A vocação da EnoEventos
Os leitores mais antigos de nosso portal sabem que as matérias mais importantes que publicamos não são a divulgação de vinhos, nem a cobertura de eventos e muito menos as dicas de restaurantes: o que se constitui como nossa vocação primordial é a livre divulgação de informações que venham a trazer cada vez mais luz para o nosso insólito mercado de vinhos.

Essa vocação, como não poderia deixar de ser, a EnoEventos herdou de mim, seu redator, cuja experiência profissional sempre foi dirigida à construção de sistemas de informação e a extração do conhecimento que se esconde em bases de dados. E mais do que uma profissão, é um gosto, pois fico tomado por uma alegria infantil a cada vez que me deparo com dados que podem ser transformados em inteligência.

Fonte dos dados
Este foi o caso com os dados divulgados pelo MDIC - Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior, referentes às Guias de Importação e Exportação. É um inestimável acervo de dados que cobre, atualmente, um período de 27 anos, desde 1989 até 2015 (além dos primeiros meses de 2016. Essa base de dados é atualizada mensalmente, disponibilizando com presteza os dados mais recentes.

O acervo está disponível a todos os interessados, bastando um cadastro prévio. No entanto, não são dados dirigidos ao público em geral e recuperá-los e bem interpretá-los exige o conhecimento de um profissional de informações. Com isso, a EnoEventos digeriu esses dados, transformando-os em tabelas e gráficos de fácil compreensão, que trazem revelações valiosas sobre nosso mercado de vinhos importados.

A correção dos preços (uma explicação técnica)
Como essa é uma árida explicação técnica, a maioria dos leitores se sentirá mais à vontade se simplesmente descartá-la, bastando acreditar que os números apresentados refletem a melhor análise da realidade do mercado.

Os dados monetários da base estão expressos em dólares, com o valor histórico da data em que ocorreram as transações. Como eles cobrem um período de 27 anos, a inflação americana (que chegou a 91% no período) deve ser considerada, para que os valores sejam corretamente comparados. Por exemplo, uma importação ocorrida em 1989, por US$100.000, seria equivalente atualmente a US$191.000. Foi essa a correção que fizemos e que fica bem exemplificada na primeira tabela desta análise. Nela, apresentamos os valores históricos, as taxas anuais da inflação em dólar e o correspondente valor corrigido a preços atuais. Todos as demais tabelas refletem sempre o valor corrigido sem, no entanto, discriminar esse cálculo.

A inteligência dos dados
Para processar os dados recuperados do MDIC, utilizamos a ferramenta DardoWeb, um sistema de Inteligência de Negócios (Business Intelligence), desenvolvido pela empresa de que sou sócio, a Inforum Sistemas de Informação. Maiores detalhes podem ser obtidos através da página www.dardoweb.com.br.

Oscar Daudt
29/05/2016
A evolução do mercado de 1989 a 2015
Tanto a tabela quanto o gráfico abaixo, mostram o extraordinário desenvolvimento do mercado de vinhos importados no Brasil.

A tendência é, claramente, de alta (apesar da queda do último ano) e o volume do mercado aumentou cerca de 10 vezes desde 1989 até 2015, passando de US$29 milhões para US$291 milhões, em valores corrigidos.

Com 2014 representando o melhor ano em termos de importações de vinhos, 2015 trouxe uma significativa queda de 10% (em US$ corrigido) sobre a ano anterior, prenunciando uma inflexão significativa na curva. É o mercado de vinhos finos refletindo as dificuldades econômicas que assolam o Brasil atualmente.


As perspectivas para 2016
De 2014 para 2015, a importação de vinhos apresentou uma queda de 10,3%. Analisando-se os resultados dos 4 primeiros meses de 2016 e comparando com os 4 primeiros meses do ano anterior, pode-se projetar (de forma otimista) que 2016 terá uma queda de 13,9%. Combinando os resultados dos 2 anos, isso representaria uma queda acumulada, nos 2 últimos anos, de 25,6%.

Não é à toa que, a todo o momento, escute-se notícias de importadoras quebrando, lojas fechando e um aumento significativo de vinhos leiloados pela Receita Federal, tendo em vista a não retirada dos mesmos na Aduana, por falta de pagamento dos impostos.

Analisando-se a tabela abaixo, pode-se ver que, à honrosa exceção do Chile, todos os principais exportadores de vinhos para o Brasil apresentam queda, sendo algumas delas violentíssimas, como as da África do Sul, Austrália, Grécia e Nova Zelândia.

Os tempos estão negros para o mercado de vinhos importados! E ao que tudo indica, devem piorar ao longo de 2016-2017...
Maiores exportadores para o Brasil de 1989 a 2015
Durante os 27 anos que esta análise abrange, quais foram os países que mais enviaram vinhos para o Brasil? A primeira tabela abaixo exibe os 13 maiores parceiros no total acumulado do período.

