova definitivamente que o Brasil pode produzir tintos de qualidade!
  • Pablo Paulo
    Barman
    Bocaina de Minas
    MG
    28/07/2014 A Luis Argenta é incrível em todos os aspectos, desde o marketing à produção em si!

    A conheci numa modesta e pequena loja escondida em Gramado num posto de gasolina. E Daudt, perdoe-me, mas pela excepcionalidade do vinho, do número de garrafas, e outros fatores, o preço, na minha opinião está adequado. Eu compraria a safra inteira se pudesse, sonhando com a evolução do vinho em mais tempo de descanso, e certamente, maior valor de mercado que agregaria.
    Eduardo Moreira
    Economista
    Rio de Janeiro
    RJ
    28/07/2014 Estive presente na apresentação dos vinhos da vinícola Luiz Argenta e pude constatar, mais uma vez, a grande qualidade dos seus produtos e a procura pela perfeição que seus dirigentes e enólogos buscam a cada ano.

    Fui surpreendido pelo Luiz Argenta Merlot Uvas Desidratadas 2009, que começa a conquistar logo pelo seu aroma inebriante e prolonga-se no paladar que nos deixa extasiar a cada gole. Sem dúvida, a Luiz Argenta, apresenta-se como uma vinícola com nível internacional, capaz de concorrer com as mais destacadas produtoras de velho mundo.
    Rafael Moreira
    Serrado Vinhos
    Rio de Janeiro
    RJ
    28/07/2014 Bom Dia Oscar!

    O vinho é excelente e, conforme foi explicado, o processo de vinificação foi bem complexo e longo, e como disse o Luiz Cataccini o preço não poderia fugir muito do informado.

    Acho que o que acontece, é que ainda temos preconceito com o vinho nacional, pois são compradas muitas garrafas de Pera Manca todos os dias por R$600,00 no Rio de Janeiro, não vou entrar no mérito da comparação de qualidade, mas acho o preço do Merlot Uvas Desidratadas justo.

    Como representante da Luiz Argenta no RJ, informo que o valor informado do espumante rosé está errado, esse preço é o do espumante LA BRUT ROSÉ JOVEM e não do LA BRUT ROSÉ.

    Abs,
    Rafael

    Obrigado pelo alerta, Rafael. Já corrigi o preço do espumante... Abraços, Oscar
    Rômulo Bittencourt Pereira
    Comerciante e Representante de Vinhos
    Rio de Janeiro
    RJ
    28/07/2014 Prezados,

    Excepcional post e iniciativa da vinícola em produzir este vinho no Brasil.

    Talvez, seria interessante tem em mente de que o vinho tem apenas 600 grfs e não se destina ao público "leigo". Nesta quantidade, dado o cuidado com o vinho e sua quantidade reduzidíssima, estamos falando de um preciosidade.

    Segundo informações que colhi o vinho é muito bom, sem perder em nada com seus pares estrangeiros, mesmo que haja a adição de Merlot, fazendo deste um vinho singular.

    Creio q a comparação com preços de importados que chegam no Brasil é incorreta e navega num oceano que ao leigo, normalmente, parece desproporcional, mas para o trade é simples desinformação de quem compara. Seja pelo fato do inédito, seja pelo da coragem em produzir um vinho nesta quantidade - e qualidade, este é um vinho, digamos, nada comercial e destinado a apreciadores de uma outra categoria que não devem se incomodar com preço e que não bebem apenas bandeiras, mas vinho... e do bom!
    Ronaldo M. Vilela
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    28/07/2014 Estou 100% de acordo com os argumentos do Luiz Carlos Cattacini Gelli.

    Esse sistema chamado "mercado", se não é o melhor, não se conseguiu ainda inventar um outro mais eficiente. Cabe ao consumidor não comprar se acha o produto ruim ou caro; ou os dois! Ao produtor, resta estabelecer as condições para que o seu produto seja vendável. Arque ele com as consequência do seu acerto ou erro empresarial.

    Mas protestar ou quase rogar ao produtor que, por favor, abaixe o preço do seu produto é, no mínimo, ingênuo.

    Funcionaria melhor o mercado se o consumidor fosse produtor também para poder saber com quantos paus se faz uma canoa. Acredito até que muitos consumidores são produtores em outras atividades o que lhes dá a oportunidade de saber como se constrói uma matriz de preços.

    O Sr. Argenta não fixou esse preço para o citado Merlot por um capricho! Todo investimento deve ser recuperado, a menos que não estejamos em um sistema capitalista. Se ele errou no seu projeto, cabe A ele sofrer os resultados como empresário. Nada mais do que isso!

    Repito: ao consumidor lhe é dada a alternativa de comprar ou não! Nada mais do que isso. Ou então, transformar-se em produtor e fazer um vinho para ser vendido aos milhares de hectolitros por R$ 10,00 a garrafa.
    Ângela Machado
    Empresária
    Rio de Janeiro
    RJ
    29/07/2014 Conhecer o local onde estes vinhos maravilhosos são feitos completa a imersão ao mundo dos deliciosos vinhos Luiz Argenta. A esplêndida sede da vinícola em Flores da Cunha-RS nos faz imergir num mundo maravilhoso e o clima local se assemelha à Europa.

    Vale a pena conhecer.... e degustar mais opções de vinhos apresentados pelo competente Edegar. Fica a dica.
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)99636-8643 - [email protected]