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A um quilômetro da vila de Barolo, no Piemonte, está Bofani, um dos vinhedos da Azienda Agricola Beni di Batasiolo. É o Langhe, parte do Piemonte conhecida como polígono de ouro, pelas características ímpares do solo, altamente favoráveis ao cultivo das ótimas uvas viníferas nativas e, também, pelas excepcionais trufas brancas, dádivas da natureza, caprichosamente ocultas ao acaso no subsolo da região.

A grande estrela local é o vinho Barolo, tradicional néctar italiano, elaborado com a casta Nebbiolo, apreciado há séculos pela nobreza local, embora originalmente um vinho rústico, mais tarde desenvolvido e afinado com a ajuda de enólogos franceses. Outras estrelas da região, como Barbera e Dolcetto, e agora as francesas, como Merlot e Chardonnay, bem adaptadas ao Langhe, cintilam lado a lado, cada uma com seu próprio brilho. É um cenário harmônico e equilibrado, intenso e persistente, como os próprios caldos que produz. Quem nos trouxe aqui foram os amigos José Grimberg, da Bergut e Fiorenzo Dogliani, o principal embaixador dos vinhos do Piemonte no Brasil, que vem pelo menos uma vez ao ano, mostrar seus novos rótulos. Dogliani lidera a Batasiolo, centenária vinícola piemontesa, cujos vinhos estão presentes em todo o mundo e na mesa de muitos brasileiros, importados pela Ferace, do Rio de Janeiro.

Esta amplitude mundial provocou a construção de uma casa de hóspedes em Bofani, no meio dos vinhedos. Afinal, um dos prazeres do "capo" é receber e conhecer pessoas! Um velho convento reformado e ampliado transformou-se em uma moderna torre de babel, um pequeno mundo, onde convivem, por curtas temporadas, especialistas e mercadores oriundos de toda parte, ansiosos por descobrir os encantos e segredos das colinas piemontesas, degustar os vinhos da casa e deliciar-se com a gastronomia local. Durante quatro dias de estada, convivemos, cada um a seu tempo, com um sommelier de St. Lucia, no Caribe, três comerciantes de vinho da Indonésia, uma chef de cuisine brasileira e a restaurateur Lilian Seldin! A troca de informações é constante e a nossa visão global sai enriquecida, como se estivéssemos um pouco em cada um daqueles pequenos mundos particulares. Por outro lado, o silêncio absoluto, o clima ameno e a adega repleta de vinhos e grappas formam um ambiente perfeito, que convida à reflexão profunda e ao estudo sensorial.

Iniciamos pelos Barbera, tanto o d'Alba quanto o d'Asti, vinhos carregados que expressam a fidalguia da terra com seus aromas intensos e paladar equilibrado. Em seguida o Dolcetto, jovem, rústico e rebelde. Subindo ao topo, experimentamos o Barbaresco 2004, eterna sombra do Barolo (ou vice-versa, como diria Angelo Gaja...), vinho refinado e elegante, representa o autêntico espírito da região, com seus aromas de frutas vermelhas e notas complexas de especiarias e vegetais. Enfim, chegamos ao êxtase.Foram cinco versões de Barolo: o DOCG 2004, resultado de corte de uvas de vários vinhedos do Langhe, um vinho jovem e promissor, com seus taninos ainda nervosos mas bem formados; o Riserva 2001, com seus cinco anos de estágio (três no carvalho), imponente e equilibrado, pronto para uma longa existência; e os vinhos de terroir, como o Barolo Cerequio 2001, elaborado com uvas dos vinhedos da comuna de La Morra - onde, aliás, fica a sede da vinícola - um vinho cor granada, de aromas etéreos com notas de especiarias, tabaco e mentoladas. O Barolo Corda della Bricolina 2001 é feito com uvas de Serralunga d'Alba, comuna próxima de terroir perfeito; o resultado é um vinho onde predominam no nariz as frutas vermelhas maduras, agradável toque de baunilha e taninos macios. Encerramos o ritual provando o Barolo Bofani 2000, já com reflexos alaranjados, aroma plenamente etéreo com suas especiarias, boca harmônica e delicado retrogosto de alcaçuz.

A vila de Barolo, logo ali adiante, propiciou algumas incursões enogastronômicas nos excelentes restaurantes locais, mas o melhor de Bofani foi a companhia e assistência de um velho conhecido dos brasileiros e do mundo do vinho, o amigo Angelo Fornara, de volta à Itália depois de dez anos no Brasil e hoje responsável pelo relacionamento internacional e marketing da Batasiolo. Bofani é uma experiência única, uma imersão no pequeno universo piemontês e a certeza de que o mundo do vinho não impõe fronteiras ao congraçamento dos povos e à cordialidade sem limites, em torno da boa mesa e dos bons vinhos.
 
Comentários
Milciades Calasans
Advogado
Nilópolis
RJ
21/02/2010 BOA TARDE, MEU QUERIDO OSCAR,

GOSTO MUITO DA FORMA DE ESCREVER DO HOMERO, COM FACILIDADE E CLAREZA. E FOI EXATAMENTE ELE, QUE ME FALOU PELA PRIMEIRA VEZ DE VINHOS EM UM SUPER MERCADO NA BARRA DA TIJUCA. LÁ ESTAVA ELE ATENDENDO AOS CURIOSOS E ENTREI NA FILA, PARA FAZER-LHE PERGUNTAS.

VOU POR AÍ, LENDO SEMPRE OS ARTIGOS DO PROFESSOR, LENDO SEUS COMENTÁRIOS ETC., É DIFICÍL, MAS UM DIA APRENDO, E QUERO CONHECER DESTA BEBIDA ESPETACULAR QUE É O VINHO.

FICO FELIZ E CONTENTE EM ESTAR SEMPRE RECEBENDO SEUS E-MAILs.

UM FORTE ABRAÇO
CALASANS
Homero Sodré
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
24/02/2010 Caro Calasans, obrigado pelos elogios. Orgulho-me de ter ajudado a sua curiosidade pelo vinho a transformá-lo em um importador do setor. Como vai a Bodega Barra e os ótimos Finca la Anita?

Abraços, Homero
Altanir Gava
Engº Agrônomo/Esp. Alimentos
Rio de Janeiro
RJ
24/02/2010 Caro Homero,

Gosto muito de ler seus artigos pela elegância de redação, didática e profundidade de conhecimentos. Parabéns por mais um articulado material informativo.

Estive com familiares visitando a Beni di Batasiolo (cantina) em outubro 09 (16), onde fomos muito bem recepcionados pelo atencioso Angelo Fornara. Nossa visita na cantina foi rápida mas, tivemos o provilégio de degustar 10 tipos diferentes de vinhos, incluindo comparação horizontal e vertical de barolos. Também ficamos na região 3 dias, visitando outras cantinas e aproveitando a safra das famosas trufas brancas.

Sds. enofílicas
Altanir
Homero Sodré
Colunista
Rio de Janeiro
RJ
26/02/2010 Caro colega Altanir,

Obrigado pela gentileza do elogio. Sou engenheiro de formação e as várias décadas em funções executivas me exigiram um certo apuro na redação, o que muito me apraz. Mas, cá entre nós, êta idiomazinho complicado este português brasileiro!

Um grande abraço, Homero
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]