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Um dos melhores momentos de nossa recente estada na Bourgogne foi, sem dúvida, o magnífico jantar oferecido por Alberic Bichot, nas caves privadas de sua família. Presentes na região desde o século XIV, os Bichot entraram no negócio do vinho em 1831, inicialmente como atacadistas. Hoje, em sua 6ª geração, a família é proprietária de 100 ha de vinhedos selecionados entre os melhores crus e distribuídos por quatro belas propriedades: Domaine Long Depaquit, em Chablis; Domaine du Clos Frantin, em Nuits-St-Georges; Domaine du Pavillon, em Pommard e Domaine Adélie, em Mercurey. Quem circula por Beaune - a charmosa cidade fortificada da Côte d'Or, coração da Borgonha - não pode deixar de notar as extensas instalações de A.Bichot, localizadas no Boulevard Mal. Joffre, uma das movimentadas avenidas que circundam o centro histórico. Ali são vinificados boa parte dos inúmeros rótulos do portfólio de A.Bichot, que estão presentes nos principais restaurantes e lojas de todo o mundo, inclusive no Brasil, onde são atualmente importados pela Wine Brands.
Em outra esquina do mesmo Boulevard, fica a antiga residência da família, imponente mansão do século XIX, dotada de uma espaçosa cave subterrânea, à qual se tem acesso por uma escadinha estreita, alcançada por um portão externo da propriedade. Ciceroneados pela simpática Delphine de La Fourchadiere, Diretora de Exportação, percorremos os diversos salões da adega, provando algumas amostras de barrica e ouvindo uma breve exposição sobre a empresa e seus objetivos. Poucos visitantes são ali recepcionados e nos sentimos como VIPS, ao tomar lugar à mesa, numa fria noite borgonhesa, para desfrutar um menu irrepreensível, acompanhado de néctares de alto nível, com toda a pompa e circunstância, como convém a uma autêntica recepção francesa! É lógico que, após a abertura de algumas Magnums (e só elas foram servidas!), o clima se tornou informal e fraterno, como convém aos bons congraçamentos enogastronomicos. Do menu servido, não podemos deixar de destacar a deliciosa Cocotte (panelinha) de assado bovino e o Assortiment de queijos e frutas cristalizadas, com equilíbrio perfeito de sabores e textura.
Os vinhos, servidos em casamento perfeito com a comida, foram o A.Bichot Chablis Grand Cru 2004 La Moutonne, Monopole, esplendoroso após cinco anos de guarda, mostrando na taça todo o frescor, mineralidade e elegância do abençoado terroir de Chablis; o A.Bichot Echezeaux Grand Cru 2006, um excepcional jovem, redondo e muito equilibrado, longo, exprimindo nobreza e alta qualidade; por último e melhor, o A.Bichot Corton Grand Cru 2003 Clos des Maréchaudes, Monopole, robusto e pungente, expressão máscula desta safra dramática na Europa, reflete a identidade e tipicidade dos melhores tintos de Bourgogne. A cada garrafa aberta e degustada, os comensais enlevados, galgavam mais um degrau de prazer sensorial incomensurável, numa saborosa busca dos ápices das sensações! Ao final do banquete, uma surpresa! Alberic Bichot, entusiasmado, nos oferece relíquias de família preservadas em um dos nichos privados da cave: nada menos que alguns dos A.Bichot Echezeaux Grand Cru 1956, engarrafados por seu avô! As três garrafas empoeiradas, de valor incalculável, foram abertas com muito cuidado e os presentes sorveram com prazer os 53 anos daquele caldo ímpar, maduro e complexo, totalmente etéreo, mas vivaz e expressivo, um autêntico Bourgogne de longa guarda! Outro gesto de gentileza de nosso anfitrião foi, ao final da noite, promover um leilão das poucas magnums restantes, a preços bem camaradas. Uma noite inenarrável! Eu consegui arrematar duas: um Chablis e um Echezeaux, cada uma por 125 euros e, ainda por cima, autografadas! Nada mal, não é mesmo? Estão ainda na minha adega, aguardando uma boa ocasião para serem degustados.
Meses depois, tivemos a oportunidade de retornar à Bourgogne, com outro grupo de amigos e novamente pudemos desfrutar da cordialidade de A.Bichot, recebidos por Delphine para uma agradável degustação de seus Crus. É uma região que sempre provoca saudades, pela fidalguia e carinho com que nos recebem e pela paixão que demonstram pelo seu trabalho e seus ótimos vinhos! Em 2010, vamos à Mendoza, a Bordeaux, Portugal e Espanha, mas com certeza vamos sentir saudades da Bourgogne! |
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Alexandre Henriques
Cláudia Bulcão
Homero Sodré