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 Conheci Eric e Áurea Recchia e seus filhos Bruno e Patrick, conversando sobre vinho no Forum Enológico, uma lista de discussões da Internet. Na ocasião, há uns 13 anos atrás, eu, ainda iniciante no mundo do vinho, parti para o Vale do Loire, ansioso por conhecer aquela inusitada família brasileira que se atrevia a produzir vinhos franceses! Les Grandes Vignes (www.les-grandes-vignes.com), a propriedade recém-adquirida por eles em Pontlevoy - pequena vila da Touraine - era uma linda mansão, dentro de um Clos (área cercada por muros), mas abandonada há cinco décadas e que continha alguns tesouros: um vinhedo desativado e uma cave em ruínas usada séculos antes pelos abades para produzir seus próprios vinhos e onde hoje funciona a pousada Le Pressoir.
Os vinhedos da família ficam nas proximidades, na vila de Oisly, onde cultivam Sauvignon Blanc e Gamay. Provei e adorei os vinhos e me orgulho de ter ajudado a introduzi-los no mercado brasileiro. Eric e Áurea vêm todos os anos ao Brasil e adoram compartilhar sua experiência e seus vinhos com os amigos e enófilos brasileiros.
Pouco antes de se aposentar da função de executivo principal de uma multinacional alemã na França, Eric Recchia planejou, de forma bastante minuciosa, a etapa seguinte. A perspectiva de levar uma vida de vigneron e dono de uma micro-empresa se impôs quase que imediatamente, em contraponto à vida anterior de diretor de uma mega empresa. Tendo tomado a decisão de ter vinhedos, fazer vinhos e, principalmente, comercializá-los, a direção natural era Bordeaux. O redirecionamento para o Loire foi quase que natural, face às condições encontradas em Bordeaux - propriedades com pouca rentabilidade, pouca escolha em termos de produtos de boa qualidade, etc... O Vale do Loire apareceu como alternativa mais viável, principalmente devido ao projeto acessório de operar uma Pousada.
A Touraine foi mais uma questão de oportunidade de negócio. No mundo do vinho francês, no entanto, o Estado, através de vários órgãos controladores, exerce função reguladora total da profissão de vigneron. Da terra ao produto final, nada se faz sem a aprovação do Governo. Também não se pode criar um novo vinhedo que exceda a quota de produção prevista para cada AOC. "-Quando compramos Les Grandes Vignes, tivemos o trabalho de restaurar todos os imóveis da propriedade e decidimos que o resgate completo do legado histórico passaria pela implantação de um vinhedo, uma empreitada que realizamos com nosso saudoso filho Patrick.", diz Eric (Obs: Patrick Recchia, enólogo e engenheiro, faleceu no inicio de 2009, aos 38 anos). O vinhedo, plantado em Sauvignon Gris - variedade esquecida de Sauvignon, da qual existem poucos hectares comercialmente produtivos no mundo - teve sua primeira safra em 2009.
Eric também é um dos sócios da CVOT - Confrarie des Vignerons d'Oisly et Thesèe, uma cooperativa de pequenos produtores liderados por uma grande empresa do mundo do vinho, Loire Propriétes, que detém o controle das operações. Na CVOT, os Recchia produzem atualmente uma linha de vinhos da AOC Touraine, que comercializam diretamente e exclusivamente para restaurantes e consumidores finais, na França, Inglaterra e Alemanha, da qual três rótulos estão presentes no Brasil, importados pela Global Wine (www.globalwine.com.br - tel 21 2483-1935 / 21 7830-6377), do Rio de Janeiro:
Crémant Baronnie d´Aignan (espumante); Les Grandes Vignes Sauvignon Blanc (o da safra 2001 foi considerado o melhor Sauvignon Blanc do mercado brasileiro em 2004); e Vallée des Rois Cabernet Franc.
Os planos para o futuro são consolidar a marca Les Grandes Vignes, com o lançamento do Crémant Les Grandes Vignes, Cabernet Les Grandes Vignes e um branco doce Moelleux Les Grandes Vignes; desenvolver uma linha exclusiva de Sauvignons com a denominaçao de Le Clos (representando o espaço fechado que é a propriedade Les Grandes Vignes) e completar a gama atual com uma linha complementar de vinhos da Touraine, oriundos do vale do rio Cher. Para tanto, os Recchia se associaram, como participantes minoritários, a um pequeno vigneron local, Guy Alion, cujos vinhos são agora importados no Brasil pela JefsVinus (www.jefsvinus.com.br tel 71 3342-3102), de Salvador.
Já a pousada Le Pressoir tem como carro-chefe a organização de roteiros turísticos para grupos brasileiros e de outros países; uma clientela sobretudo internacional. São pequenos pacotes, focados essencialmente nos temas enogastronômicos, não somente para o Val de Loire, como para todas as regiões vitícolas da França. Há alguns diferenciais interessantes, como passeios de balão e torneios de golf, além, é lógico, da calorosa receptividade brasileira.
Voltei a Les Grandes Vignes mais cinco vezes desde então e, na última vez, há uns dez dias atrás, tive o privilégio de provar, em primeira mão, o primeiro Moelleux produzido com uvas Sauvignon Gris da propriedade. Um vinho saboroso, longo e redondo, que expressa a alma e a paixão brasileira conjugadas ao excelente terroir francês! |
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