
Os apreciadores de vinho que já estiveram no Alentejo com certeza conhecem o Convento da Cartuxa, belíssima adega da Fundação Eugênio de Almeida. O que poucos sabem é que o nome oficial do edifício é Convento de Santa Maria Scala Coeli.
É lá que são elaborados os míticos vinhos Pêra-Manca, orgulho maior da região. E o segundo vinho na linha de sucessão recebe o nome oficial do convento: o Scala Coeli - que quer dizer "escada para o céu" - nas versões branco e tinto. A peculiaridade desses vinhos é serem elaborados, a cada ano, com uma casta diferente, escolhida dentre aquelas não típicas do Alentejo. Os tintos, que começaram a ser produzidos em 2005, exibem a seguinte composição anual:
2005: Cabernet e Merlot
2006: Syrah
2007: Touriga Nacional
2008: Alicante Bouschet
2009: Touriga Franca
2010: novamente a Syrah
Agora me digam, em que planeta a Alicante Bouschet não é casta típica do Alentejo, se ela é uma das mais importantes variedades de lá? CDC...
E foi exatamente esse Scala Coeli 2008, com 100% de Alicante Bouschet, que eu tive a alegria de abrir esta semana. Um vinho monumental e delicioso. Embora essa casta seja, muitas vezes, considerada apenas como uma tintureira em outras partes do mundo, é nas terras áridas e quentes do Alentejo que ela demonstra a sua razão de ser, elaborando vinhos vigorosos, explosivos e marcadamente frutados.
Aqui, o enólogo Pedro Baptista escancara toda sua capacidade ao nos entregar um conjunto em que, apesar de estagiar 16 meses em barricas francesas novas, a madeira passa absolutamente desapercebida. Por mais que eu tentasse, as notas de ameixa madura, balsâmicas, de avelãs e erva-doce não permitiam que o carvalho se identificasse. Foi um verdadeiro olé!
Visualmente, a cor é profunda, de um púrpura impenetrável que desenha estrias na taça com suas lágrimas quase sólidas.
Na boca - o melhor de todos os sentidos - a grande estrutura vinha empacotada em taninos sedosos e o delicioso frescor revelava um vinho harmonioso que desemboca em um final insistente, em que as frutas reinam absolutas.
Da viagem que fiz a Portugal, no final do ano passado, trouxe esse vinho na mala, comprado na Garrafeira Nacional, ao preço de €57,50 (cerca de 173 reais).
Aqui em nosso país, ele é importado pela Adega Alentejana, que não publica o preço de seus produtos. Mas encontrei-o em algumas lojas virtuais, a preços que causam uma violenta ressaca. Confiram só:
Tricana Barra (Rio de Janeiro): R$330 (não informa a safra)
Superadega (Brasília): R$390 (2007)
Ary Delicatessen (Itaipava): R$399,80 (não informa a safra)
Banca do Ramon (São Paulo): R$480 (2007)
Oscar Daudt
16/07/2014 |