Matérias relacionadas Vinci Direto do mercado financeiro O espanhol José Manuel Ortega Gil-Fournier era um executivo de sucesso no mercado financeiro quando, em 2004, decidiu jogar tudo para o alto e se dedicar à produção de vinhos. Atualmente, com três unidades na carteira - em Ribera del Duero, na Espanha; no Valle de Maule, no Chile; e em Mendoza, na Argentina - escolheu esta última como sua residência. Eu não conheço as outras duas, mas a vinícola do Valle de Uco é nada menos do que espetacular. Com uma arquitetura futurista, é apelidada de "disco voador" pela população local e seu perfil contra os picos nevados dos Andes é de tirar o fôlego. É lá também que se encontra o belo e requintado restaurante Urban, comandado por sua mulher, que já foi por várias vezes escolhido como o melhor restaurante de vinícolas da Argentina. É fantástico e é uma recomendação infalível para quem visita aquela região. Como num filme de Almodóvar Apesar de seu sucesso empresarial, o produtor estava sensivelmente ansioso durante o evento oferecido pela Vinci, esta semana, no Ibérico. Enquanto esteve conversando comigo, foi um pote até aqui de mágoas, inconformado com o resultado de seus vinhos em nosso país. "Una venda de mierda!", praguejava. Quando ele me disse que vendia "apenas" 24.000 garrafas por ano aqui nos trópicos, eu retruquei que era bastante em nosso mercado. Mas José Manuel não aceitava uma quantidade dessas para um país de 200 milhões de pessoas e pouco adiantava eu explicar que o mercado consumidor não deveria ser maior do que 10 milhões... Sobrou até mesmo para a imprensa, por mim representada no evento. Explicou-me que visitava o Brasil 7 vezes por ano e que seus vinhos eram ilustres desconhecidos por aqui. "O que fazem esses jornalistas que não ensinam os consumidores a beber rótulos além dos usuais?", reclamava o produtor. Mas a situação ficou mais surreal quando ele fez a apresentação aos participantes do almoço. Falou pouco de seus vinhos e concentrou suas baterias no ataque aos "catenas" e "montes" da vida, que seriam os vinhos verdadeiramente consumidos no Brasil. "Ontem fui a um restaurante em que havia 16 rótulos da Catena na carta e nenhum vinho da O. Fournier", disparava para uma plateia atônita. E completava: "Meus vinhos são muito melhores!". Excelência trinacional Provando sua produção, pode-se até compreender o desespero por que passa o produtor. São verdadeiramente vinhos excepcionais que conseguem manter a alta qualidade não importa de que país procedam. É realmente uma pena que não sejam mais conhecidos e consumidos por aqui. A prova abriu com um chileno Centauri Sauvignon Blanc 2010, um vinho fermentado parcialmente - apenas 15% - em madeira, o que já é suficiente para oferecer-lhe uma maior complexidade e um caráter que o diferencia dos demais exemplares tropicalizados dessa casta que o Chile nos manda. Da Argentina, brilhou o BCrux 2009, um esquisito corte de 35% Tempranillo, 50% Malbec e 15% Touriga Nacional que funciona à perfeição. Suntuoso e elegante. Mas o melhor do almoço veio da Espanha, com o topo da gama de Ribera del Duero. É maravilhoso o O. Fournier 2005, elaborado com 100% de Tinta del País - ou Tempranillo, como preferirem - e que repousa por 20 meses em carvalho francês. Profundo, gigantesco e complexo, é no entanto um vinho apenas para os mais afortunados. Oscar Daudt 02/09/2014

Os vinhos Centauri Sauvignon Blanc 2010 Origem: Valle de Maule - Chile Castas: 100% Sauvignon Blanc Preço: ND Urban Uco 2012 Origem: Valle de Uco - Argentina Castas: 50% Tempranillo, 50% Malbec Envelhecimento: 3 meses em barricas de carvalho Preço: ND Centauri Red Blend 2009 Origem: Valle de Maule - Chile Castas: 45% Cabernet Franc, 25% Merlot, 20% Cabernet Sauvignon, 10% Carignan Envelhecimento: 12 meses em barricas de carvalho Preço: R$120,73 BCrux Red 2009 Origem: Valle de Uco - Argentina Castas: 35% Tempranillo, 50% Malbec, 15% Touriga Nacional Envelhecimento: 12 meses em barricas de carvalho Preço: ND Spiga 2006 Origem: Ribera del Duero - Espanha Castas: 100% Tinta del País Envelhecimento: 12 meses em carvalho francês Preço: R$196,89 O. Fournier 2005 Origem: Ribera del Duero - Espanha Castas: 100% Tinta del País Envelhecimento: 20 meses em carvalho francês Preço: R$447,77 O almoço do Ibérico Canelone de láminas de manga com tartar de lombo de atum curado e ovas de Massago Salada de lentilhas cozidas no caldo de jamón Serrano com espinafre e cogumelos Paris, com camarão grelhado Costela suína cozida a baixa temperatura com farofa crocante de amêndoas e jamón Serrano, acompanhado de purê de batata com alho assado e limão siciliano Arroz meloso de pato com “chorizo” espanhol e bacon Alternativa vegetariana: Paella de legumes Creme frio de chocolate branco com sorvete de macadâmia e confit de frutos vermelhos Os participantes Denise Madsen, do Afrânio, de Araras Lilian Seldin, da Vinci, e Jose Manuel Fournier Eder Heck, do Mr. Lam Anna Bosso, da Vinci Valéria Santos, do Gula Gula Lilian Boden, da Vinci, e Iva Helena Magalhães, do Carmelo Andréa Massaroni, da Cavist Cesar Chiappetta, da Vinci Adriano Oliveira, do Fratelli

Nicélio de Paiva, da Casa do Sardo O serviço foi comandado pelo sommelier Elvis Baltar

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