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Não espere o Parker pontuar alto algum vinho brasileiro para começar a experimentá-los e a oferecê-los a seus amigos. Comece já, ofereça principalmente a estrangeiros, que não têm preconceito, você verá a surpresa. E não é só por bons espumantes que o vinho brasileiro é "hype" não, há certamente mais de cem bons vinhos que você certamente desconhece e que pode servir com orgulho.

Se visitar a Serra Gaucha então vai tomar um grande susto. É um Napa Valley brasileiro. Tudo é moderno, limpo, profissional, com estrutura de enoturismo eficiente, que deixam o brasileiro orgulhoso de seu pais. Até SPA do Vinho nós temos, com a assinatura Caudalie. É tudo muito recente e para se entender a trajetória é preciso primeiro lembrar que somos muito jovens como pais viti-vinícola de verdade. Até a década de 90 era raro um produtor de qualidade como o famoso Vinho Velho do Museu da Família Carrau ou o Adega Medieval de Oscar Guglielmone, vinhos que tinham classe e caráter e que evoluíam muito.

Toda a transformação do setor, diga-se, foi feita pela iniciativa privada, nosso governo infelizmente até hoje não implantou um programa de reconversão de vinhedos para as vitis viniferas que produzem os vinhos finos de qualidade. No Brasil, dos 350 milhões de litros de vinho que se produz por ano, apenas 40 milhões são de vinhos finos. Todo o resto é de uvas híbridas ou americanas que produzem vinhos baratos de garrafão. E tudo aconteceu de dez, vinte anos para cá, por mérito da iniciativa privada.

O Talento 2005 por exemplo, da centenária Salton, hoje a maior instalação vinícola do país - com 30 mil metros quadrados de área coberta! - foi escolhido pelo qualificado júri da Expovinis 2009 (maior evento de vinhos da América Latina), como o melhor tinto brasileiro, só que a primeira safra desse vinho foi em 2002. A Miolo, que hoje em suas três unidades produz cerca de 10 milhões de litros de vinho por ano, exporta seus vinhos para mais de vinte países e conta até com a consultoria do famoso winemaker Michel Rolland, está completando apenas vinte anos como vinícola. Não é nada. Os Valduga também são recentes nos vinhos finos de qualidade e seus espumantes estão fazendo um sucesso enorme aqui e no exterior. O seu Valduga 130 Anos de Chardonnay e Pinot Noir, sempre fica muito bem colocado às cegas entre champagnes famosos e agora ele terá também a uva Pinot Meunier no assemblage, completando assim o trio de castas originais de Champagne.

Mas o vinho brasileiro não se resume à Serra Gaucha. Outra recente novidade no nosso cenário são as excelentes vinícolas em Santa Catarina, como a Villa Francioni, a Sanjo, a Panceri e a Villagio Grando, com vinhos extraordinários que impressionaram o famoso crítico de vinhos espanhol José Peñin em recente visita ao Brasil e que chamou Santa Catarina de Médoc Brasileiro.

O Nordeste brasileiro então surpreendeu ninguém menos que Jancis Robinson, a famosa crítica inglesa de vinhos, que se referiu ao Paralelo 8 não como do "Novo Mundo", mas sim de uma nova categoria denominada "Nova Latitude". Naquele clima, a videira tem o que se chama de ciclo de vida contínuo, pois sem o inverno para hibernar, ela não para de produzir. Só que os enólogos da Universidade de Lisboa descobriram que podem "induzir" o inverno às videiras, podando-as e cortando a irrigação. Assim as videiras hibernam quando o enólogo decide. Dessa forma, acredite se quiser, a Vini Brasil dividiu seus vinhedos em vinte e cinco parcelas, de modo que sempre há uma parcela hibernando, uma florindo, uma com frutas sendo colhidas e assim por diante. São vinte e cinco safras por ano! O caso é único no mundo. E olhem que seu vinho mais simples, o Rio Sol, foi eleito o melhor vinho brasileiro pelo mesmo júri da Expovinis em 2008, que este ano elegeu o Talento! Deguste o Alicante Bouschet Wine Makers e verá do que se trata.

Mas o mais interessante no Brasil é que existem inúmeras pequenas vinícolas fazendo os chamados "vinhos boutique" ou "vin de garage" ou "vinho de autor". Entre esses produtores destacam-se a Boscato, talvez a vinícola mais organizada e limpa do Brasil, com um controle tecnológico raro e cuidadoso e tocada apenas pela família. Seus vinhos são especiais e às cegas surpreendem sempre. Eles acabam de lançar o Anima Vitis, um dos melhores vinhos brasileiros. Outro caso é Roberto Carlos Dachery, talvez o único vinhateiro de ascendência francesa em meio a tantos "oriundi" italianos da Serra Gaúcha, que produz vinhos maravilhosos e elegantes, com estilo bordalês e com madeira bem dosada, muitas de segundo e terceiro usos.

