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    Desde que comecei a beber vinhos como gente grande, que uma certa pergunta me persegue por onde quer que eu vá e encontre um enófilo - "Qual o melhor vinho que você já bebeu na vida?"

    É uma das questões que quase sempre ficam sem resposta pois, qualquer vinho que eu apontasse como o melhor de todos, seria, no mínimo, um equívoco, pra não dizer uma enorme injustiça com os vários outros que tive a sorte de provar, muitos inesquecíveis.

    A outra razão é que, simplesmente, não existem parâmetros de comparação entre um Puligny-Montrachet, um Riesling alemão, ou um Sauvignon da Nova Zelândia, para ficarmos apenas nos vinhos brancos como exemplo.

    Nas últimas semanas, curiosamente, a tal pergunta foi-me apresentada com uma frequência assustadora, e até mesmo feita por um experiente enólogo português, explicitamente ansioso em questionar minha opinião. Talvez por ter observado este pequeno detalhe em meu interlocutor, por primeira vez na vida resolvi não ser evasivo, saí da zona de conforto, e respondi-lhe sem hesitar: - "O melhor vinho que já provei na vida foi um tinto espanhol chamado Pesus"! Para minha surpresa - e uma pontinha de decepção, pois a resposta foi para incitar-lhe a rivalidade com o primo ibérico - o colega luso arregalou os olhos, assentiu com a cabeça e exclamou: - "Pois este sim é um supervinho, e o 2001 é o melhor vinho já feito nas margens do Douro!"

    Provocações à parte, o Pesus é sempre o primeiro vinho que me vem à cabeça quando a renitente pergunta me é feita. Acima de todos. Por ter provado um sem-número de maravilhosos vinhos, antes e depois dele, a única razão que explicaria tal fenômeno é a feliz recordação de tê-lo provado com total ausência de expectativas diante da taça. Sempre esperamos algo a mais quando nos deparamos com uma garrafa - aberta, claro - de Vega Sicilia ou algum tinto do mago Alejandro Fernández, e o efeito psicológico positivo é instantâneo.

    O Pesus é o vinho top das Bodegas Hermanos Sastre (também conhecida como Viña Sastre), localizada no pequeno pueblo de La Horra, na província de Burgos. Ali, no coração da Ribera del Duero, os irmãos Jesús e o saudoso Pedro Sastre, utilizando-se das melhores uvas de vinhedos com mais de cinquenta anos, criaram sua jóia mais valiosa. Com sua primeira safra datando de 1999 e colecionando prêmios desde então, o Pesus é elaborado com as uvas Tempranillo - conhecida naquela região como Tinta del País - , Merlot e Cabernet Sauvignon, estagiando por 22 meses em barricas novas de carvalho francês. Um dado curioso em sua produção é que, por tradição, apenas os familiares se encarregam da colheita deste vinhedo.

    É um vinho superlativo, em todos os sentidos. A produção é limitadíssima, de 1500 garrafas/ano, o que o torna raro e grandioso. Apresenta enorme complexidade aromática, com frutas negras, torrefação, cacau, especiarias (canela, pimenta do reino), eucalipto, ervas (tomilho, lavanda) e notas minerais. Apesar de seus quase 15° de álcool, se mostrou elegante, complexo e bastante expressivo. Na degustação da safra 2001, dei 99 pontos e, na 2003, levou "apenas" 97.

    Se o vinho tem algum defeito? Tem, o preço.
     
    Vinhos recomendados

    Viña Sastre Crianza 2005
    D.O. Ribera del Duero
    Nota: Cor rubi escuro. Nariz intenso, de grande complexidade, com aromas de fruta madura, chocolate, tabaco, especiarias. Paladar elegante, estruturado, taninos maduros e ótima acidez. Vinho fantástico, para os que não podem se aventurar pelo Pesus, Regina Vides e Pago de Santa Cruz, as estrelas deste produtor.
    93 pontos
    Onde: Península (21 2249 6217)

