
As outras castas de Champagne |
Há cerca de 6 meses o EnoEventos publicou uma matéria sobre as "outras" castas permitidas na região de Champagne, fato que é desconhecido pela grande maioria dos apreciadores desses espumantes. Além das 3 que todos sabem (Chardonnay, Pinot Noir, Pinot Meunier), podem ser utilizadas também as brancas Arbane, Petit Meslier e Pinot Blanc e a rosada Pinot Gris. Restou desse artigo, pelo menos para mim, uma grande curiosidade em experimentar um Champagne elaborado com essas uvas.
A oportunidade surgiu na recente viagem que fizemos àquela região, quando visitamos a Champagne Aspasie, em Brouillet, naquela que foi considerada, unanimemente, como a melhor degustação dentre todas as que participamos. Um dos rótulos oferecidos por esse pequeno produtor é elaborado apenas com 3 dessas castas. Trata-se do Champagne Aspasie Cépages d'Antan Brut, um blanc de blancs sem Chardonnay: seu corte é feito com 40% Arbanne, 40% Petit Meslier e 20% Pinot Blanc. Essas são castas raríssimas que representam menos de 0,3% dos vinhedos da região e o produtor possui menos de 1/2 hectare com elas.
Foi, portanto, um privilégio poder degustar esse vinho tão especial. E mais privilégio ainda ter sido presenteado, ao final da visita, com uma garrafa dessa raridade. E a Copa do Mundo foi a desculpa perfeita para serví-lo esta semana.
Embora rara em Champagne, a Pinot Blanc é uma uva bastante conhecida de outras regiões e colabora na mistura com sua mineralidade e cremosidade; já a desconhecida Arbane empresta seus destacados aromas para perfumar o conjunto; e a ainda mais rara Petit Meslier fica responsável pelo departamento da acidez. Todas juntas formam um vinho excepcional, exótico e bastante raro. Não é de se estranhar que seja o vinho mais caro do produtor, vendido no mercado francês por mais de 70 euros.
Na taça, esse vinho encanta por sua espuma barulhenta e pelo turbilhão de borbulhas minúsculas e teimosas que se projetam copo acima, num mar de cor amarelo-palha.
O delicioso e complexo nariz é fundamentado em notas de leveduras, que vêm temperadas com chocolate branco, nozes, grapefruit, caqui e camomila. Nunca tinha tido a oportunidade de experimentar alguns desses raros aromas em um vinho e foi uma festa!
Na boca, o primeiro ataque é explosivo, com a crocância tomando conta do ambiente. Mas a festa continua com uma acidez elétrica e vibrante contrastando com a textura cremosa que passa a ditar as regras. É uma experiência fascinante, principalmente quando a gente se dá conta de estar experimentando uvas que nunca passaram pela cabeça de ninguém, que trazem notas inesperadas. Mas o melhor de tudo é a inacreditável permanência, que se prolonga indefinidamente...
Infelizmente, para encontrá-la, só na França e, mesmo assim, depois de muito garimpo.
Oscar Daudt
14/07/2014 |