Marco Danielle então é um gênio. Fotógrafo de mão cheia, fascinou-se pelo mundo do vinho e melhor, do vinho autêntico. Não tem o menor interesse em produzir vinhos de volume e com perfil de Novo Mundo. Ele persegue o vinho puro, natural, sem adições químicas e que reflita o terroir. Sua vinícola chama-se Tormentas e seus vinhos a cada ano são produzidos de forma distinta, refletindo o clima e a resposta das videiras. Nenhum é igual e nenhum merece comparações pois são únicos. Seu talento fotográfico e sua sensibilidade levaram-no a produzir um belíssimo rótulo para seu Minimus Anima, retratanto uma moça que colhia uvas em uma vindima. Em seu site ele fala de "subjetividade do gosto" e alerta que os vinhos não são filtrados ou estabilizados artificialmente, de forma a preservar ao máximo as características naturais. Um mundo à parte que o brasileiro ainda está por conhecer. Abra-se, aventure-se e maravilhe-se nesse universo de vinhos brasileiros. Não espere que os críticos de fora o façam antes de você.
 
Recomendações do Didú

Espumantes
Aurora Brut Pinot Noir
Casa Valduga 130 anos
Cave Geisse Brut Nature
Chandon Brut Excellence
Miolo Millésime Brut
Rio Sol Espumante Rosé
Salton Evidence

Brancos
Casa Valduga Chardonnay Gran Reserva
Fabian Chardonnay
Sanjo Nubio Sauvignon Blanc
Villagio Grando Chardonnay

Tintos
Angheben Barbera
Cordilheira de Sant'Ana Reserva Especial Tannat
Luiz Argenta Merlot
Marson Gran Reserva Cabernet Sauvignon
Pizzato Concentus
Quinta da Neve Pinot Noir
Rio Sol Winemaker Selection Alicante Bouschet
Vallontano Merlot Reserva
Villagio Grando Inominable

Veja a relação completa do 116 vinhos brasileiros recomendados por Didú Russo em www.didu.com.br
Nota do editor
Este artigo de Didú Russo foi publicado na edição #5 da revista Gourmet Life. Eu fiquei bastante entusiasmado em ver uma das personalidades do vinho mais respeitadas de São Paulo fazer uma apologia tão importante dos vinhos brasileiros. Imediatamente, liguei para Didú e para meu amigo Renato Frascino, consultor da revista, pedindo autorização para reproduzir a coluna. Gentilmente, ambos concordaram.

Renato me pediu para aproveitar a ocasião e comunicar aos leitores cariocas que a Gourmet Life já está sendo bastante distribuída no Rio de Janeiro. Confiram na tabela abaixo a relação das bancas cariocas que já estão vendendo a revista:
Comentários
Affonso Nunes
Jornalista e enófilo
Rio de Janeiro
RJ
08/09/2009 Não conheço todos os rótulos da lista completa do Didú, mas partilho de sua opinião em relação a vários deles.

Não reconhecer que a jovem vinicultura brasileira evolui a passos largos e decididos é sintoma de miopia.
Carlos Machado
Presidente da ABW
Teófilo Otoni
MG
08/09/2009 Verdadeiramente uma justa apologia ao vinho brasileiro! É chegada a hora para quebrarmos os paradigmas ao vinho feito no Brasil.

Recentemente, participando do 1º Curso WSET - Nível I realizado em Belo Horizonte, tive a oportunidade de pedir a palavra ao Eugênio (chileno muito bacana) e disse aos colegas de curso (maioria formada por profissionais de importadoras, lojas e restaurantes) da minha indignação em não encontrar rótulos brasileiros nas cartas de muitos restaurantes. Há uma cadeia injusta criada ao longo do tempo que se funda em bases fracas, ou sejam, peso dos tributos, dificuldades comerciais com os produtores brasileiros e preferência pelo vinho importado.

Do vinho muito pode-se dizer, e muitos são os grandes conhecedores; mas da mesma forma, diversas são as possibilidades para extrair significativas sensações do vinho. Uma delas é conhecer o terroir do vinho, sentir o clima, andar sobre a terra, pegar nas videiras, colher as uvas, visualizar a vinificação, conversar com os enólogos, degustar vinhos diretamente da barrica, dentre outras vivências. Onde a grande maioria de nós, apreciadores do vinho, poderá levar a efeito algumas das sensações mencionadas? Seguramente que o Brasil, de Norte a Sul, já oferece tais condições. Temos o terroir do Vale do São Francisco, o terroir dos vinhos de altitude em Santa Catarina, o terroir master do Vale dos Vinhedos e o terroir da Campanha no Rio Grande do Sul (apenas para citar alguns dos principais).

