"LF""LF""LF""LF""LF"
Matérias correlatas
  • Colunistas
  •  
    Cava x Champagne

    Nas conversas entre os amantes de vinhos, é muito freqüente ouvir a pergunta clássica: qual o melhor espumante, Champagne ou Cava? A verdade é que ninguém parece ter a resposta correta. Não podemos dizer em termos absolutos que um seja melhor que o outro, como não se pode dizer que um Barolo seja melhor que um Bordeaux, ou vice-versa. Em todos os casos, dentro da mesma região, há bons e maus vinhos, mas basicamente são tipos diferentes de vinhos. O mesmo raciocínio se pode aplicar ao Cava e ao Champagne.

    Não podemos deixar de reconhecer que foi na região de Champagne onde começou a se elaborar esta peculiar bebida, além da hábil política de marketing que faz com que esse nome evoque esse mundo de magia e celebração que sugerem suas borbulhas douradas.

    A região espanhola da Catalunya, com seu espírito independente, preferiu satisfazer suas próprias necessidades antes de importá-las e, a partir do desejo de criar um espumante de qualidade, criou, no século XIX, o espumante conhecido como Cava.

    O único que os dois têm em comum é o mesmo processo de elaboração, o tradicional método francês, que um dia descobriu o genial Dom Pérignon. Por outro lado, o clima, o solo e as uvas, os três principais elementos que determinam as características básicas de um vinho, são totalmente diferentes.

    Embora Cava seja uma Denominação de Origem, não está inserida em uma única região específica, podendo ser um vinho D.O.Cava feito na Catalunya, Aragón, Levante ou qualquer outra região da Espanha apta a produzir espumantes. É a região catalã do Penedès a produtora de Cava por excelência, com cerca de 90% da produção total deste tipo de vinho.

    Entre os municípios de Vilafranca del Penedès e Sant Sadurní d'Anoia se encontram os melhores e mais tradicionais produtores, como Cordoniú e Freixenet, os líderes de mercado em termos quantitavos, e os de casas menos conhecidas fora do país, como Gramona, Recaredo, Mont-Ferrand, Agustí Torelló e Finca Nadal, entre outras.

    No Penedès, o clima é mediterrâneo, mais quente e ensolarado que a chuvosa e fria Champagne, que produz seus espumantes exclusivamente com as uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier. Já para a elaboração de Cava, as uvas mais utilizadas são as variedades locais Macabeu, Xarel-lo e Parellada, todas brancas, passando pelas menos utilizadas castas tintas Trepat, Garnacha, Subirat e Monastrell, e até as estrelas do "rival", Chardonnay e Pinot Noir.

    Existem outras diferenças regulamentadas no que diz respeito a procedimentos de produção. Na França, o tempo mínimo de envelhecimento desde o engarrafento até a "degola" é de 12 meses; Na Espanha, 9 meses. Outra diferença fundamental entre os dois vinhos é a prática da chaptalização. Para atenuar a excessiva acidez das uvas de Champagne, provocada pela pouco sol que recebem, é permitida a adição de açúcares ao mosto antes da fermentação. Por esse fato ocorre que muitas vezes um Champagne seja ácido e doce ao mesmo tempo. Esse processo, com o Cava, além de desnecessário em razão de suas uvas serem mais doces devido à maior exposição solar, é expressamente proibido pela legislação espanhola.

    De qualquer forma e voltando à pergunta inicial, a conclusão que podemos ter é que nenhum é melhor que o outro, a priori. É mais, se trata de vinhos distintos, uma questão de estilo que só o paladar de cada um pode e deve responder.
     
    Vinhos recomendados

    Juvé y Camps Reserva de la Família Brut Nature 2004
    D.O. Cava
    Elaborada com as variedades autóctones Macabeu(40%), Parellada(40%) e Xarel-lo(20%), este cava é um brut nature e passa, em média, 36 meses em garrafa antes de ser lançado ao mercado. Possui uma cor dourada e pálida. Perlage abundante, compondo uma coroa estável. Nariz muito intenso, apresenta aromas cítricos e de pão tostado, certamente emprestados por seu longo envelhecimento. Excelente frescor e boa cremosidade, e os aromas também são percebidos em seu final longo.
    Nota: 88
    Onde: Península (21-2249-6217)

    Segura Viudas Reserva Heredad Brut Reserva
    D.O. Cava
    Cor palha brilhante. Aromas frescos, de média intensidade, franco e floral. Boca potente, cremosa, com ótima acidez.
    Nota: 87
    Onde: Preebor Company (51-3061-7400)

    Sumarroca Brut Reserva
    D.O. Cava
    Amarelo brilhante, com perlage fina e consistente. Muito perfumado, aroma fresco, floral. Paladar complexo, potente, balsâmico, com média persistência.
    Nota: 89
    Onde: World Wine (11-3383-7477)

    Raventós i Blanc Gran Reserva Brut 2002
    D.O. Cava
    Amarelo dourado brilhante, com excelente perlage fina e abundante. Bom ataque aromático, com notas de leveduras, flores brancas, frutos secos e fruta madura. Boca potente, boa acidez, cremosidade, e um fino amargor no final.
    Nota: 89
    Onde: Decanter (11-3969-4949)
    Comentários
    Paulo Szarvas
    Rio de Janeiro
    RJ
    20/03/2009 Sou fã das cavas espanholas há muito tempo pelo fato, pelo menos para mim inquestionável, de que sofrem menos variações de sabor a cada safra.

    Há também belos espumantes na Bourgogne que rivalizam com aqueles do perímetro geográfico da Champagne. Aliás os produtores dessa região, muito em breve serão obrigados a rever seus preços pois observa-se um aumento significativo no quesito qualidade dos espumantes em geral, o que decerto levará a uma avaliação comercial dos valores hoje praticados.

