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 A Pinot Noir é uma das grandes uvas do mundo vinícola. Se não pode ser considerada a que resulta nos melhores vinhos, pelo menos é a mais sedutora. Matéria prima única dos vinhos da Côte d'Or, além de ser um dos três pilares de Champagne, foi difundida na Europa, inicialmente, pelos monges cistercienses, e hoje encontra-se na região francesa da Alsace, Alemanha (onde ganha o nome de Spätburgunder), Suíça, Áustria, Itália, Espanha e leste da Europa. No Novo Mundo, já se estabeleceu com sucesso nos Estados Unidos e Nova Zelândia, mas é cultivada em quase todos os outros países vinícolas, do Chile à Austrália, incluindo o Brasil.
É uma uva de difícil trato, muitas vezes se transformando em verdadeira "dor de cabeça" para o viticultor. Constantemente chamada de feminina, por seu caráter arisco e sua frágil delicadeza, para extrair da Pinot Noir todo seu potencial, é necessária uma enorme habilidade por parte do enólogo, além de uma boa dose de sorte. A Pinot Noir gosta de climas moderadamente frios, motivo pelo qual se dá bem na Bourgogne e, mesmo lá, em anos não bastante quentes, os vinhos resultam inexpressivos.
O vinho elaborado a partir da Pinot Noir é difícil de definir, no aspecto olfato-gustativo, uma vez que, diferente das demais cepas tintas, depende muito do terroir do qual foi extraída e de sua vinificação.
Na Espanha, a Pinot Noir é cultivada principalmente na região do Penedès, na Catalunya, e também começa a dar excelentes resultados nas áreas próximas a Valencia, mais precisamente nas denominações Alicante e Utiel-Requena.
Na região catalã, além de ser umas das uvas autorizadas pela Denominação de Origem Cava para a elaboração de seus famosos espumantes, é bastante cultivada em todas as demais denominações locais, com algum sucesso. Miguel Torres foi o precursor no Penedès, com seu ótimo Mas Borràs, vinho de excelente relação qualidade/preço. Outras bodegas também fazem seus Pinots, como Albet i Noya e a Abadía de Poblet, vinícola que pertence ao grupo Codorniú e elabora soberbos monovarietais de Pinot Noir na zona de Conca de Barberá. Ainda no Penedès, a bodega Can Ràfols dels Caus faz seu Pinot Ad Fines, em um estilo mais bourguignon, tanto em cor quanto em aromas. Já no Priorat, é comumente usada em assemblages, mais precisamente em conjunto com as cepas Garnacha e Merlot.
Outras regiões espanholas apostaram na qualidade da Pinot Noir e já apresentam excelentes vinhos, como é o caso da região de Alicante. Lá, onde a casta tinta dominante é a Monastrell, Enrique Mendoza faz um vinho concentrado, com presença marcante do carvalho. Se lhe falta a elegância dos grandes Bourgogne, abundam a baunilha e a madeira aromática, perfeitamente combinadas com os aromas florais da Pinot Noir.
Em Utiel-Requena, um caso de amor. Em meus tempos de Espanha, minhas referências na região eram bons tintos de Tempranillo, Cabernet Sauvignon e da nativa Bobal, e de ser uma das poucas no país com excelentes brancos de Chardonnay. Tudo mudou há poucas semanas, quando um amigo chegou de uma feira em Espanha e trouxe na bagagem um 100% Pinot Noir, D.O. Utiel-Requena. Qual não foi meu espanto, já que sabidamente o clima da região é quente a maior parte do ano e nunca tinha visto uma vinha de Pinot Noir ali ou sequer provado um daquelas zonas. Pois a recém fundada Bodegas Hispano-Suizas elabora seu Pinot Noir, com o sonoro nome Bassus. O vinho nada tem a ver com o que esperamos de um Pinot Noir, é moderno, quente, complexo, encorpado e com uma cor profunda. Provei sem pretensões, em um momento alegre e descontraído, mas a cada gole o imaginava escoltando um prato de caça ou mesmo um pato e suculentos molhos.
No estilo tradicional francês, com seu goût de terroir, ou no melhor estilo Novo Mundo, a Pinot Noir continuará encantando, com seu jeito temperamental, a quem tentar entendê-la, no vinhedo ou na taça. Coisas da natureza feminina. |
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Vinhos recomendados |
 Mas Borràs 2006 D.O. Penedès Nota: Cor rubi. Nariz potente, frutas vermelhas frescas, baunilha, notas de madeira nova. Paladar fresco, boa acidez, fácil de beber. Este Pinot Noir está longe de figurar entre os melhores rótulos de Miguel Torres, mas reproduz a regularidade deste produtor que, na minha opinião, é um dos mais consistentes em todas as regiões vinícolas onde produz vinhos. 85 pontos Onde: Reloco (Tel: 21 2215 8055)
AD Fines 2001 Can Ràfols dels Caus D.O. Penedès Nota: Vermelho rubi com reflexos alaranjados. Boa complexidade aromática, com notas de couro, floral (violetas), tabaco, uma discreta nota de cereja e um fundo terroso. Paladar potente, sedoso, com notas de especiarias e alguma mineralidade, boa acidez, ligeiro. Excelente exemplar de Pinot Noir mediterrâneo. 89 pontos Onde: Vinci (Tel: 21 2236 5390)
Enrique Mendoza Pinot Noir 2004 D.O. Alicante Nota: Cor rubi com reflexos granada, brilhante. Aromas intensos de frutas vermelhas, passas, florais e um fundo de madeira bem integrada. Boca potente, médio corpo, boa acidez, tânico. Ótimo vinho, mas sem a tipicidade da Pinot Noir. 86 pontos Onde: Península (21 2249 6217)
Bassus Pinot Noir 2007 D.O. Utiel-Requena Nota: Cor rubi escuro, com reflexos violáceos. Nariz intenso, rico, com aromas de café, cacau em pó, frutas vermelhas compotadas e toques terrosos. Na boca, bom ataque, com médio corpo e ótima persistência, taninos doces e integrados, boa acidez. Um daqueles vinhos inesquecíveis! 91 pontos Onde: Bodegas Hispano-Suizas ([email protected])
Cava Juvé y Camps Brut Rosé D.O. Cava Nota: Os espumantes rosados da denominação Cava costumam ser elaborados, em sua maioria, a partir das uvas locais Monastrell, Garnacha e Trepat. Já a tradicional vinícola Juvé y Camps resolveu apostar em um cava rosé 100% Pinot Noir e teve ótimo resultado. Cor cereja brilhante, perlage fino e estável. Aromas finos de cerejas, morangos frescos, framboesas, florais. Seco e encorpado, cremoso, muito bem equilibrado e com ótima acidez. 89 pontos Onde: Península (21 2249 6217) |
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