Portanto, como bem disse o IBRAVIN, abra e se abra, abra um vinho brasileiro.

Grande abraço a todos!
Jandir Passos
Professor
Rio de Janeiro
RJ
09/09/2009 Para pouco tempo, 20 anos no máximo, de investimento consistente e constante na melhoria do vinho fino brasileiro. E esse tempo é nada, comparado aos mais de 2000 anos de tradição européia em produção e consumo de vinho fino, mas ainda assim houve um salto qualitativo considerável.

Certamente há muita coisa a melhorar ainda mas estamos caminhando, evoluindo. Interessante observar que o estrangeiro, quando vem ao Brasil, muitas vezes se surpreende com o vinho brasileiro. Nós é que temos ainda o "complexo de cachorro vira-lata" ao achar que se é vinho importando é sempre a priori, e necessáriamente, melhor do que o nacional...
Cristina Neves
Promotora de eventos
São Paulo
SP
12/09/2009 Querido Oscar,

Parabéns, você está matando a pau, fazendo um excelente trabalho em prol do vinho, sem misticismo, sem amarras, sem preconceito.

Fico muito feliz que tenha somado ao já maravilhoso ENOEVENTOS o nosso querido Didu, que além de competente, tem uma família linda, é super gente boa e divertido até não poder mais.

Agora, nos eventos que a gente fizer aqui e não puder fazer aí, vc tem um correspondente!!!

Parabéns e sucesso.
Cris Neves
Paulo Lima
Engenheiro
Rio de Janeiro
RJ
20/09/2009 Oscar,

Parabéns pelas excelentes matérias com os vinhos nacionais! Nós, amantes do vinho, temos que trocar o "pré conceito" pelo conhecimento e começar a experimentar nossos vinhos. Estou neste processo atualmente e bastante animado, sendo surpreendido a cada nova descoberta brasileira.

A Pizzaria Eccellenza, por exemplo, está criando o conceito de ter na carta e trazer como sugestão do mês vinhos nacionais de pequenas vínicolas "boutique". Através de uma pesquisa selecionada, temos a possibilidade de conhecer excelentes vinhos e com uma relação custo benefício surpreendente.

O Brasil vem com tudo!

Forte abraço!
Osmir Avila Abrantes
Engenheiro e enófilo
Cascavel
PR
12/10/2009 Didú,

É a primeira vez que contato na escrita com comentários a respeito das matérias no EnoEventos.

Concordo com a descrição do Vale do Vinhedo ser a Napa Valley, mas alerto que conforme acompanhei, decisão e ganância dos vereadores de Bento Gonçalves, uma parte daquele bucólico local dará lugar a um empreendimento imobiliário que irá descaracterizar e prejudicar o enoturismo. Devemos nos unir e combater àqueles que só pensam no metal e não conseguem ter amor à terra que o fez cidadão.
Fernando Sequeira de Matos
Aposentado
Mealhada
Bairrada
Portugal
14/10/2009 Caros amigos Brasileiros

Têm de por de lado uma certa maneira muito portuguesa de estar no mundo, que é a de que o que é bom é estrangeiro.

Agora vou tentar reproduzir a conversa que tive com o sr. Victor Magalhães, português que tem o seu lugar na Organisation Intergouvernementel de L´Organisation International de la Vigne et du Vin no IV Concurso Internacional de Bento Gonçalves, no ano passado.

Estávamos a degustar um bom Porto no Hotel no final do dia do Concurso, quando ele de chofre me perguntou: "Caro Fernando, quantos anos pensa que tem este Hotel?"(O SPA Hotel onde o concurso foi promovido)

A resposta óbvia seria a de uma duzia de anos dada a grandeza do Hotel do melhor do mundo em Vinoterapia.

A resposta foi rápida. "Há 3 anos, apresentaram-me o projecto em Paris. Vi o projecto e pensei: estes brasileiros são doidos de fazer este Palácio no meio de nada. Quem sabe onde fica Bento Gonçalves lá no fim do Mundo? É só blá-blá-blá..." Mas o que é certo é que cá estamos com tudo exemplarmente feito. Estou incrédulo.

Se isto não chega para vos levantar o ego passem a beber agua com sabor de morango.

Isto, meus amigos, foi conversa entre um dos mais importantes homens do vinho e um trabalhador do vinho e da vinha já mais aposentado que trabalhador e que esteve neste concurso para aprender, pois não é ao fim de 40 anos a fazer vinho que se sabe tudo, pois em boa verdade do vinho que hoje está a ferver na adega, tenho já mais certezas que dúvidas e a quase certeza que se for vivo, dele beberei no RIO em 2016, se Deus me der 70 anos e mais uns pózinhos.

