Inspirados nessa reflexão, Alejandro Vigil, o diretor de enologia da Bodega Catena Zapata, e Adrianna Catena, quarta geração da poderosa família argentina, - a bela e a fera ao lado - envolveram-se em uma empreitada para elaboração de vinhos em sua nova e pequena Bodega Aleanna, batizada com uma composição de seus nomes.
Seja pelo impacto do nome dos vinhos, seja por suas intrínsecas qualidades, o fato é que, em pouco tempo, sua produção já é considerada como ícone argentino e presente em qualquer lista que se faça do que há de melhor na enologia daquele país.
O Gran Enemigo 2008 é um vinho bastante exclusivo, do qual foram elaboradas apenas 3.200 garrafas. Um corte de 80% Cabernet Franc, 10% Malbec e 10% Petit Verdot, as duas primeiras variedades são plantadas em Gualtallary (Tupungato), uma área escolhida a dedo por Alejandro, tendo em vista sua elevada altitude (os vinhedos ficam a 1.470m), o fato de ser uma das zonas mais frias de Mendoza e ao mesmo tempo apresentar uma grande variação diária de temperaturas.
As uvas são tratadas com extremo cuidado e impressiona saber que a colheita é realizada em 7 períodos diferentes para assegurar que cada cacho esteja em seu ponto ótimo de maturação. A fermentação ocorre com leveduras selvagens e, depois de pronto, com seus 14,5% de álcool, o vinho repousa durante 18 meses em carvalho francês e americano (35% novos).
De cor intransponível, o vinho oferece um conjunto de aromas deliciosos, com notas florais, de compota de framboesa, caramelo, terra molhada e avelã. Um espetáculo!
Na boca, o vinho é suculento, com ótimo frescor, muita redondeza e excelente duração. As intensas notas de café podem até levar o bebedor mais distraído a pensar duas vezes sobre qual bebida mesmo está consumindo.
Eu, que normalmente prefiro a elegância e a sutileza dos vinhos do Velho Mundo, sucumbi aos encantos desse gigante, com potência máxima e alta octanagem. É, na verdade, um vinho auto-suficiente que independe de comida e se presta muito mais à meditação ou a ficar algumas horas com os amigos discutindo, sem compromisso, sobre seus aromas e sabores, deixando a vida passar.
Eu comprei esse vinho em Buenos Aires, na Winery, há cerca de um ano e paguei o equivalente a 41 dólares (cerca de R$90). Um excelente preço pela qualidade e o prazer que se recebe.
Mas eu tenho uma notícia boa e outra ruim para os consumidores brasileiros. A boa é que esse rótulo é importado para nosso mercado e está disponível para compra na Importadora Mistral. A ruim - eu diria até péssima - é que o preço que a importadora está cobrando é proibitivo: nada menos do que R$355,69. Por esse valor, eu poderia comprar quase 4 garrafas na loja portenha. Uma pena!
Oscar Daudt
21/07/2014 |