    Alonso del Yerro 2005
    D.O. Ribera del Duero
    Nota: Púrpura intenso. Nariz potente, com fruta negra muito madura (amora, blueberry), caramelo, torrefação. Paladar com uma textura macia, boa acidez, final longo. Enorme potencial de guarda. Já tinha degustado as safras 2004 e 2006, de enorme qualidade e, após atestar sua regularidade, Alonso del Yerro se torna um dos melhores Ribera del Duero modernos, em minha opinião.
    94 pontos
    Onde: Península (21 2249 6217)

    Portia Prima 2005
    D.O. Ribera del Duero
    Nota: Cor rubi com reflexos granada. Intenso ataque aromático, frutado, com notas de tabaco e torrefação bem marcantes. Boca potente, boa estrutura, taninos secos porém maduros, retronasal frutado. Se mostrou excelente parceiro para um pernil de javali com batatas ao forno.
    89 pontos
    Onde: Cava de Vinhos (24 2222-1990 / 21 9643-2512)

    Musai de Tinto Roa Reserva 2005
    D.O. Ribera del Duero
    Nota: Cor rubi escuro. Aromas de fruta madura, madeira nova, terroso, café. Na boca, mostrou potência e ótima acidez. Um vinho concentrado, excelente estrutura, taninoso. Vale a pena esperar de 1 a 2 anos para abri-lo.
    91 pontos
    Onde: Volantis (21 8143 3480)
    Comentários
    Ignacio Carrau
    Administrador
    Rio de Janeiro
    RJ
    14/06/2009 Prezados amigos,

    Gostei dos comentarios do Cesar Galvão e da colocação dele em relação a esse assunto, que muitos enófilos gostariam de saber alguma resposta a respeito.

    Pessoalmente, acho que o melhor vinho do mundo NÃO existe e o que sim existe são as melhores garrafas, pois mesmo dentro de grandes safras dos melhores vinhos existem diferenças entre elas, por os mais diversos motivos, como local onde estamos degustando, em companhia de quem e a nosso estado de espiritu nesse dia e hora, etc...

    E para encerrar a conversa, o que sim existe são as melhores garrafas para cada enofilo que podem ser muitas e totalmente diferentes, ja que todos temos gostos diferentes e apreciamos sabores e estilos diferentes, e isso sem considerar a evolucao dos mesmos em cada um, na medida que eles tambem variam com o passo de tempo e sempre descobrimos estilos e matices novos que nos encantam e nos fazem ate mudar de opiniao.

    O importante é descobrir quais sao os nossos melhores vinhos e sempre que possivel disfrutar de algum deles sem deixar de experimentar novos para acompanhar a nossa propria evolução e continuar descobrindo novas alternativas para nossa satisfação pessoal.

    Ignacio Carrau
    Rogério Goulart
    Rio de Janeiro
    RJ
    14/06/2009 Fala Cesare,

    Quanto custa o Pesus, Regina Vides e Pago de Santa Cruz?

    Obs: Preciso falar com voce, mas não estou conseguindo. Me dá uma ligada.

    Grande abraço,
    Rogerio Goulart.
    Valdiney C Ferreira
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    15/06/2009 Caros,

    Em degustação recente às cegas de vinhos espanhóis com a presença de degustadores experientes estavam o Sastre Pesus 2004, o Sastre Pago Sta Cruz 2003 Gran Reserva e o Sastre Regina Vides 2003. Sairam-se melhor o Pago Santa Cruz e o Regina Vides. O principal senão ao Pesus foi a sua acidez. Lembro-me que o mesmo foi descrito como "uma bomba frutada com desequilibrio no seu frescor". Um problema da safra ou um estilo para este vinho? Não o conhecia antes e considerei o fator calidad/precio apenas correto.

    Como informação: o Regina Vides nos custou 65 Euros (preço Espanha).
    Ahnis Fraga
    Rio de Janeiro
    RJ
    15/06/2009 Cesar,

    Como sempre, excelente questão! Penso sempre que o melhor vinho para mim, pode não ser para o outro, pois envolve como nossos sentidos serão provocados e as benditas sensações. Sem falar nos momentos...

    Porém é importante reconhecer a qualidade dos vinhos por características que os tornam verdadeiramente melhores, como as que você citou do "seu melhor vinho", o Pesus.

