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    Na última semana, enquanto aqui no Brasil todas as atenções estavam voltadas para a Expovinis, acontecia uma das maiores feiras de vinhos da Espanha, a Fenavin, realizada anualmente em Ciudad Real. É uma feira superlativa, com mais de mil produtores espanhóis exibindo seus vinhos, a maioria ainda desconhecida aqui nos trópicos. Dos amigos que estiveram presentes na última edição e que me relataram as impressões da feira e dos vinhos provados, todos exaltaram o que considero a maior virtude da atual Espanha vinícola, que é a enorme evolução qualitativa em regiões que outrora produziam vinhos de qualidade pra lá de duvidosa.

    Apesar de ser o país com a maior área de vinhedos do mundo, possuir um sistema de denominações de origem rigoroso, além de sua enorme variedade de castas, a fama dos vinhos espanhóis quase sempre esteve apoiada nos tintos das zonas de Rioja e Ribera del Duero. Porém, provavelmente impulsionada pela entrada na Comunidade Européia, nos últimos vinte anos a Espanha viu surgir milhares de novas bodegas, das ilhas Baleares, no Mediterrâneo, à Galícia, na costa atlântica, e, atualmente, podemos encontrar fantásticos produtores também em zonas antes famosas por elaborar vinhos rústicos, como Valdepeñas, Utiel-Requena, Manchuela, Cigales, apenas para citar algumas. Como diria um popular presidente de governo, "nunca antes na história deste país se produziu tantos e excelentes vinhos".

    Um dos ícones desta revolução é a região levantina de Jumilla. Na década de 1970, Jumilla era conhecida por produzir vinho a granel, época em que a gigante industrial SAVIN dominava a produção, enquanto pequenas cooperativas locais dividiam uma pequena parte da área de vinhedos. Naquela época, como o mercado não se preocupava com a origem dos vinhos, toda a produção local era vendida e muitas vezes etiquetada sob outras denominações de origem.

    A reviravolta aconteceu no final dos anos 80, quando a região foi assolada com um século de atraso pela filoxera, reduzindo sua produção a 1/3 do volume original. Ao mesmo tempo, renomados produtores franceses se instalaram ali, trazendo na bagagem o conhecimento e as uvas que hoje são a marca registrada da D.O. Jumilla, as tintas Monastrell e Syrah, que logo se adaptaram àqueles solos secos e calcários e mostraram todo seu potencial.

    Atualmente, Jumilla conta com quase 40.000 hectares de vinhedos, que se estendem pelas províncias de Múrcia e Albacete. Além da Monastrell, que reina ali com 85% da área de cultivo e resulta em vinhos leves e frutados, as outras cepas da região são as tintas Syrah, Cabernet Sauvignon, Merlot, Garnacha, Garnacha Tintorera e Tempranillo (conhecida no sul da Espanha como Cencibel) e as brancas Airén, Macabeu, Pedro Ximénez e Malvasía. Os melhores vinhos da denominação são elaborados por bodegas recentemente criadas, como Julia Roch e sua fabulosa linha Casa Castillo, Juan Gil, El Nido (grupo Orowines), Casa de la Ermita e Agapito Rico. As exceções são as casas Bleda e Olivares, ambas fundadas na década de 1930, mas que se modernizaram e hoje estão entre as mais tradicionais da Espanha.

    Após reinventar a si mesma e ressurgir como um oásis de vinhos de qualidade, Jumilla se converteu em um dos maiores expoentes da vitivinicultura do sul da Espanha, simbolizando o dinamismo deste país que não para de inovar.
     
    Vinhos recomendados

    Juan Gil Monastrell 2005
    D.O. Jumilla
    Nota: Cor rubi escuro. Nariz complexo, especiado, tostados, fruta madura. Paladar frutado, equilibrado e harmônico. Um dos grandes tintos do sul da Espanha.
    93 pontos
    Onde: Porto Leblon (Tel: 21 2549 8828)

    Carchelo 2006
    D.O. Jumilla
    Nota: Cor rubi intenso. Bom ataque aromático, exibindo camadas de frutas vermelhas maduras e notas florais(pétalas de rosa). Boca potente, boa acidez, taninos maduros. Excelente corte de Monastrell, Tempranillo e Cabernet Sauvignon elaborado pela bodega Agapito Rico, uma das melhores na zona de Múrcia.
    87 pontos
    Onde: Vinci (Tel: 21 2236 5390)

    Olivares Monastrell Dulce 2003
    D.O. Jumilla
    Nota: Cor rubi, com reflexos granada. Aromas de especiarias doces, fruta confitada, cacau. Boca potente, cremosa, boa acidez, persistente.
    89 pontos
    Onde: Grand Cru (Tel: 11 3062 6388)

    Casa de la Ermita Tinto 2005
    D.O. Jumilla
    Nota: Vermelho rubi, reflexos granada. Boa complexidade aromática, notas de cacau, torrefação, especiarias. Paladar especiado, com boa acidez, taninos doces.
    88 pontos
    Onde: Expand (Tel: 11 4613 3333)
    Comentários
    Mauro Raja Gabaglia
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    14/05/2009 Cesar,

    Experimentei um vinho dessa região de Jumilla, o Panarroz 2006, importado pela Grand Cru e na faixa de R$50,00, que achei excelente. Muito macio, com taninos suaves e que recebeu 90 pts de Robert Parker. Um ótimo custo-benefício!
    Alexandre Lalas
    Jornalista
    Rio de Janeiro
    RJ
    14/05/2009 Grande Cesar

    Gosto muito dos vinhos de Jumilla. Um dos melhores vinhos espanhóis que tive o prazer de provar é desta região: o El Nido. Infelizmente, não chega por aqui.

    Vale destacar também que, por conta do clima quente que possibilita a maturação ideal da uva, a petit verdot vai muito bem por lá. A Casa De La Ermita mesmo faz um belo vinho com esta casta.
    Cesar Galvão
    Rio de Janeiro
    RJ
    14/05/2009 Mauro,

    O Panarroz é mesmo um ótimo vinho, assim como o Altos de La Hoya, também da bodega Olivares. Uma das vantagens dos novos tintos de Jumilla é que a maioria guarda excelente relação preço/qualidade.



    Grande Lalas!

    Já sentia falta do teu comment aqui, pois sei que és grande apreciador de vinhos espanhóis também...

    Anotei tua dica do PV da Casa de la Ermita. Nunca provei... Em Espanha, só vi Petit Verdot em Jumilla em duas bodegas, muito bons por sinal: o Sabatacha PV da Bodega San Isidro e o da Finca Luzón, que foi o segundo melhor varietal de Petit Verdot que já provei em Espanha (claro que perde pro clássico da Abadía Retuerta).

    Além da PV, q não citei no texto por ser ainda pouco representativa ali, outra casta permitida na D.O. que começa a dar resultados é a Sauvignon Blanc. Ainda não provei nenhum, mas já tenho relatos de bons exemplares... só nos resta aguardar se um dia chegará algo pra nós tupis...

    Forte abraço,
    Cesar
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