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O fantástico crescimento do interesse por vinhos orgânicos e biodinâmicos no mundo parece dar sinais de que o ser humano realmente pretende preservar este planeta maravilhoso para seus descendentes. Quando bem feitos, esses vinhos costumam ser mais delicados, mais sutis, apresentam maior tipicidade da variedade e maior retro-gosto.

Até o início do século passado, o vinho sempre foi orgânico, pois não havia produtos químicos para se "fertilizar" a terra ou matar pragas e doenças, que eram combatidas com o equilíbrio natural. A humanidade viveu sem produtos químicos na agricultura até a 1ª guerra mundial, quando as indústrias químicas desenvolveram os fertilizantes com sobras de munição. Essa é a história contada por um dos grandes produtores biodinâmicos de Bordeaux, Jean-Pierre Amoreau, do Château Le Puy, dando conta de que, como acreditava-se que a guerra duraria muito mais tempo, a indústria química não sabia o que fazer com a enorme quantidade de produtos inorgânicos que sobrara. Nasceu assim o fertilizante.

Os fertilizantes realmente funcionaram, mas quebraram o equilíbrio orgânico na terra que não respondia mais naturalmente aos ataques de insetos, pragas, fungos, etc... Assim, a mesma indústria desenvolveu os defensivos químicos, tornando a agricultura refém de seu negócio.

Um levantamento feito em Bordeaux constatou que os vinhos da região continham cinco mil vezes mais resíduos tóxicos do que a água da cidade! Foi um notícia que circulou timidamente na imprensa mundial.


Um gênio produzindo vinhos

Um dos mais ardentes defensores da biodinâmica é Nicolas Joly, um gênio produzindo vinhos no Loire. Ele produz o extraordinário Clos de La Coulée de Serrant, um chenin blanc que é tão importante que tem uma Appellation d'Origine Controlée só dele, a AOC Coulée de Serrant, em Savennières no Vale do Loire.

Os vinhos de Joly são uma preciosidade, frescos, amplos, untuosos, com toques tostados, floral, maracujá, amêndoas, marzipan, e não contam com adição de conservantes! Inacreditável. Nicolas Joly é um dos ícones da biodinâmica e principal responsável pelo movimento "Renaissence des Appellations", que defende que apenas os vinhos biodinâmicos podem realmente refletir as particularidades de um lugar. Joly defende que cada vinho é único quando respeita seu "terroir", pois será íntegro.

Para cuidar das vinhas, Joly se utiliza do que há na natureza. Na seca, por exemplo, ele aplica algas marinhas e nas floradas usa arnica que, segundo ele, resulta em melhores brotos. Joly é uma espécie de Galileu do vinho: ele afirma que uma vinha plantada na época certa - o que implica fase de lua em quadraturas astronômicas e direção dos ventos - nunca fica doente. Ou seja, ele está vendo coisas que os comuns não enxergam.

Ele não utiliza tratores em seus domínios, pois o peso é excessivo e comprimem em excesso a primeira camada de terra que, segundo ele, é fundamental na respiração e absorção de todos os elementos do ambiente. Em seus vinhedos, vacas e cachorros de sua propriedade circulam livremente. Joly explica, por exemplo, que as forças de equilíbrio são as forças da Terra (Dionísio) e do Sol (Apolo), e que deve se respeitar esse movimento, como os antigos faziam.

É um equívoco humano achar que a força da produção vem da terra apenas e precisa ser reposta em forma de adubos. "O sol é quem alimenta a vinha: 92% do que é produzido em matéria sólida vem da fotossíntese, da sua capacidade de captar algo intangível, como a luz do sol e seu calor e transformá-los em açúcares, hidrocarbonos e outras matérias", nos ensina Joly apaixonadamente.

