
Por mais surpreendente que seja, a mais importante feira de vinhos brasileiros acontece, não no Rio Grande do Sul, mas sim em Brasília. Trata-se da Vinum Brasilis, espetacular evento organizado por um dedicado apreciador, Petrus Elesbão, por puro diletantismo.
Embora estivesse numerada como a VII Vinum Brasilis, a feira na verdade completou este ano o seu 10º aniversário, pois em suas 3 primeiras edições foi batizada com outro nome. Em sua estreia, começou minúscula, com apenas 2 expositores, e vem crescendo e ganhando importância, ano a ano, e agora em 2014, contou com a participação de 25 vinícolas e outros expositores.
Realizada em 2 dias seguidos, a feira obtem, sempre, um grande sucesso e a disputa por convites - pagos - é muito grande. Eu mesmo fui testemunha dos incontáveis telefonemas para os organizadores, em busca dos ingressos já esgotados.
Os eventos desse tipo costumam escolher os Top Five, Top Ten ou outros ridículos estrangeirismos. Em se tratando de uma feira de vinhos nacionais, até a língua é respeitada e a prova foi batizada de Seleção 2014 que, no país do futebol, era composta de 11 jogadores, ops..., vinhos.
Realizada uma semana antes do evento, o corpo de degustadores foi formado por 12 nomes de destaque do vinho em Brasília, com a presença de jornalistas, blogueiros, sommeliers e formadores de opinião. Foram 38 inscritos, representando 23 vinícolas e os vinhos foram provados às cegas, recebendo notas de 1 a 5. E o resultado final é o da tabela à direita.
Esta foi a terceira vez que eu participei desse espetacular evento. E, como sempre, o destaque da feira foi o estande do blog Decantando a Vida, comandado por Antônio Coêlho e Eugênio Oliveira. É sempre o mais disputado, pois seus organizadores são uma espécie de embaixadores dos vinhos de garagem, alternativos ou simplesmente provenientes de lugares inesperados. A curiosidade do público é grande e fica até mesmo difícil alcançá-lo.
Paradoxalmente, os vinhos mais interessantes à prova nessa mesa eram de uma vinícola que dificilmente poderia ser classificada como alternativa ou garagista: trata-se da Estrelas do Brasil, uma empresa dos enólogos Irineo Dall'Agnol e Alejandro Cardozo, considerado uma das maiores autoridades na vinificação de espumantes no Rio Grande do Sul. No entanto, chamou-me a atenção um vinho tranquilo, o Dall'Agnol DMD Cabernet Sauvignon 2005, vinificado com uvas passificadas. O incompreensível DMD quer dizer Dupla Maturação Direcionada, o que não serve para esclarecer muita coisa, mas refere-se à técnica empregada para a passificação. Após os cachos maturarem normalmente, seus engaços são estrangulados ainda na videira, impedindo a sua alimentação. Com isso, durante 15 dias, as uvas vão murchando até atingirem o ponto desejado para a vinificação.
Outra bela surpresa do estande do DCV foi um vinho elaborado no Espírito Santo. É salutar ver que mais e mais estados brasileiros investem na produção de vinhos finos. A vinícola emprega a técnica da poda invertida, em que a planta é enganada para trocar as estações, fazendo com que a colheita ocorra no inverno (agosto e setembro). O inesperado vinho é o Tabocas Oak 2012, elaborado com 100% Cabernet Sauvignon e com estágio em carvalho francês. Bastante aromático, com um corpo malhado e uma maciez muito agradável, é um vinho a acompanhar com interesse em suas próximas edições.
Oscar Daudt
16/08/2014 |