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 Ilhas Baleares
O mundo do vinho cresce tão rapidamente que os elaborados com as tradicionais uvas francesas já não bastam. Muitos produtores, então, resolveram apostar no cultivo de antigas cepas nativas, muitas delas desprezadas e em fase de extinção. Em Espanha, onde reina a Tempranillo, o renascimento de algumas variedades autóctones começou na Catalunya, berço de inúmeras castas e de um povo criativo e empreendedor.
Nas Ilhas Baleares, região com forte influência cultural catalã, não poderia ser diferente. Ali, se cultivam uvas tintas e brancas de enorme potencial e nomes sonoros, como Fogoneu, Callet e Prensal.
Após este preâmbulo, devo dizer que meu primeiro contato com um vinho daquela parte do mundo talvez tenha sido o momento em que me despi de alguns preconceitos e comecei a me interessar pelas infinitas possibilidades que o vinho oferece.
No começo da década, após ser gentilmente convidado para um jantar do corpo diplomático espanhol em Nova York, um amigo me propôs pequena prova cega de um vinho que ele havia trazido de sua última visita à Espanha. Era uma garrafa que nada informava e havia apenas um rótulo estilizado que lembrava os dos vinhos californianos e australianos, que posteriormente vim a saber que eram criações do pintor espanhol Miquel Barceló.
O vinho, já previamente decantado, me foi servido e o máximo que pude intuir, após constatar uma clara nota mediterrânea, era que se tratava de um vinho catalão de qualidade excepcional. Apostei em um vinho de Tarragona e errei por algumas centenas de quilômetros. Era o Son Negre 1999, produzido na ilha de Mallorca pela bodega Ànima Negra.
Ànima Negra
Situada em Felanitx, nos limites da denominação de origem Pla i Llevant, a vinícola maiorquina surgiu em 1994, de forma espontânea e com intenção de elaborar vinhos para consumo próprio, utilizando apenas a variedade Callet, até então preterida pelos viticultores.
O proprietários, Miquelángel Cerdà (foto ao lado), Pere Obrador e Francesc Grimalt, após alguns anos, começaram a investir na recuperação de outras castas autóctones, que dão origem a tintos de rara exuberância, como o Son Negre, o Ànima Negra e o ÁN/2. Os dois primeiros são produzidos exclusivamente com as uvas Callet, Manto Negre e Fogoneu, enquanto que ao ÀN/2 é adicionada uma pequena parcela de Syrah. São vinhos intensos, complexos, com seus toques balsâmicos e taninos maduros.
O único exemplar de vinho branco da bodega é o Quíbia, corte da nativa Prensal Blanc e Muscat. O vinho passa pelo processo de maceração em neve carbônica e é fermentado e criado sobre suas lías por três meses, resultando em um vinho de grande estrutura.
Ao apostar na qualidade de suas castas insulares, e apresentar-nos, safra após safra, caldos dos mais elegantes, com seu valor reconhecido na Península e no exterior, Ànima Negra entra, definitivamente, para o time de grandes da Espanha.
Cesar Galvão |
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