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Muito se falou recentemente sobre a longevidade dos vinhos sul-americanos. Por isso, resolvi relatar esta degustação inédita e exclusiva em que participei (eu era o único eno-repórter presente), provando, na ocasião, todas as safras existentes - de 1987 a 2006 - de um dos mais emblemáticos vinhos chilenos, o Don Melchor. O cenário foi a principal sala de degustações da Viña Concha y Toro, em Puente Alto, arredores de Santiago do Chile. Este vinho representa o estado da arte da vitivinicultura sul-americana, por sua genuinidade, regularidade, qualidade e estilo, dignos dos grandes vinhos mundiais. A safra 2003 foi a primeira a atingir os 96/100 pontos da Wine Spectator, maior pontuação recebida até então por um vinho da América do Sul, repetida depois pela safra 2005, mas há muitas outras safras interessantes ...

Esta foi a primeira viagem organizada por José Grimberg, da Bergut Vinhos e Bistrô e o grupo de vinte participantes ficou tão empolgado com o programa, que criou a Confraria Don Melchor, que se reúne mensalmente desde então, para degustar alguns dos melhores néctares mundiais, sempre capitaneados por um ... Don Melchor!

Inicialmente participamos de uma palestra de Enrique Tirado, o jovem enólogo responsável pela elaboração do grande vinho. Enrique está na vinícola desde 1993, onde trabalhou com o Casillero del Diablo e com o Marques de Casa Concha. Em 1997, assumiu a função de enólogo-chefe, cuidando de todos os vinhos da casa. Durante sete anos, foi co-enólogo do top Almaviva - parceria CyT / Rotschild. Desde 1999, dedica-se exclusivamente ao Don Melchor e, sob sua batuta, o vinho obteve, além da pontuação máxima nas duas safras recentes, a quarta colocação no ranking mundial, desta vez com a safra 2001.

São 114 ha de vinhas Cabernet Sauvignon, em Puente Alto, no Maipo Alto, a 650 m de altitude, com média de 20 anos de idade e ao lado das vinhas do Almaviva. Nas safras recentes, costuma ser feito um leve retoque usando a versátil Cabernet Franc, da qual se mantém 7 ha em produção. O vinhedo principal é dividido em sete parcelas que recebem tratamento diferenciado, de acordo com suas peculiaridades qualitativas e grau de contribuição para o corte final. O solo, considerado um dos segredos deste vinho, é pedregoso, pobre em nutrientes e com muito pouca retenção de água, o que limita a produção das vinhas e concentra a qualidade nos frutos selecionados durante o crescimento. O verão quente de noites frias provocadas pelos ventos da Cordilheira, confere à região uma amplitude térmica inigualável.

Devidamente paramentados, equipados e instruídos, participamos da colheita da safra corrente. Os cachos, recolhidos em caixas de 10 kg são levados à esteira de seleção - onde se escolhem as frutas sadias, maduras e intactas - e, em seguida, para os pequenos tanques onde ocorre fermentação cuidadosa e delicada maceração. Após o corte, o vinho amadurece 12 a 16 meses em barricas - 2/3 novas - de carvalho francês oriundo das florestas de Allier, Troncais e Nevers e envelhece por mais um ano na garrafa. A produção anual média é de 180 mil garrafas.

No dia seguinte, fizemos uma visita privada à Casona, esplendida mansão, onde viveram várias gerações da familia Concha y Toro. Atualmente é usada exclusivamente para reuniões da alta direção e recepção de visitantes ilustres. Após assistir na vinícola o indefectível show do Casillero del Diablo, partimos para a extensa degustação, conduzida por Enrique em dois blocos de 10 vinhos. No primeiro bloco, as safras mais antigas, de 1987 a 1996 - elaborados por Pablo Morandé - e no segundo bloco, as safras de 1997 a 2006. De modo geral, nota-se claramente uma divisão de estilos entre as duas décadas, com vinhos austeros, complexos e elegantes até 1996 e tendência moderna nas safras mais recentes, com vinhos mais alcoólicos, potentes e estruturados. As cinco safras iniciais - 1987 a 1991 - mostraram vinhos etéreos, de boa evolução, com destaque para o 1989, uma unanimidade entre os participantes. No primeiro bloco, destaca-se ainda a 1993, em plena maturidade e ainda com ótimo potencial de guarda.

O período 1997-2001 mostra vinhos robustos e longevos, ressaltando-se as safras 1999 e 2001, sendo que esta última é considerada uma das duas grandes colheitas Don Melchor até agora, pela sua completude e potencial evolutivo. De 2002 a 2006, brilham as safras 2003 e 2005, campeãs absolutas de todos os tempos. Desde 1999, a uva Cabernet Franc passa a ser a coadjuvante eventual no corte, aparando algumas arestas, mas sempre em pequenas proporções, mantendo a tipicidade da uva principal. A conclusão final é que o Don Melchor é um vinho de categoria mundial, digno de repousar ao lado dos mais consagrados rótulos, nas mais conceituadas adegas. Atualmente a própria Concha y Toro distribui seus vinhos no Brasil e a Bergut é o seu distribuidor preferencial no Rio de Janeiro.

 
Comentários
Luiz Cola
Enófilo
Vitória
ES
22/05/2010 Caro Homero,

Me lembro do grande prazer que tive ao degustar em 2001, no Encontro Internacional do Vinho em Pedra Azul, de uma vertical destas do Don Melchor (só que na época, paramos no 1997 que estava sendo lançado!). Você foi 2x mais privilegiado!

Apesar do surgimento desde aquela época de muitos vinhos Premium, Super premium, Tops, Ícones, etc..., o Don Melchor continua (na média) sendo o meu chileno preferido.

Parabéns pela descrição desta maravilhosa degustação!

Luiz Cola
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]