Essa convicção de que se deve respeitar os elementos do universo faz Joly proibir a presença de qualquer fator que venha a interferir nesse equilíbrio. Coisas como ondas de rádio, de celulares, computadores, satélites podem ter efeito devastador em seu mundo. "O homem não vê que está destruindo a sintonia entre as coisas da terra e fica se perguntando por que o clima está tão louco", explica Joly.

"Meu vinho é trabalhado no vinhedo. Quando as uvas chegam na adega, não tenho que fazer nada. Elas estão tão saudáveis que o vinho se faz sozinho. Faço a prensa lentamente, durante 3 a 4 horas, coloco o vinho em barricas de 600 litros, que já têm uns 20 anos de idade, onde fermentam durante uns 3 meses", diz ele, que se considera um "assistente da natureza" e abomina ser tratado como um "winemaker". "Um homem não pode fazer vinho. Quem faz o vinho é a uva. Devemos ajudar a natureza para que ela trabalhe sozinha. Temos que buscar um retorno ao sabor da terra. A vinha deve carregar em sua fruta a imagem mais fiel do lugar onde mora. Esta é a origem das Appellations d'Origine Controlées".

As pessoas céticas em relação à Biodinâmica costumam dizer que se trata de "religião", mas não sabem explicar por que uma videira podada em lua minguante não cresce, enquanto que a que foi podada em lua cheia florece com vigor, mas isso é um fato. Ou por que um vinho engarrafado em lua cheia fica em suspensão...

O que é absolutamente maravilhoso por parte dos produtores biodinâmicos é que eles produzem vinhos simplesmente extraordinários em total equilíbrio com a natureza. Ou seja, se dependesse de pessoas como Nicolas Joly, o planeta continuaria intacto.

No Brasil, vale ressaltar que o primeiro produtor a lançar vinhos orgânicos foi Juan Carrau, em 1977, com seu Cabernet Sauvignon, que abriu caminho para a "linha verde" que hoje já conta também com um Gewürztraminer.


Os tipos de agricultura que preservam o solo e a integridade da videira

  • "Raisonée" ou sustentável, integrada: é o primeiro passo em busca de preservação do solo. Nela, procura-se respeitar ao máximo a videira e seu meio ambiente, mas se o nível de "tolerância" é ultrapassado, em caso de pestes ou doenças, lança-se mão de produtos químicos. Não há um órgão regulamentador ou fiscalizador.

  • Orgânica - ou biológica, como se fala na Europa: é a produção em que não se usa fungicidas, herbicidas, pesticidas ou qualquer aditivo químico. Seu manejo, como antigamente se fazia, baseia-se em produtos naturais e em equilíbrio biológico, para impedir o surgimento de insetos, fungos, ervas daninhas e outras variedades de enfermidades da vinha. Há órgãos certificadores e fiscalizadores de todo o processo.

  • Biodinâmica: busca os conhecimentos de antroposofia, de Rudolf Steiner, que inclui toda a dinâmica, ou energia envolvida na vida. Consideram o ambiente como um todo, valorizando o equilíbrio da vida em movimento, olhando a vida em harmonia com o universo, no sentido das influências energéticas do cosmos. Utiliza-se de preparados em bases de dinamização da homeopatia, com diluições de compostos e preparados diversos de ervas para tratamento das videiras. Os mais radicais se qualificam de "vinhos naturais", não permitindo nenhum recurso externo durante a fermentação, desinfecção, estabilização, filtração ou adição de anidrido sulfuroso.

  • Natural: a cultura é sempre orgânica, não necessáriamente biodinâmica, mas não permitindo SO2 em nenhuma quantidade.
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    Comentários
    Bruna Hodara
    Vendedora de vinhos
    Porto Alegre
    RS
    21/10/2009 Vale experimentar - para quem não conhece - os vinhos biodinâmicos da vinícola sul-africana AVONDALE (Importadora Vinhos do Mundo). São bem como descritos por Didú, finos, sutis, delicados e elegantes.

    Abraços e parabéns pelo texto!
    José Rosa
    Diretor de empresa e enófilo
    Niterói
    RJ
    21/10/2009 Prezado Didú,

    Parabéns pela matéria, interessante e esclarecedora.

