Em agosto do ano passado, aconteceu no Iate Clube o Tannat Tour, promovido pela Wines of Uruguay, uma feira que apresentou a produção das principais vinícolas daquele país. Quem leu desavisadamente o nome do evento, pode ter pensado que nosso vizinho é um país monovarietal, onde todos os vinhos são elaborados com a Tannat. Está certo que essa casta teve uma adaptação espetacular na Província Cisplatina, que seus melhores vinhos são mesmo feitos com a Tannat, mas o Uruguai é bem mais do que isso!
Das 22 vinícolas em exposição, aquela que mais me chamou a atenção foi a Artesana, vinícola-boutique localizada no Departamento de Canelones, a cerca de 30 quilômetros de Montevideu. Eu me apresentei como uma pequena importadora - na verdade, eu me apresentei como uma "importadora-boutique" - e a empatia foi imediata! Durante a feira mesmo firmamos o compromisso de nos tornarmos parceiros, com a Importadora EnoEventos trazendo os vinhos para o Brasil.
E agora, 7 meses depois, os vinhos estão prontos para serem vendidos para os consumidores brasileiros, através de nossa loja virtual.
| Investimento norte-americano |
A nova estrela da vinicultura uruguaia é um investimento de Blake Heinemann, um empresário norte-americano do setor de petróleo com o declarado objetivo de exportar vinhos da casta Tannat, tão bem adaptada no "terroir" cisplatino, para o mercado de seu país. Mas o projeto é obra e graça de 3 mulheres, a californiana Leslie Fellows, que comanda a empresa, e duas enólogas uruguaias: Analia Lazaneo, que traz na bagagem 3 anos de enologia na Bouza, e Valentina Gatti, que trabalhou alguns anos nos vales de Napa e Sonoma.
Da reunião das 3, derivam vinhos tipicamente uruguaios, mas com um inegável sotaque da California. E a influência se revela não apenas no estilo poderoso dos vinhos, mas principalmente na inesperada utilização da casta Zinfandel, uma das marcas registradas dos vinhos norte-americanos, que a Artesana inaugura nas coxilhas do Uruguai! Nota-se também o toque feminino nos delicados rótulos em dourado e preto, dominados por uma figura de mulher.
A vinícola fica localizada na esotérica localidade de Las Brujas e possui apenas 8,5 hectares de vinhedos, elaborando menos de 50.000 garrafas ao ano. A opção foi se concentrar em castas tintas, com o cultivo de apenas 3 variedades: além da Tannat e da Zinfandel, a Merlot também faz parte do seleto grupo.
A casta Tannat, em sua terra natal - o Madiran, no sudoeste da França - elabora vinhos poderosos, de cor profunda, com excelente acidez e ótima capacidade de envelhecimento, mas com taninos bem marcados, responsáveis até mesmo pelo nome de batismo da variedade. O seu segundo lar é o Uruguai, considerado, atualmente, como o endereço principal dessa uva. A Tannat teve uma adaptação fantástica ao solo e ao clima de nosso vizinho e seus vinhos oferecem taninos domesticados, preservando a acidez e a vigorosa estrutura. E hoje em dia, pouca gente lembra de Madiran quando se fala em Tannat!
Dos dois vinhos agora trazidos pela Importadora EnoEventos ao mercado brasileiro, o primeiro é o Artesana Tannat 2012, 100% varietal com estilo rico e concentrado, que estagia por 12 meses em barricas de carvalhos francês e americano. O nariz revela um complexo leque de aromas como frutas vermelhas, menta, toques minerais e condimentos e a boca apresenta um impecável matiz de taninos que nos oferece um generoso final. Com ótima capacidade de guarda, pode ser bebido até 2018 ou mais adiante.
Mas onde o acerto da sinergia Uruguai-Estados Unidos fica mais evidente é no espetacular Artesana Tannat-Zinfandel-Merlot Reserva 2011, dividido em porções de 55%, 25% e 20%, respectivamente. Que vinhaço! Mistura a potência californiana com o machismo elegante do Uruguai para obter um vinho de harmoniosa complexidade com textura quase mastigável. Os assustadores 15,5% de álcool passam desapercebidos, bem equilibrados com muita fruta. No nariz, frutas negras, chocolate, condimentos e discreta madeira apresentam o paladar de alta octanagem, frutado, deliciosamente macio e com muitos quilômetros de rodagem no final de boca. Seguramente o melhor vinho uruguaio da atualidade! Pronto para beber agora, mas que pode ser guardado muito bem por mais 10 anos!
Oscar Daudt
02/04/2015 |
