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Mar Húngaro
Os apreciadores do bom vinho que desejam estar por dentro dos novos acontecimentos na vitivinicultura mundial devem tomar conhecimento de que uma nova denominação acaba de ser constituída na Hungria e engloba uma vasta zona produtora nos arredores do maior lago da Europa Central.

Trata-se do Vinho de Balaton, cuja criação se deve ao Círculo de Produtores de Balaton que agrupa, atualmente, cerca de vinte vinícolas situadas à margem setentrional do lago que é chamado de "Mar Húngaro", uma das principais atrações turísticas daquele país.

Busca da tipicidade
O regulamento que estabelece as normas relativas à elaboração do vinho dessa denominação propicia que este tenha garantia de tipicidade e qualidade, com o objetivo de se obter uma crescente presença no mercado nacional e internacional.

Segundo as regras, o Vinho de Balaton deve ser elaborado exclusivamente com a variedade Olaszrizling (Riesling Itálico), preservando principalmente seus aromas primários característicos e refletindo o "terroir". Pelo menos 75% do vinho deve ser fermentado em tanques de aço inoxidável, com um estágio mínimo de 4 meses nesses tanques e um mês em garrafa. Para os 25% restantes, permite-se a fermentação em grandes tonéis de madeira, não tostados, com a mesma duração de estágio.

A comercialização é autorizada apenas a partir do dia 21 de abril do ano seguinte ao da colheita e na etiqueta devem constar os dizeres "Vinea Balaton Nobilis Districtus", podendo-se indicar o lugar de origem das uvas (região, distrito ou cidade).

A mais plantada
A Olaszrizling é a casta branca mais extensivamente plantada na Hungria e é considerada como autóctone, apesar de sua origem ser incerta. Segundo algumas teorias, ela seria originária da França, mas o que se sabe ao certo é que ela não tem laços de parentesco com a clássica Riesling alemã.

Em outros países centro-europeus, ela também é conhecida como Welschriesling, Talianska Grasevina, Laski Rizling e Rizlink Vlassky. Na maioria das vezes, ela é utilizada para a elaboração de vinhos secos, com cor amarelo-esverdeada, que quando jovens apresentam marcante acidez harmônica e conseguem transmitir o frescor inerente a ela. O estágio em barricas novas de carvalho pode aportar complexidade e maior estrutura, imprimindo delicadeza e elegância.

As sub-regiões
A zona adjacente à margem setentrional do Lago Balaton, que engloba três regiões vinícolas demarcadas, tem uma paisagem acidentada, visto que seu relevo está marcado pelas elevações da cadeia dos montes Bakony, em cujas encostas se localizam os vinhedos que se estendem ao largo da costa. O solo é vulcânico misturado com estruturas arenosas. O clima é influenciado pela água do lago, com temperaturas moderadas. Mas ao fim do verão, a umidade e o calor acentuam o desenvolvimento da vinha, permitindo uma maturação perfeita.

A região que tem a maior fama devida aos vinhos produzidos a base de Olaszrizling é Balatonfured-Csopak, que conta com cerca de 2.100ha de vinhedos. Sua vinícola de maior renome é a Figula, cujo fundador, de mesmo nome, figura entre os primeiros a ser homenageado com o prestigiado título de Melhor Vinicultor da Hungria.

Já a região de Badacsony tem uma superfície de vinhedos de 1.600ha e, em uma pequena parcela, cultiva a Kéknyelu, que é uma das castas brancas mais emblemáticas do país. Trata-se de uma uva autóctone, muito delicada, com maturação tardia e que somente em safras muito boas resulta em um vinho perfeito que mostra sua tipicidade.

O vinho mais popular da região de Balatonfelvidék, que possui cerca de 1.500ha de vinhedos, é elaborado com base na variedade Cserszegi Fuszeres, uma híbrida húngara decorrente do cruzamento de Irsai Olivér e Tramini, criada há 50 anos nessa mesma região. É um vinho leve, com intensos aromas complexos de frutas tropicais e flor de sabugueiro, com final adocicado.

Recuperando o prestígio
Na conferência de imprensa em que se anunciou a criação da nova denominação Vinho de Balaton, um dos produtores comentou que até há pouco tempo, a Olaszrizling era menosprezada porque seu nome era também utilizado para vinhos de baixa qualidade.

Espera-se que esta nova iniciativa desperte o interesse de muitos produtores em obter uvas de mais alta qualidade que resultem em vinhos com perfil convincente, que venham a abrir uma nova perspectiva tanto para a casta quanto para a zona produtora de tanta tradição.

József Kosárka é diplomata, gourmet e escritor húngaro; membro da Academia Húngara do Vinho, é colunista de publicações de enologia em seu país; foi embaixador da Hungria no Peru e no Chile; associado à FIJEV
09/11/2014

Tradução: Oscar Daudt
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