    Abraços.
    José Rosa
    Juan José Verdesio
    Vice-presidente ABS-Brasília
    Brasília
    DF
    21/10/2009 Prezado Oscar e Didú Russo:

    Me sinto obrigado a fazer alguns esclarecimentos sobre a "moda" da agricultura biodinâmica na viticultura. Isto se deve a que sou agrônomo e participei em pesquisas com agricultura orgânica junto a um dos maiores produtores de orgânicos do Brasil na Fazenda Malunga em Brasília. Sem dúvida a agricultura orgãnica é uma técnica interessante e benéfica para o meio ambiente e a saúde das pessoas. Por enquanto é utilizável em escalas pequenas de produção, há muito maior necessidade de uso intensivo de mão-de-obra e ela é mais "fácil" e mais barata de ser feita em determinadas condições ambientais como, por exemplo as regiões semiáridas ou áridas do planeta.

    As agriculturas que tentam criar um agroecosistema mais próximo do natural tem vantagens óbvias como:

    a) permitir a conservação das características naturais dos solos, seja na sua biologia, como nos seus componentes minerais e orgânicos
    b) o uso limitado e/ou ausência de substâncias químicas permitem que o solo se mantenha mais natural e a planta se desenvolva melhor e com menor estresse.

    Dai a dizer que este vinho é melhor feito e terá qualidades diferenciadas se for aplicada uma das técnicas mencionadas como a orgânica, integrada, natural ou biodinãmica é pura especulação. Talvez o mesmo produtor conseguiria um vinho tão bom quanto o que ele faz como "biodinâmico" aplicando as técnicas "químicas". Até agora ninguêm, que eu saiba, fez o teste de longo prazo (10 a 20 anos) comparando duas parcelas do mesmo vinho em condições similares de produção comparando as técnicas.

    Já tem sido feitas pesquisas comparativas entre técnicas em agriculturas de outros produtos agrícolas e nada foi demonstrado de diferente entre os produtos convencionais e os produzidos com a biodinãmica. Tem uma referência que explica tudo em http://charlatans.info/vin-biodynamique.php . Lamentavelmente só está em francês.

    Por enquanto não há provas realmente científicas de que os seguintes vinhos são diferentes do que se fossem feitos com técnicas "convencionais" nenhum deles fez o teste comparativo. Se alguem encontrar alguma prova da diferença agradeço, me passem o artigo científico que relata isto.

    Vinhos ou marcas de fama com produções "naturais": Le Roy, Domaine de La Romanée Conti, Château Le Puy, Clos de La Coulée de Serrant, Egly-Ouriet, J.C.Rateau, Pierre Frick, Marcel Deiss, Zind Humbrecht, Ostertag, Josmeyer, Michel Lafarge, Leflaive, Comte Armand, Catherine et Dominique Derain, La Grave, Rousset Peyraguey, Fleury, André et Mireille Tissot, Léon Barral, Rimbert, Domaine de Trevallon, Chapoutier, Nikolaihof Wachau, Rainer EYMANN, Günther SCHÖNBERGER, Ricardo Pérez PALACIOS, Domino de Pingus, Alvaro ESPINOZA, Seña.

    O pior é que se confunde ciência com pseudociência.

    A agricultura biodinâmica não é científica. E uma técnica que usa de diversas abordagens esotéricas e pseudocientíficas criadas pelo "inventor" da Antoposofia Rudolf Steiner. Quem quiser acreditar que acredite nele ou na Astrologia ou na Parapsicologia ou na existência de OVNIS extraterrestres. Nada contra. É uma questão de crença, não de ciência.

    Aplicar técnicas que modifiquem o menos possível o ecosistema é uma coisa. Certamente traz resultados positivos sobre a qualidade da fruta produzida, eliminando contaminações perniciosas para a saúde dos consumidores. Mas dali a acreditar que as fases da Lua ou a posição dos planetas vão produzir vinhos melhores é uma outra história que beira a insanidade.

