
O restaurante Ibérico, um pedaço da Espanha na Lagoa, desenvolveu um projeto de jantares harmonizados que ocorrerão uma vez por mês. A ideia é divulgar a gastronomia e a vinicultura espanhola com cardápios dedicados às várias regiões daquele país.
O chefe Jan Santos elabora um menu especial para a noite e o sommelier Elvis Baltar prepara a harmonização. Estive na estreia, dedicada à Catalunha, à convite de Antonio Alcaraz, sócio do restaurante, e foram momentos especiais que espero ter a oportunidade de repetir.
O chefe Jan Santos, todos devem saber, é bem brasileiro, mas foi na Catalunha que ele aprendeu as artes da gastronomia espanhola. Estava, portanto, bem à vontade para criar a sequência de 6 etapas que desfilaram por nossas mesas. Alguns criativos, outros clássicos, os pratos formaram um painel sobre a cozinha dessa inquieta região ibérica.
O Consomé de setas abriu o desfile causando uma confusão mental: sua apresentação, em uma taça de vinho, com uma fatia de jamón serrano protegendo a bebida, em tudo fazia lembrar uma dose de Jerez à moda espanhola. Mas era mesmo um delicioso caldo de cogumelos que se valorizou com a companhia do presunto.
Uma simples Salada de rúcula com queijo e tomates, nas mãos de Jan, ganha ares e sabores de grande acontecimento, com os tomates apresentados em 3 texturas: o próprio fruto, um tartare e uma geleia.
Um clássico Pimiento del Piquillo relleno de brandade, no entanto, não precisa de muita moda para ser imperdível. Já o Magret de pato con champiñones y cebolla caramelizada y redución de Pedro Ximenez trouxe carimbada a assinatura de Jan, com uma apresentação primorosa e sabores de elevar o espírito.
Eu tenho profundo respeito pelos vinhos da espanhola Torres, um grupo estritamente familiar com o tamanho de gente grande e vinícolas espalhadas pelo Penedès, Ribera del Duero, Rioja, Priorato, Chile e California. É um gigante, mas que mantém o foco na extrema qualidade, na preservação do meio-ambiente e na responsabilidade social.
Mas mesmo uma empresa assim pode fazer um vinho que não seja unanimidade. Por exemplo, eu não consigo gostar do Viña Esmeralda, que mistura os aromas extremos da Gewürztraminer com a caráter de suco de uva da Moscatel. Não é a minha praia...
Mas a gente esquece tudo quando o copo se enche de um Mas Borràs 2008, um Pinot Noir espetacular que todos dizem ser o melhor exemplar da casta da Espanha. Ou quando segue com o Salmos 2011, um vinho com uma estrutura tal que só de servir traz o risco de quebrar a taça. Poder engarrafado!
A história de Jean Leon parece extraída de um folhetim. Depois de uma infância trágica na Espanha, ele rodou o mundo em busca de sub-empregos até chegar a Hollywood, onde foi trabalhar de cumim em um restaurante de Frank Sinatra e Joe di Maggio.
Ali conheceu diversos artistas de cinema e fez amizade com James Dean, com quem abriu em sociedade um restaurante, o La Scala, em Beverly Hills, endereço que atraía as celebridades do momento como um ímã. Com a prematura morte de seu sócio, Jean Leon ficou com o restaurante só para si, numa reviravolta do destino própria de enredos de segunda categoria.
Insatisfeito com a qualidade dos vinhos em seu restaurante, o aventureiro decidiu criar uma vinícola em sua Espanha, em 1963, no Penedès, onde passou a elaborar vinhos com variedades francesas, à época desconhecidas por seus conterrâneos. O sucesso foi imediato.
Anos depois, já com a saúde terminal, Jean Leon vendeu sua vinícola para a família Torres, o que nos possibilitou experimentar o Jean Leon 3055 2013, um elegante Chardonnay que xispa apenas 2 meses em madeira. Belíssimo vinho!
Oscar Daudt
12/01/2015 |