Do vinho da colheita de 2010 não sei nada, só sei quando vamos podar e pouco mais. Tenham calma com os vinhos do Brasil, esperem só, o tempo melhora e melhora tanto mais quanto maior for a vossa exigência.

Uma grande fatia da responsabilidade da evolução qualitativa dos vinhos no Brasil cabe a quem comenta e temos de concordar que há maus comentadores, que há sommeliers que quando falam de vinho são uma autêntica desgraça.

Caros amigos, aposto no Brasil como produtor de vinho de qualidade no mundo e fala-vos quem em 1960 já fazia vinho.

Os homens são como o vinho: com a idade, os maus azedam e os bons enobrecem (Cìcero).

Um abraço e nos Olimpicos vamos beber 2009, se nada de melhor aparecer

Fernando

Obs: No concurso acima referido ganhei uma medalha de Prata!
Luiz Alberto Barichello
Produtor de vinho
Porto Alegre
RS
16/10/2009 Caro Didu,

Fiquei entusiasmado com o teu reconhecimento aos vinhos brasileiros. Mesmo produzindo vinhos na Itália e futuramente em Mendoza, a minha dedicação maior vai para os vinhedos de Porto Alegre, por isso o teu apoio aos vinhos nacionais traz ânimo e amplia o desafio de produzir sempre melhor.

Abraço
Barichello
Fernando Sequeira de Matos
Aposentado
Mealhada
Bairrada
Portugal
19/10/2009 Caro Didu

Vi o seu artigo sobre o vinho Brasileiro e acho-o soft. Não tenha medo de dizer bem do vinho brasileiro.

Estive em Encruzilhada no paralelo 30 No Spa Caudalie, dos melhores do mundo ( quem o disse foi o sr. Victor Magalhães, director na Oraganisation International de la vigne et du Vin 18 rue d ´Aguesseau 75008 Paris ) mas felizmente não vi Napa valley.

Vi dos mais conceituados viticultores e enólogos colocarem a sua experiencia e saber nos vinhedos de Bento Gonçalves, falavam Portugues e traziam o seu saber do Douro e era bom que a serra gaucha fosse o DOC DOURO da Mercosul.

Agora vamos ao detalhe.

Os Vinhos Brasileiros estão ao mesmo preço dos importados e quando se fala em vinho do brasil há a errada tendencia de logo relacionar vinho com as mixórdias provenientes das vinhas Americanas.

Aqui tem de entrar o governo e deve mandar arrancar todas essas vides o que já aconteceu ne Europa faz muitos anos e não foi por isso que faltou vinho mas foi exactamente por isso que a qualidade subiu.

Não vale a quem gosta do vinho estafar a sua energia, o tempo levará o vinho do Brasil ao seu lugar e não falta muito.

Espumantes para as cerimónias do mundial de Futebol e para as Olimpiadas o Brasil já tem e tintos para os churrascos terá brevemente com mais abundancia.

Isso não vai impedir as importações pois um DOC DOURO, Um Rioja, um Cahors para não falar dum Borgogne ou Bordeaux tem lugar na mesa em qualquer parte do mundo mas vai impedir as importaçÕes de vinhos que no Brasil só se vendem por serem estrangeiros.

E é um regalo encontrar esses vinhos em cartas de restaurantes famosos com o sommelier a dizer que é um vinho DOC ... (agora não ponho nomes ) famoso de ITALIA? de ESPANHA? ou de PORTUGAL ? ........

Pois a resposta que leva é pronta. Esse vinho que na origem conheço bem ninguém o bebe e é por isso que está aqui o que não abona a sua competencia.

Traga-me por favor um Lidio Carraro da Encruzilhada que dá 10 a zero a esse vinho ( passe a publicidade a Lidio Carraro ).

Sei que este meu comentário não é politicamente correcto mas sempre foi meu apanágio chamar os bois pelo seu nome e doi a quem gosta de vinho encontrar muito naturalmente escanções a informar os clientes não com o vinho que acha bom mas com vinhos que se cruzam com a necessidade de ganhar uma comissão ( a rolha ) que toda a gente sabe que existe mas quando questionada todos assobiam para o lado.

Há 50 entrei no mundo do vinho estou aposentado e posso muito livremente dizer a minha opinião desde que educadamente o que penso que tenho.

Bons vinhos coisa muito diferente de muitos vinhos.

Um abraço e Deus lhe dê força para lutar pelos vinhos do Brasil.

FSM
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]