Não há grandes novidades e os principais classificados representam o senso comum. O que é interessante observar é que os 5 grandes - Chile, Argentina, França, Itália e Portugal - somam mais de 88% dos valores no período, deixando pouco espaço para os demais contendores.

Mais significativo ainda, é observar a segunda tabela, que analisa os maiores exportadores apenas para o ano de 2015. Os 5 grandes são os mesmos e sua participação é de 90% do total. É como um adeus à diversidade...

Interessante também é notar que os países do Mercosul (Argentina, Uruguai e o associado Chile) representaram, no ano que passou, um total de quase 55% das importações de vinhos, um resultado praticamente estável em relação a 2014, quando suas exportações atingiram 54% do total.


A guerra dos mundos
Nesta guerra entre os dois mundos, saem todos ganhando.

Aqui no Brasil, devido à vizinhança e ao Mercosul, o mercado fez a opção pelos vinhos do Novo Mundo - leia-se Chile e Argentina, principalmente - que passaram a dominar as importações desde 2004 e não há sinais de que pretendem abrir mão dessa posição privilegiada.
O curioso caso de Benjamin Button
Todos os apreciadores - ou pelo menos aqueles com mais de 40 anos - conhecem a história dos vinhos alemães de garrafa azul, que inundaram nosso mercado há cerca de 20 anos. Eram vinhos docinhos, de baixo preço, de sofrível qualidade mas que fizeram um estrondoso sucesso em nosso mercado. Até então não havia o costume de se beber vinhos importados e o consumidor não conseguia nem ao menos avaliar a qualidade dos vinhos. Muitos conhecedores do hoje em dia começaram sua vida de enófilo bebendo os Liebfraumilch.

Conta que a garrafa azul foi uma ideia original de Otávio Piva, proprietário da Expand, que conseguiu convencer os produtores alemães a engarrafar com essa cor e assim destacar os vinhos nas prateleiras. O hoje em dia desprezado vinho teve o mérito de ser o estopim para o desenvolvimento do mercado de vinhos importados no Brasil. Por outro lado, emprestou uma fama generalizada de baixa qualidade aos vinhos alemães que até hoje não saiu da cabeça dos consumidores.

Bem, essa história quase todos conhecem. O que eu não sabia é do tamanho e da violência da queda, que pode ser conferida no gráfico abaixo, que bem mostra o apogeu das exportações da Alemanha em 1995, com um valor de mais de 30 milhões de dólares, para dois anos depois despencar para 7 milhões e atualmente estar patinando em valores abaixo de cerca de US$400.000. Impressionante!
A evolução anual das importações brasileiras dos principais parceiros
Analisando os gráficos abaixo, nota-se que alguns países estão em franca decadência em nosso mercado. A Austrália parece ser o caso mais sensível, pois tendo exportado quase 3 milhões de dólares em 2011, vem decaindo ano a ano e, em 2015, seus valores caíram a menos da metade, com um total de 1,2 milhões apenas.

A Itália, nosso tradicional e importante parceiro, também apresenta resultado preocupante: depois de exportar quase US$43 milhões em 2011, também vem caindo paulatinamente e, em 2015, exportou apenas 70% desse valor.

O mais surpreendente, no entanto, é a Argentina. Assolada por uma crise interna e abalada pela própria crise brasileira, nossos "hermanos" do Mercosul, apresentaram um queda de 25% nas exportações para o Brasil, de 2011 para 2015.
África do Sul Argentina Austrália
Chile Espanha Estados Unidos
França Grécia Itália
Nova Zelândia Portugal Uruguai
As exportações brasileiras em 2015
As vinícolas brasileiras, junto com o IBRAVIN, com a renitente dificuldade de conquistar os consumidores brasileiros, têm feito grande esforço para conquistar os mercados externos. No entanto, os dados da tabela abaixo mostram como esse esforço resulta em números acanhados. A exportação brasileira de vinhos, com seus 4 milhões de dólares, em 2015, representa apenas 1,4% do valor gasto pelo país com as importações.

E a série histórica não ajuda. Enquanto as exportações em 2013 foram de US$13 milhões e em 2014 foram de US$10 milhões, nota-se que o resultado de 2015, além de pífio, segue um trajetória de queda livre.
Os estados importadores
Na tabela abaixo, listamos os principais estados importadores durante o ano de 2015. Essa informação é derivada da sede fiscal da empresa que importa.

Não há surpresa quanto à primeira colocação ser ocupada por São Paulo.
Por onde entram os vinhos?
Por onde entram os vinhos importados pelo mercado brasileiro? A tabela abaixo mostra, para o ano de 2015, o Porto de Santos é responsável pela chegada de quase metade de todas as importações de vinhos. Quanta concentração!
As vias de transporte
Sem surpresa alguma, o meio de transporte preferencial para a importação de vinhos é o marítimo, com 72% do volume utilizando essa via.
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