"LF""LF""LF""LF""LF"
Matérias relacionadas
Colunistas
 
Qualquer enófilo, por mais experiente que seja, se emociona quando está diante de ícones do mundo do vinho - aquelas marcas ou rótulos que são referência, pela qualidade ou pelo valor histórico e tradição. Assim nos sentimos quando, em recente viagem de estudos, adentramos os salões das caves da Real Companhia Velha, a mais representativa empresa produtora de vinhos em Portugal, fundada em 1756 pelo Marques de Pombal e parte fundamental na história do Vinho do Porto e do próprio país.

A imponência da construção - em Vila Nova de Gaia, às margens do rio Douro e ao lado da cidade do Porto - impunha aos presentes um clima de respeito e reverência. Após circular pelos subterrâneos repletos de pipas, tonéis e barricas, onde repousam (em alguns casos, há várias décadas) milhares de litros dos mais finos vinhos durienses e conhecer os diversos estilos do néctar, participamos de uma das melhores provas de Vinho do Porto de nossas vidas, não pela quantidade, pois foram apenas oito vinhos, nem pela raridade, pois não havia na lista nenhuma safra notabilíssima, mas sim pela clareza, objetividade e cunho didático da apresentação, recheada de ensinamentos, mesmo para o mais aplicado especialista no assunto. Pedro da Silva Reis, enólogo e Presidente da Real Companhia Velha, conduziu a prova com maestria, mostrando que, desde o simples Ruby, até o refinado e exclusivo Vintage, todos têm lugar e hora certos na boa mesa, combinando com os mais variados alimentos.

Iniciamos pelo Dom José Ruby, um vinho vermelho intenso, com amadurecimento de três anos em tonéis de madeira. Próprio para o dia-a-dia, é robusto, com aromas marcantes de frutas vermelhas frescas e maduras e sabor agradável. Em seguida, provamos o Dom José Tawny, de cor aloirada, como o nome indica, devido ao estágio de quatro a cinco anos em madeira e algum contato com o oxigênio, provocando a evolução da cor. O espectro aromático muda, com a predominância de compotas de frutas e caramelo, já com algumas notas de frutas secas. Um vinho para acompanhar sobremesas delicadas.

O Quinta das Carvalhas Reserva, com sete anos de passagem em madeira, tem ótima relação preço-qualidade, pois apresenta o bouquet complexo dos vinhos de boa evolução, conjugado com a elegância e distinção de um vinho de Quinta.

Entramos no capítulo dos Old Tawnies e provamos sucessivamente o Royal Oporto 10 Years Old, 20 Years Old e 40 Years Old, três campeões em qualidade e prazer, cada um deles revelando suas nuances e segredos na taça, levando-nos levar ao ápice do prazer sensorial! São vinhos para degustar de joelhos e meditar!

Encerrando a série, retornamos aos rubies, provando o Royal Oporto LBV 2003 e o Royal Oporto Vintage 2003, dois verdadeiros puros-sangues, que bem retratam o estado-da-arte da RCV na produção de seus Portos. A Real Companhia Velha prima pelo profissionalismo e qualidade de seus produtos e pelo requinte e classe com que trata seus clientes. Isto ficou bem claro naquela noite, decerto projetada para marcar indelevelmente as mentes e corações dos afortunados participantes.

A terceira e principal etapa do evento foi o jantar propriamente dito. A mesa, com lugares marcados para cerca de quarenta convivas, tinha rica e sóbria decoração e o rigor do serviço prenunciava a grande noite. Um a um, os pratos e vinhos foram se sucedendo, em harmônicas combinações, deleitando os comensais numa sinfonia de aromas e sabores magníficos. Aos brancos já citados, juntou-se o Quinta do Cidró Chardonnay 2007, um vinho de bom frescor e equilíbrio, com personalidade e intensidade capazes de acompanhar diversos pratos à mesa. É uma prova viva da versatilidade da região do Douro, mostrando que as uvas nativas podem muito bem conviver com outras variedades, dando sempre bons resultados.

Entre os tintos, destaque para o Evel Grande Escolha 2006, um vinho másculo e envolvente, com variados aromas complexos, oriundos de seu longo estágio (18 meses) em barricas novas de carvalho francês. Mas as garrafas protagonistas da noite ainda estavam por chegar e o fizeram à hora da sobremesa. Ao lado de refinados quitutes da deliciosa doçaria portuguesa, eis que surge o Royal Oporto Colheita 1953! Os Portos Colheita formam uma categoria de Vinhos do Porto à qual muitos não dão o devido valor, por serem vinhos que, às vezes, não conseguiram ascender ao nível Vintage ou LBV. Porém, sempre é bom lembrar que a idade lhes dá sabedoria e experiência. É o caso deste 1953. Em seus cinquenta e cinco anos de vida, evoluiu com classe e categoria, resultando em aromas intensos de frutas secas e compotas diversas, com notas defumadas e de especiarias. À boca, o paladar é perfeito, redondo, ainda com acidez e taninos residuais, o que lhe garante o equilíbrio.

É claro que, entre os presentes, aqueles que nasceram no mesmo ano do vinho, se apressaram a pleitear a aquisição de uma ou mais garrafas, para compartilhar aquela fonte de prazer sensorial com seus entes queridos. Aqui no Brasil, ao que sabemos, estão disponíveis na Importadora Barrinhas, os Royal Oporto Colheitas 1977 e 1985, duas ótimas safras que, com certeza, farão grande papel à mesa (todos os vinhos da RCV são distribuídos no Brasil pela Barrinhas, www.barrinhas.com.br, tel. 21 2131-0021).

Vida longa para a Real Companhia Velha, agora e sempre a Rainha do Douro!
 
Comentários
Fernando Sequeira de Matos
Enófilo
Beria Litoral - V N Poaires
Portugal
11/04/2010 Caro Homero

Vi o seu e:mail e agradeço a divulgação que ele pode dar aos vinhos do Douro, pois sou um apaixonado pelo Douro.

Termina o seu artigo dando uma dose de realeza na Real Companhia Velha, confirmando a verdade histórica da região demarcada do Douro. A realeza na qualidade passa um pouco ao lado da Real Companhia e não vale a pena enumerar as boas casas de vinho do Douro e Porto que existem paredes meias com as Caves da Real em Gaia. As caves da Sandeman, da Calem, da Croft, entre outras, nem nada ficam a dever às da Real Companhia e também são caves de II séculos.

Um abraço
Fernando
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]