"LF""LF""LF""LF""LF"
Matérias relacionadas
  • Colunistas
  •   Antes de iniciarmos a harmonizar um vinho com a comida, temos que mencionar a harmonizações difíceis do alimento com vinho, e as influências dos molhos e dos acompanhamentos.  
    As Harmonizações difíceis
    Existem alimentos muito difíceis de serem harmonizados com vinhos, ou mesmo impossíveis fazê-lo.

    Alimentos muito ácidos - não existem vinhos secos com maciez suficiente para harmonizar alimentos como:
  • peixes e carnes marinados em vinagre; os picles; saladas temperadas com vinagre ou limão.
  • frutas ácidas como abacaxi, kiwi, morango e as cítricas (laranja, limão, grapefruit, lima, etc). Há uma informação errônea disseminada entre muitas pessoas, de que "morango harmoniza bem com Champagne". Neste caso o que há é uma soma da acidez da fruta com a do vinho, tornando-se um massacre das papilas gustativas e das paredes do estômago, que ainda precisa injetar mais ácido clorídrico para executar a digestão dos morangos.
  • uva - apesar de a uva ser uma fruta geralmente ácida, exceto Malvasia e Moscatel que são doces, é o caso do filho (vinho) que não se dá bem com a mãe (uva). Interferem entre os dois, além da acidez da fruta, os taninos das cascas e outros compostos, que tornam a tentativa de harmonizar em um fracasso total, pelo gosto metálico e adstringente formado.

    Condimentos muito Pungentes - tratam-se de alimentos excessivamente aromáticos, além de produzir forte ardor das mucosas. Também não existem vinhos secos nem com maciez, nem com aromas suficientes para harmonizar com:
  • Pimentas - diferentes tipos, nativas de diversas regiões do planeta.
  • Raiz forte - raiz quando ralada produz composto irritante das mucosas nasais e bucais, mas ainda assim muito apreciada. Na culinária japonesa é adicionado um corante natural verde, formando o wasabi.
  • Gengibre - raiz muito aromática e pungente.

    Condimentos muito aromáticos - não há vinhos com aromas suficientes que alcancem os do curry, "thai season" (mistura de ervas e pimentas secas da cozinha tailandesa) etc. O molho shoyu da culinária oriental, por ser muito salgado e aromático. Também o dendê da culinária brasileira na Bahia é ingrediente aromático e gorduroso.

    Verduras bastante amargas - como as alcachofras cruas apreciadas na culinária italiana, o radichio e a rúcula pelo forte amargor não se consegue a harmonização, pois também não existem vinhos secos com maciez para harmonizar com eles.

    Peixes em conserva com vinhos brancos - impossível harmonizar, principalmente se tratando de sardinha ou atum enlatados, que quando acompanhados por vinhos brancos (o que seria o aconselhado), formam um insuportável gosto metálico.

    Outros produtos
  • Sorvetes - pelo frio excessivo, eventualmente associado à acidez.
  • Chocolate em barra, bolos e doces também à base de chocolate - o chocolate não se harmoniza com vinhos secos. No entanto, ele é harmonizável quando utilizados os vinhos fortificados como o Vinho do Porto Vintage e Ruby, vinho Banyuls, Marsala rubino e Jerez Cream.
  • Alguns autores mencionam que preparações com ovos não se harmonizam com vinhos, entretanto outros sugerem alguns vinhos para omeletes, fritadas, scrambled eggs (ovos mexidos), sufflês, bem como doces à base de ovos.

    Pode-se, no entanto, usar bem pouco dos temperos e alimentos acima mencionados nas preparações culinárias, de modo a poderem ser harmonizados com vinhos.
  • A influência de molhos e de acompanhamentos
    Normalmente um prato é uma composição do item principal (carnes, peixes, massas etc), mais o molho e acompanhamento. Exemplo: filet mignon (principal) com molho de mostarda e acompanhado de purê de batatas. Neste caso temos a mostarda com gosto picante, untuoso e aromático; para o purê temos a doçura da batata, untuosidade e pouco aroma.

    Quais os vinhos que harmonizam? Vamos utilizar o gráfico Mercadini!

        Principal
    Carne bovina, filé
    Molho
    Mostarda
    Acomp.
    Purê de batatas
    Máximo Médio Mínimo  
    Suculência 6 9 2 9 6 2
    Gordura 4 3 4 4 4 3
    Untuosidade 2 5 5 5 4 2
    Sabor 6 8 5 8 6 5
    Tendência a doce 4 5 8 8 6 4
    Aroma 3 8 3 8 5 3

    O prato apresentado é um conjunto e todas as características devem figurar no gráfico apresentado abaixo em linhas vermelhas, tomando-se o valor médio, se as pessoas gostam de harmonizar mais adequadamente. Se alguém deseja acompanhar com um vinho mais possante, adote o valor máximo, porém já sabendo que o vinho dominará o prato. Ao contrário, se alguém deseja acompanhar com um vinho menos possante, acontecerá o inverso. Portanto, o melhor é fazermos a harmonização pelo valor médio.

    O vinho deverá ser a figura igual e sentido contrário ou complementar do prato. Se hipoteticamente, tivermos uma figura triangular do prato apontado para baixo, a figura do vinho deverá ser de igual tamanho apontado para cima.



    Ao montarmos o Gráfico de Mercadini para o prato acima, levamos em consideração os valores médios obtidos na tabela, conforme abaixo:



    Valores obtidos do gráfico (Perfume 6, Maciez 5, Acidez 5, Alcoolicidade 5 e Tanicidade 6), o que nos leva a concluir que o vinho deve ser tinto, sápido, boa maciez com álcool e tanino médio. Vinho tinto de média estrutura, acidez mediana, que pode ser do Dão, Alentejo, brasileiro de custo cerca de R$ 30,00, varietal Merlot do Chile ou Argentina ou um Bordeaux genérico.

    Até o próximo artigo!
    Comentários
    José Paulo Schiffini
    Enófilo da velha guarda
    Rio de Janeiro
    RJ
    24/07/2009 Fernando, parabéns por trazer o "metodo de harmonização" entre comida e vinhos do Pietro Mercadini, ou o método italiano de harmonização.

    Claro que este método foi desenvolvido com comidas italianas e com elas ele funciona bastante bem; entretanto existem sempre os incrédulos ou aqueles que ficam descobrindo pratos exóticos ou fora do salutar hábito de se alimentar de forma saudável e alegre; ou pior ainda desprezando o vinho como a bebida fermentada natural para se acompanhar uma refeição.

    Mesmo para esses que gostam de uma cervejinha gostaria de testemunhar que tal método funciona...

    Um grande abraço a todos que sabem comer e beber bem e devagarzinho....

    Schiffini
    Eder Heck
    Sommelier Mr. Lam
    Rio de Janeiro
    RJ
    27/07/2009 Fernando,

    costumo dizer que "Vinho combina com comida e Comida combina com Vinho, é só escolher o Vinho certo para a Comida Certa"!

    Ficar atento aos detalhes, molhos, condimentos parece ser desnecessário, mas garante mais prazer na segunda garrafa!

    Saude e parabéns!
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]