    Ou será que tudo não é mais do que uma bela maneira de ganhar mais dinheiro acima do custo de produção? Ou seja, um efeito "grife"?

    Eu não tenho a resposta, mas suspeito mais nisto do que em suspostas virtudes da pseudociência.
    Aquiles Meo de la Torre
    São Paulo
    SP
    21/10/2009 Excelente comentário do Sr Juan José Verdesio. As técnicas biodinámicas não passam de uma estrategia de marketing.

    Atenciosamente
    Aquiles
    Robert Phillips
    Representante comercial
    Rio de Janeiro
    RJ
    21/10/2009 Muito interessante a matéria. Como entrar em contato com o Didú e os produtores?
    Eduardo Vasconcelos
    Biólogo
    Santo André
    SP
    21/10/2009 Gostei da matéria, mas me interessei muito pelo comentário do sr. Juan J. Verdesio.

    Ele foi preciso em destacar o aspecto teórico supostamente científico da biodinâmica. Mas não acho justo perseguir os adeptos da escola biodinâmica pelo uso inoportuno (dependendo do parâmetro utilizado) de Ciência. Muito do que se divulga em matéria de medicina, por exemplo, como sendo resultado de estudo científico, não tem nada a ver com ser hipótese científica (em termos epistemológicos), não passando de levantamentos estatísticos.

    O fato de os adeptos da biodinâmica se basearem em principios pouco críveis dentro do pensamento materialista contemporâneo, também não é motivo para rechaças, é uma forma de produção na qual acreditam. Crença essa que não prejudica ninguém. Ao contrario, ao serem mais radicais quanto à proposta de apresentar um produto, virtualmente, livre de agentes químicos sintéticos, contribuem para o bem estar humano e ambiental. Até socialmente é benéfica, como cita o senhor Verdesio, emprega uma quantidade maior de mão-de-obra.

    Por último, acredito que o comprometimento ideológico que demonstra esse produtor (o biodinâmico), representa um verdadeiro atestado de carinho que este tem para com o seu produto. Que é o que muita gente atualmente procura. Um vinho que não seja apenas um produto de "série", mas a síntese poética entre trabalho humano e um pedaço especial de chão no globo terrestre. Nem que seja uma inocente ilusão disso.
    Pablo Fest
    Garçom
    Rio de Janeiro
    RJ
    21/10/2009 Muito boa a matéria e esclarecedora!

    O comentário do agrônomo Juan é válido, mas carece do seguinte ponto. A ciência e a filosofia (incluso a religião em seu aspecto contemplativo) sempre andaram juntas até René Descartes, Newton e Francis Bacon que segregaram a natureza a algo a ser analisado separadamente do todo, isolado, e tratado, dentro da cultura à época, como uma mulher. Isto é o método científico. E isto ainda se segue, bastando observar o comentário e explicações do mesmo. A teoria do caos, das cordas e as relevantes ao microcosmo já foram comprovadas.

    Temos então que, ao estudar um objeto, não devemos isolá-lo do todo e sim analisar todos os aspectos referentes. Nem tudo que existe pode ser comprovado ou racionalizado. Em resumo, a biodinâmica existe e é válida e seus produtos geram melhores produtos. Para sentir a diferença é necessário não racionalizar, apenas sentir.

    Em resumo, e fora do mundo vinícola, o doce de goiaba da minha avó, nunca será igual se feito sem a goiaba do jardim dela, na casa dela, na vila onde mora, etc.

    Parabéns pela matéria.
    Fernando Sequeira de Matos
    Aposentado dos vinhos
    Mealhada
    Bairrada
    Portugal
    22/10/2009 Caro Didu

    Quem percebe de vinhos biodinâmicos, orgânicos e outros vinhos cuja produção não permite matar as pulgas da videira e obriga a andar de pantufas no vinhedo é o sr Juan Jose Veldesio, que saùdo. Os produtores que fala são vendedores de griffes e tiram nota 10 no marchandising.