    Bjs,
    Ahnis
    Roberto Cheferrino
    Rio de Janeiro
    RJ
    15/06/2009
    Cesar Galvão
    EnoEventos
    Rio de Janeiro
    RJ
    16/06/2009 Grande Rogério,

    Quem traz os vinhos da Sastre é a Península. No site deles constam os seguintes preços:

    Pesus 2003 - R$ 2.782,00
    Regina Vides 2001 - R$ 992,00
    Pago Santa Cruz 2001 - R$ 429,00

    Em Espanha, o Pesus por custar até 450 euros, dependendo da safra.



    Caro Valdiney,

    Acredito que nesta degustação da Sastre que vc participou, é bem possível que o problema com o Pesus seja com a garrafa, individualmente falando. Todos sabemos que existem boas e más garrafas do mesmo vinho, e isso depende de inúmeros fatores.

    As 2 oportunidades que degustei o Pesus foram na vinícola, o q me leva a crer q dessa forma não há maneira de dar azar com o vinho. Uma vez no mercado, sabe-se lá como é armazenado, como viaja de um lado a outro, etc.

    Ao escrever essa msg, acabo de recordar de um Alión 2004 q bebi no mês passado aqui no Rio. Para não dizer q estava horroroso, em nada parecia com o 2001, 2002, e um outro 2004 q provei anteriormente e eram excelentes.

    Talvez isso tudo corrobore a frase do mestre Hugh Johnson, q afirma q "não existem grandes vinhos, mas grandes garrafas de vinho". De qualquer modo, pode ser também que o vinho estivesse em sua melhor forma e não te agradou mesmo assim. Aí que está a graça de falar de vinho...

    Forte abraço,
    Cesar
    Rafael Mauaccad
    Enófilo
    São Paulo
    SP
    16/06/2009 Caro Cesar,

    Em recente evento "Degustacão de Vinhos da Espanha 2009", promovido pela Embaixada da Espanha e pelo ICEX no Grand Hyatt São Paulo, tive a oportunidade de conhecer os vinhos das Bodegas Franco-Españolas. Sabedor da influência francesa no sucesso dos vinhos riojanos e de sua semelhança aos bordaleses, nunca me senti tão intrigado, instigado, desconcertado, inebriado, maravilhado com estes vinhos que eram perfeitos grand cru de Pomerol: RIOJA BORDÓN CRIANZA 2005, RESERVA 2004, GRAN RESERVA 2001. Os melhores vinhos, em minha opinião, desta mostra, e que também foi a melhor mostra.

    A humanidade e o conhecimento estão em constante evolucão. Pelo seu conhecimento de Espanha poderia comentar sobre esta bodega e as maravilhas que produz?

    Forte abraco,
    Rafael
    Cesar Galvão
    EnoEventos
    Rio de Janeiro
    RJ
    16/06/2009 Caro Rafael,

    Visitei esta bodega há 6 anos e quase nada bebi deles após este dia. Devo dizer que, pra quem está por Logroño, é um passeio e tanto, pela arquitetura e história desta bodega centenária.

    Confesso que os vinhos não eram os melhores. Ou, talvez, eu estivesse em um mal dia pra degustar, sei lá! Mas, o fato é que não gostei dos brancos, me abstive dos rosados (coisa q nunca faço, pois sou apreciador deste tipo de vinho) e os tintos eram apenas bons, como tantos outros.

    A exceção foi o reserva Barón d'Anglade 1995. Aquele sim era um tinto pra ficar na memória. Não me recordo dos detalhes técnicos, apenas que era um corte de Tempranillo, Graciano e Mazuelo e as barricas que eles utilizavam eram de Allier. Fica aqui uma dica de excelente Rioja pra quem visitar a Espanha...

    Após essa visita, participei de um painel de tintos da Rioja, alguns anos depois, e entrou o Bordón Gran Reserva 1998. Dos 16 tintos, ele ficou em último lugar, atrás de vinhos como Remelluri La Granja, Allende AVRVS, Finca Valpiedra, Aro Muga e do Marqués de Vargas Hacienda Pradolagar, o grande campeão da degustação.

    Enfim, eram outras safras, portanto, outros vinhos...pode ser que as últimas safras - as q provaste em SP - sejam realmente fantásticas.

    E fico aqui com uma "ponta de inveja" de não ter estado no Hyatt para esta mostra...

    Grande abraço,
    Cesar
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]