    Paulo Szarvas
    Jesus Ruiz
    Itaipava
    RJ
    20/03/2009 Para que percebas que leio todas, comentarei que só tem um erro, quando fala de uvas totalmente diferentes, eu corrigiria isto, uma vez que eu tenho cava eleborado com Pinot e outras com Chardonnay de La Rioja (não confundir com DOCa RIOJA)
    Paulo Salerno
    Rio de Janeiro
    RJ
    20/03/2009 confesso que só bebi codorniu rose !
    Cesar Galvão
    Rio de Janeiro
    RJ
    20/03/2009 Prezado Paulo Szarvas,

    Sua colocação em relação aos preços praticados pelos produtores de Champagne é exatamente minha opinião. Além dos Cavas, temos alguns excelentes crémants franceses, italianos Franciacorta e outros produzidos no Trentino-Alto Adige, apenas para citar alguns, mas, infelizmente, o "apelo" que o nome Champagne causa no mundo ainda é muito forte a ponto de limitar a busca por outros espumantes apenas aos conhecedores de vinhos.

    Porém, como bem disseste, os irreais preços dos Champagnes e a constante evolução qualitativa de outras regiões podem mudar o quadro em um futuro próximo. Aguardemos...



    Amigo Paulo Salerno...

    passou da hora de começar a provar os melhores cavas! Hj nem é preciso viajar pra obtê-las, já que existem bons produtos comercializados por aqui e com preços acessíveis.



    Estimado Jesus,

    Em primeiro lugar, devo dizer que fico contente em saber que um "mestre" em vinhos espanhóis como vc sempre lê meus singelos textos.

    Sobre o possível equívoco no texto a respeito das uvas utilizadas nos cavas, devo dizer que estou ciente que existem cavas elaborados apenas com uvas francesas. Eu mesmo tenho em minha adega um rosé 100% Pinot Noir...

    No parágrafo que trata das cepas, quis dizer apenas que as mais comuns são as nativas, mas tb mencionei "até as estrelas do "rival", Chardonnay e Pinot Noir"...

    De qualquer modo, peço desculpas por não ter expressado minha idéia de forma a me fazer compreender.

    Abraços a todos,
    Cesar
    Eduardo Amaral
    Rio de Janeiro
    RJ
    20/03/2009 Caro Cesar,

    Na minha opinião, Champagne e Cavas tem estilos bem diferentes. Eu ousaria dizer que o Cava é mais regular e típico, mantendo toques minerais e oxidados bem consistentes, mesmo variando produtor e rótulo.

    Na Champagne, conta mais o estilo de cada produtor. Discordo um pouco do comentário do confrade Paulo Szarvas quanto a variabilidade de safras em Champagne. Isso raramente acontece nos rótulos de grande volume; talvez nos produtores mais artesanais.

    Provei o Segura Viudas Reserva Heredad recentemente. Não sei o preço, mas achei-o de muito bom a excelente. Já o Juve y Camps Reserva de la Familia me decepcionou um pouco... talvez questão de expectativa.

    Finalmente, para quem tiver curiosidade de provar um belíssimo espumante do hemisfério sul, recomendo o Jacob's Creek Chardonnay Pinot Noir Brut Cuvee. Agora é esperar que o Oscar não me excomunge por não sugerir um espumante gaúcho, bah tchê. ;-)

    []s,
    ==
    Eduardo Amaral
    Rogério Goulart
    Rio de Janeiro
    RJ
    22/03/2009 Cesare, duas perguntas:

  • Da Nadal, voce indicaria algum produto ?

  • É possível achar aqui no Brasil algum produto de alguma dessas vinícolas que voce citou, que só são conhecidas por lá ?
  • Cesar Galvão
    Rio de Janeiro
    RJ
    22/03/2009 Grande Rogério,

    Há alguns anos, quem trazia os vinhos da Nadal era a importadora Gómez Carrera, mas não tenho certeza se ainda trazem. Eles importavam o cava brut da linha mais básica da Nadal e tb traziam um Cava Gran Reserva, chamado Nadal Salvatge Extra Brut. A última safra que provei deles foi 2000, maravilhosa, e agora em Espanha está no mercado a 2003.

    Sobre os outros produtores mencionados, que eu saiba nenhum tem importação no Brasil. Na verdade, uma vez vi perdido um cava do Agustí Torelló em uma loja Expand, mas nunca mais tornei a ver. Recaredo e Mont-Ferrand com certeza não estão por aqui ainda.

    Se vc se interessa por cavas, além dos q mencionei, existem outros poucos produtores por aqui, como Benito Escudero (Cava de Vinhos), Jané Ventura (Mistral), Can Ràfols dels Caus (Vinci) e Don Román (Porto a Porto).

    Forte abraço,
    Cesar
    Ahnis Fraga
    Rio de Janeiro
    RJ
    62/03/2009 Caro César, parabéns!

    Impecável como bem definiu, Cava X Champagne, questão de preferência!

    Eu - e meus sentidos - sou amante incondicional de Cavas. Juvé y Camps Reserva de la Família Brut Nature foi minha estréia e, desde então, busco mais e mais Cavas. Felizmente temos agora maior disponibilidade de bons rótulos e não apenas os Codórniú e Frexenet.

    Como bem colocou, acho q ainda existe sim o apelo Champagne, mas acredito que não apenas preços comecem a fazer diferença, mas informações sobre vinhos, de um modo geral, tornaram-se mais acessíveis - ou menos elitizadas. Artigos como os seus e do Lalas aproximam o apreciador, os curiosos e os "aventureiros" de Bacco dos bons rótulos. Coisa que, há uns poucos anos, estaria restrito aos "cultos".

    Mais uma vez, parabéns!
    Ahnis Fraga
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]