    Voltando á vaca fria: que produtos quimicos coloca o viticultor na videira? Para além de uns sulfatos, nada mais pois se assim não fosse a vide não era centenária. O segredo do vinho está na poda, na desfolhagem e na vindima no dia certo e não tem nada a ver com a lua mas sim com o sol sem chuva. Uma boa vinha está orientada no sentido de apanhar muito sol; é o segredo, aliás era o segredo. Se as uvas forem colhidas no dia certo, a fermentação higieniza o vinho e as temperaturas atingidas eliminam a maioria, se não a totalidade dos fungos, que podem entrar com os cachos na fermentação.

    Os quimicos colocados no vinho depois de fermentado são conservantes e antioxidantes só por questões de higiene e inclusivamente reguladas pela lei.

    Cordialmente
    Fernando Matos
    Rafael Mauaccad
    Enófilo
    São Paulo
    SP
    22/10/2009 Caro Didú,

    Confesso à você minha avaliacão sobre sua matéria: 5 estrelas!!

    Seu relato fêz-me recordar o mais sublime momento de minha vida de enófilo, a mostra paralela à Expovinis 2008: "Renaissance des Appellations-Return to Terroir-Biodynamic Wine Tasting" em 29 de Abril de 2008, onde 42 produtores da Áustria, Chile, Franca, Itália e Portugal expuseram seus inesquecíveis e extasiantes vinhos biodinâmicos.

    Transcrevo trecho de uma matéria de Nicolas Joly, 04/07/2001

    "A qualidade nasce de um todo organizado e intangível que se prolonga nas uvas pelo respeito de um certo número de leis que geram a vida sobre a Terra. E estas leis macrocósmicas, o homem de hoje é incapaz de as aprender, dado que interessa-se apenas com o que tem na extremidade do microscópio ou no seu computador. No final a vinha, tal qual qualquer outra planta, apenas transforma a não matéria em matéria. É a fotossíntese: converter o ar, o calor, a luz em madeira, em folha, em fruto e também em gosto, cor e odor. É a energia que se transforma em matéria, e tudo o que é vivo é feito de frequências que se harmonizam entre si, tal qual uma nota de música que não se pode apreender pelo seu peso, e que se integra numa partitura global. Cada fruto é um receptáculo de um mundo harmonioso de onde vem a vida. E esta vida é gerada por um vasto sistema solar, por uma organizacão macrocósmica de que o homem se afasta cada dia um pouco por razões freqüentemente apenas econômicas".

    A comprovacão científica da agricultura biodinâmica se dará quando os físicos teóricos formularem uma teoria consistente que combine a relatividade geral com mecânica quântica. Einstein após a descoberta da Teoria da Gravitacão, conhecida como Relatividade Geral, propos várias Teorias de Campo Unificado e não obteve sucesso. Vários cientistas deram continuidade aos estudos, e hoje estamos próximos da finalizacão teórica.

    No campo das ciências humanas, obtemos o conhecimento através da Filosofia. Se ocidental através do estudo do filósofo holandês Benedictus de Spinoza, em seu livro Ética. Se oriental, através do estudo de Conhecimento de Tempo e Espaco do filósofo budista tibetano Tartang Tulku.

    A energia do Universo é a fonte da vida.

    Brindemos,
    Rafael
    Aquiles Meo de la Torre
    São Paulo
    SP
    23/10/2009 Proximamente, o Dalai Lama será melhor enólogo do ano!

    Viva o Dalai Lama!
    Didú Russo
    Colunista de vinhos
    São Paulo
    SP
    23/10/2009 Agradeço a participação dos leitores e gostaria de colocar algumas questões sobre o assunto vinhos biodinâmicos:

    1) Por que os vinhos orgânicos, naturais e biodinâmicos causam tanto incômodo ao mercado do vinho, refém da indústria química?

