O Priorato é uma região vinícola da Espanha de longa história. No entanto, até o início dos anos 1990 era uma ilustre desconhecida do mercado internacional, quando então um súbito reconhecimento elevou-a ao patamar das mais incensadas regiões ibéricas. Na esteira do reconhecimento, infelizmente, os preços de seus vinhos também alçaram vôo rumo à estratosfera, fazendo com que alguns deles atingissem valores proibitivos para os simples mortais.
 E é aí que entra Montsant. Essa região é atualmente tão desconhecida quanto era o Priorato há cerca de 30 anos. E é curioso conferir no mapa ao lado que Montsant (em verde) envolve praticamente todo o Priorato (em roxo), sendo como uma continuação deste. Com isso, as duas regiões compartilham as mesmas características de solo, de relevo e de clima. E as coincidências não param por aí, pois ambas baseiam a vinicultura nas mesmas duas variedades tintas: Garnacha e Cariñena (Mazuelo).
A maior diferença entre as duas regiões- e a que bem nos interessa - é que os vinhos de Montsant, com qualidades similares às do famoso vizinho, custam apenas uma fração do valor cobrado pelo prestigiado Priorato.
O grupo Juan Gil Bodegas Familiares é composto por 9 pequenas vinícolas espalhadas por toda a Espanha, sempre localizadas em regiões emergentes. Nada das famosas Rioja, Ribera del Duero, Jerez, mas sim das nem tão conhecidas Jumilla, Catalayud, Rueda e... Montsant, dentre outras.
E em Montsant, a vinícola local é a Cellers Can Blau, um projeto com 35ha de vinhedos com idade média de 40 anos. A produção é limitada apenas aos vinhos tintos, com somente 3 variedades plantadas: além das principais Garnacha e Cariñena, há também a internacional Syrah.
O primeiro vinho provado foi o Blau 2011, um corte de 50% Cariñena, 25% Syrah e 25% Garnacha, que estagia durante 4 meses em barricas de carvalho francês. É um vinho denso e saboroso, e seus 14,5% de álcool passam lotados frente à grande estrutura do conjunto. Seus aromas vigorosos trazem o morango, a pimenta do reino e a lavanda. Na boca, é um vinho suculento, prazeroso, com taninos macios e invejável permanência. Para beber descompromissadamente acompanhado de bom presunto Serrano e de um delicioso queijo Manchego. E isso você pode fazer hoje mesmo ou esperar mais uns 3 anos, se conseguir.
Já o segundo vinho, o Can Blau 2010, é o equivalente a um Crianza. Corte de 40% Cariñena, 40% Syrah e 20% Garnacha, repousa em barricas de carvalho francês por 12 meses, para nos entregar um vinho opulento. Seus complexos aromas passam pelo chocolate, os defumados e o couro até revelar as ameixas pretas e os toques florais. É um vinho quente, denso, potente, com muita fruta e uma espetacular permanência. Um vinho para esperar o inverno chegar e abrí-lo com um chorizo ou saborosas croquetas de jamon.
Além da qualidade do vinho, a beleza dos rótulos chama a atenção e enfeita qualquer mesa. São desenhos geométricos, hipnóticos, que instigam a conhecer o que está engarrafado. É só servir e esperar os elogios.
São dois vinhos especiais, que valem a pena serem experimentados. Enquanto o Can Blau custa 123 reais, o Blau custa bem menos, 80 reais, o que o torna o campeão do custo-benefício. Se você quiser comprar apenas um, nem pestaneje: escolha correndo o Blau 2011!
Oscar Daudt
30/03/2015 |
