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 Em Busca do Divino
Pelos caminhos de Puente La Reina entravam em Espanha os peregrinos medievais de Santiago buscando as graças, vivenciando a caridade e confortando-se com os perfumados e brilhantes vinhos navarros. Por ali, também comecei minha jornada em busca do encontro com o Divino, não Deus, mas o vinho ibérico.
Por sua excelente localização, seu clima e suas características geológicas, Navarra é uma das grandes regiões espanholas produtoras de vinhos de qualidade. Percorrer esta parte do país e degustar seus vinhos nos permite constatar a enorme importância que o cooperativismo, sistema surgido ali, significa para o êxito da região, já que cerca de 70% de sua produção total é feita por bodegas cooperativas.
Em um panorama tão variado de subzonas, microclimas e vinhedos, os produtores navarros têm conseguido manter a excelência na elaboração de todos os tipos de vinhos, de brancos doces a soberbos tintos a partir das variedades Tempranillo e Garnacha Tinta, uva nativa que também é a base de seus vinhos rosados, de longe os melhores produzidos na Península Ibérica.
Degustando vinhos em bodegas ocorre - como é natural - que em ocasiões se encontrem vinhos veneráveis; outros simplesmente interessantes e, às vezes, também pode o viajante sedento encontrar-se com vinhos detestáveis. Mas, em Navarra, isso é pouco menos que impossível. Ou pelo menos assim me parece. Seja de cooperativas, de grandes bodegas ou de modestos viticultores, o vinho será sempre agradável ou muito bom.
Dentre as propriedades que visitei, destaco o belíssimo Castillo de Monjardín, onde provei inesquecível Chardonnay, as Bodegas Irache e, ao sul do Caminho, em Cintruénigo, a vinícola da família Chivite, considerada por muitos a melhor da região. Também vale destacar a renovada bodega de Javier Asensio, com seus excelentes tintos de Cabernet Sauvignon, Merlot e Tempranillo.
Era minha primeira viagem por Navarra - no meio do inverno - os dias eram curtos e a chegada do crepúsculo indicava a prudente conveniência de buscar o oportuno albergue noturno, o que não me permitiu visitar todas as bodegas que constavam do planejamento original. Mesmo assim, consegui realizar algumas visitas noturnas, e sempre havia alguém disposto a atender-me e oferecer-me os vinhos da nova safra. Subi por escadas rudimentares até grandes cubas de cimento e, algumas vezes, por improvisadas e um tanto perigosas passarelas, percorrendo tinas e provando aqueles deliciosos vinhos que, em muitos casos, ainda não estavam completamente fermentados. As bodegas estavam vazias, mas o silêncio de seus recintos aparecia cheio de inquietos murmúrios. Quando o vinho vertia na taça, já percebia o rico perfume daqueles vales. Aromas de colheita fresca, repleta de lembranças de flores e frutas maduras.
Navarra segue em busca de sua identidade e, pouco a pouco, vai se distanciando da imagem de prima pobre de Rioja, e seus produtores já podem competir com vinhos de outras regiões mais famosas. Conjugando tradição e modernidade, seus vinhos talvez sejam os únicos da Península que pouco tiveram de mudar para estar de acordo com os requerimentos do novo mercado. Só lhes faz falta a incorporação de novas tecnologias para atingirem a perfeição, recordando sempre que são feitos de lendas e histórias. |
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Vinhos recomendados |
 ARS MÁCULA 2003 Compañía Vitivinícola Tandem D.O. Navarra Intensa cor cereja. Nariz rico em aromas, muitas frutas vermelhas, especiarias e minerais. Boca potente, boa acidez e com taninos maduros. Um dos meus tintos preferidos na Denominação. Nota: 90 Onde: Volantis (21-8143-3480)
LOGOS I 2001 Bodegas Logos D.O. Navarra Excelente corte das variedades Garnacha(40%), Tempranillo(30%) e Cabernet Sauvignon(30%). Aromas de frutas maduras, especiarias doces, terroso, elegante. Com paladar especiado, confitado, apresentou taninos doces. Nota: 88 Onde: Cava de Vinhos (24-2222-1990 / 21-9643-2512)
SANTA CRUZ DE ARTAZU 2005 Bodegas y Viñedos Artazu D.O. Navarra O melhor monovarietal de Garnacha que já provei. Nariz especiado, café, fruta madura. Potente, complexo, encorpado, exibindo um retronasal torrefato. Nota: 94 Onde: Vinci Vinhos (21-2236-5390)
CHIVITE COLECCIÓN 125 VENDIMIA TARDÍA 2005 Julián Chivite D.O. Navarra Cor âmbar. Aroma expressivo, fresco, elegante. Boa acidez, confitado, cremoso e com notas defumadas. Disparado o melhor vinho doce espanhol que já degustei. Nota: 96 Onde: Mistral (21-2274-4562) |
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