    2) Por que taxar de esotéricos, místicos e curandeiros, pessoas que produzem seus vinhos como seus ancestrais faziam?

    3) Por que a humanidade viveu onze mil anos fazendo uma agricultura pura, sem química e agora acha que não pode mais?

    4) Por que mesmo entre os céticos e críticos da Biodinâmica ninguém poda uma videira na lua minguante e não engarrafa seus vinhos em lua cheia?

    5) Por que a humanidade reconhece as influências da Lua sobre a nossa natureza e desconsidera a influência de outros astros ou planetas?

    6) Alguém pode, sinceramente aceitar que neste vasto Universo em movimento e misteriosa harmonia, apenas a Lua exerce influência na vida da Terra? A era de Galileu já passou gente.

    7) Por que chamar de esoterismos ou misticismos, práticas que a ciência não sabe explicar? Não seria mais inteligente estudar? Pesquisar?

    8) Por que um esterco que é introduzido num chifre de vaca e enterrado de um equinócio a outro, fica 80 vezes mais potente do que o que não passa por esse processo? A ciência sabe dizer? Seria bruxaria?...

    9) Por que uma substância quanto mais diluída e dinamizada tem efeito maior? Isso é bruxaria?

    10) Por que uma indústria não se interessa em estudar um negócio onde menos é mais, em benéficio da humanidade em vez do benéficio apenas de seus acionistas? Não daria para fazer as duas coisas?

    11) Por que as notícias sobre a contaminação do solo de Bordeaux não ganham a mídia?

    12) Por que falar em terroir em vinhedos, quando se usa clones, as leveduras não são indígenas, os aromas artificiais vêm junto com as leveduras compradas e as raízes crescem para os lados e para cima? Terroir de quem? Da onde?

    13) E afinal... Para quem já experimentou, por que os vinhos biodinâmicos são mais delicados, mais sutis, mais longos e com mais tipicidade? Apenas para citar alguns: Le Roy, Domaine de La Romanée Conti, Château Le Puy, Clos de La Coulée de Serrant, Egly-Ouriet, J.C.Rateau, Pierre Frick, Marcel Deiss, Zind Humbrecht, Ostertag, Josmeyer, Michel Lafarge, Leflaive, Comte Armand, Catherine et Dominique Derain, La Grave, Rousset Peyraguey, Fleury, André et Mireille Tissot, Léon Barral, Rimbert, Domaine de Trevallon, Chapoutier, Nikolaihof Wachau, Rainer EYMANN, Günther SCHÖNBERGER, Ricardo Pérez PALACIOS, Domino de Pingus, Alvaro ESPINOZA, Seña, entre outros. Como? Não conhece? Então experimente e pense.

    Aquilo que se denomina “acaso” é apenas falta de conhecimento.
    Ricardo J. Stein
    Biólogo
    Lincoln
    Nebraska
    EUA
    24/10/2009 Só gostaria de relembrar que a enologia é uma ciência bastante antiga e muito respeitada. Baseia-se na análise de questões físicas, químicas e mais importante, reais.

    Mas vamos lá:

    1) Não acredito que causam tanto incomodo assim, causam incredulidade. Totalmente aceitável.

    2) Comparando-se a evolução dos processos que levam a produção de vinho hoje em dia é o mesmo que dizer que a agricultura ancestral é a mais correta. Segue a lógica do bom selvagem, um mito muito comum nos anos 70.

    3) Essa pergunta chega a ser infantil. Porque ela é ultrapassada, antiquada, e mais importante, nunca atingiria a produtividade de hoje. Nessa lógica, combateremos os antibióticos também?

    4) Poda-se a videira em lua minguante? Não se engarrafa em lua cheia? Olhei vários livros clássicos de enologia, e não achei nenhuma referência a essa questão. Mas me parece muito ligada a astrologia, e não a astronomia (essa sim uma ciência).

