
Casta autóctone de Portugal - e virtualmente limitada a esse país - a Baga é uma importantíssima variedade que representa mais de 50% dos vinhedos da Bairrada, sua terra natal. Mas é encontrada também no Dão e no Ribatejo... ooops, Tejo. O mapa abaixo mostra a distribuição dos vinhedos dessa casta em Portugal, denotando um grande concentração na Bairrada e que se espalha, discretamente, pelo Dão.
É uma casta complicada e mal-afamada. Seu casca é grossa e rica em taninos e os tradicionais métodos de vinificação, com a fermentação dos cachos não desengaçados, apenas exacerbavam a adstringência. Junte-se a isso uma altíssima acidez e está montado o cenário assustador para o paladar dos enófilos atuais. Não sobrava uma só gota de saliva na boca.
Os vinhos costumavam repousar por muitos e muitos anos - às vezes, até por 20 anos - para arredondar os taninos... Mas quem, hoje em dia, pode-se dar ao luxo de esperar tanto tempo?
A variedade tem uma tendência à super-produção, o que era considerado um predicado até bem pouco tempo atrás, em Portugal, quando o que importava era apenas a quantidade.
Com essas referências desabonadoras, pode até surpreender muita gente saber que o vinho português mais conhecido e ainda o mais vendido em todo o mundo - o Mateus Rosé - é um corte com predominância de Baga (acompanhada de Rufete, Touriga Franca e Tinta Barroca).

Mas reputa-se a Luis Pato, cognominado o Rei da Bairrada, a fama de ter sido o primeiro enólogo a domar a fera. As modernas técnicas de enologia objetivam a diminuir a tanicidade desde o nascer do vinho, produzindo exemplares mais redondos e suaves, nos quais a fruta pode se apresentar em destaque.
Para produzir um grande vinho, as videiras devem ser plantadas em encostas bem ensolaradas e é essencial obter um grau perfeito de maturação para arredondar os taninos e produzir vinhos com maior volume e persistência. É necessário, igualmente, controlar drasticamente o rendimento para que se possa obter mais concentração e estrutura. Quando tudo dá certo, a Baga produz rótulos que alguns consideram como os melhores vinhos de Portugal.
Quando bem elaborado, o vinho de Baga é encantador. Um bom exemplar da casta tem um enorme potencial de guarda. Sua cor é intensa e os aromas são muito frutados, com notas de amora, compota, mel e cânfora.

A melhor opção para se harmonizar um belo vinho de Baga é ir até a Meta dos Leitões, na Mealhada, e acompanhá-lo com um Leitão à Bairrada. Mas é melhor nem sonhar com hipótese tão distante.
Portanto, se você mora no Rio de Janeiro, o que eu recomendo é fazer uma visita ao Málaga (rua Miguel Couto, 121 - Centro) que, segundo a crítica de gastronomia Luciana Froes, prepara um leitãozinho tão bom quanto os melhores portugueses.
Eu já tive a oportunidade de experimentar e é uma festa para os olhos e para o paladar. A carne é macia, a pele é crocante e dourada e vem acompanhado de farofa e batatas ao murro. Não é barato (R$85 por pessoa) mas é uma opção bem mais em conta do que uma viagem a Portugal. E tem vinho de Baga na carta!
Oscar Daudt (12/04/2012) |