    5) A influência do sol é largamente conhecida, estudada e analisada. Mas por métodos científicos, repetitivos, com a análise de variantes, digamos, de um mundo físico e real.

    6) De novo, o sol.

    7) Só para relembrar, a ciência se baseia em fatos reais, repetivivos, não de achismos ou auto-experimentações, e principalmente, de subjetividades.

    8) Não se trata de bruxaria, se trata de maluquice. Enterrar chifre de vaca com estrume? Sinceramente, a ciência tem coisas muito mais importantes para explicar.

    9) O mito da homeopatia já foi largamente superado. Ele atende pelo nome de placebo agora.

    10) Obviamente não. Por questões óbvias de produtividade e preço. Interesantemente, produtos agrícolas, biodinâmicos, chame-do-que-quiser, são muito menos produtivos. Vamos convencer as pessoas a pagar mais caro, ou parar de comer?

    11) Por se tratar de uma questão politico-economica muito poderosa.

    12) De quem quiser comprar a idéia. Se tem quem pague (e se tem quem indique...), o resto é mercado.

    13) Porque são feitos em regiões muito particulares e especiais. Acreditar que são a saida para um mundo melhor, de alegria e pureza, é uma grande infantilidade. São para poucos, porque são caros. Ou alguém duvida que Coulée de Serrant não é um território com qualidades geográficas ótimas para se fazer vinho? Mas quantos tem acesso a esse vinho, e quanto ele custa?

    Aquilo que se denomina “acaso” é algo que possui uma probabilidade muita baixa de acontecer, e não de falta de conhecimento.

    Abraços.
    Aquiles Meo de la Torre
    Cartomante
    São Paulo
    SP
    16/11/2009 Parabéns ao Sr Ricardo Stein, eu ia responder ao Sr Didú, mais graças ao Sr não perderei tempo. Infelizmente estamos com muito formador de opinião, que deveria se tomar o trabalho de estudar mais e ter pensamento próprio, distante das modas que somente isso são, modas.

    Atenciosamente
    Aquiles
    Marcos Valério
    Designer
    São Paulo
    SP
    24/10/2010 Agradeço ao Didú pelo ótimo post. Um tema interessante com crescente interesse entre os apreciadores de vinho e comida em geral.

    Para alguns comentários feitos por outros internautas gostaria que levassem em consideração alguns fatores, e não apenas o que eles aprenderam ou acreditam. Não podemos utilizar tudo e apenas o que a ciência explica. Ciência é uma coisa e fé é outra, claro. Mas por acaso vocês compram seus vinhos por terem o seu sabor cientificamente provado? A ciência disse que são gostosos?

    Didú deu um parecer sobre esses vinhos que estão aparecendo cada vez mais no mercado, primeiramente ao seu sabor e não ao processo. Agora, posso parecer estar divergindo muito do assunto, mas por acaso a ciência provou a existência de Deus? Que tal explicar para a maior parte da população isso? E que deixem de acreditar no poder de suas crenças e que deixem de ir aos seus templos. Outro fator erroneo de seus pensamentos é dizer que é uma jogada de marketing. É sabido que, desde a Revolução Industrial, a produção em série, em larga escala e com a menor perda possível veio pura e simplesmente para lucrar mais e atender um mercado em constante cresimento. Quem será que está gerando maior lucro? Os grandes produtores, ou os pequenos produtores de vinhos orgânicos? Por fim, não crer no poder dos astros, tanto planetas como lua, isso sim beira a infantilidade. As fases da Lua e seu poder na agricultura e no mundo animal, são sim cientificamene provadas (para acalmar nervos).

    Pessoal, os vinhos são muito bons sim, e não podemos dizer que simplesmente a região que estão é ótima. E todo cuidado que houve na sua produção? Por mim, vou continuar a saborear um vinho Château Le Puy, junto de uma salada proveniente de uma horta orgânica de meu quintal.

    Forte abraço
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - odaudt@enoeventos.com.br