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 Pedra Oscilante
O Pêra-Manca é um dos mais antigos e tradicionais vinhos do mundo. Sua origem, reza a lenda, remonta à Idade Média. O nome, segundo a tradição, deriva de "pedra manca" ou "pedra oscilante", uma formação de pequenas pedras arredondadas e soltas sobre rocha firme. Durante os séculos XV e XVI, os vinhedos do Pêra-Manca eram de propriedade dos frades do Convento do Espinheiro. Em 1517, sem dinheiro, os frades arrendaram as vinhas a Álvaro Azevedo, escudeiro do Rei, Dom João II. Então, o vinho era levado nas viagens das naus portuguesas. Era o tempo dos descobrimentos. O vinho esteve, inclusive, na esquadra de Pedro Álvares Cabral, que chegou ao Brasil em 1500. Há registros de que o Pêra-Manca foi servido a alguns índios quando da chegada de Cabral no que seria a Bahia.
No século XIX, o vinho foi recuperado pela Casa Soares. Nesta época, o vinho conseguiu sucesso e reconhecimento internacional, tendo sido premiado em Bordeaux em 1897 e 1898. Mas com a devastação causada pela filoxera, praga que exterminou vinhedos mundo afora, o vinho deixou de ser produzido. Isto até 1987, quando os herdeiros da Casa Soares ofereceram o nome à Fundação Eugénio de Almeida, próspera vinícola de Évora, que produz o conhecido Cartuxa, entre outros rótulos. Desde então, passou a ser o vinho ícone da Fundação. Produzido apenas em anos excepcionais, o Pêra-Manca ressuscitou em 1990. De lá pra cá, foi lançado outras oito vezes: em 1991, 1994, 1995, 1997, 1998, 2001, 2003 e 2005. Esta última safra, recém-lançada no Brasil, antes mesmo do que em Portugal, em almoço realizado no Antiquarius na última segunda-feira, com direito à presença da gerente de exportação da Fundação, Gabriela Fialho. No almoço, além do Pêra-Manca Tinto 2005, foi lançado o Pêra-Manca Branco 2007. E, para deleite dos comensais, foi promovida ainda uma degustação vertical das últimas cinco safras do Pêra-Manca Tinto (97, 98, 01, 03 e 05).
O Pêra-Manca Tinto é um vinho bem caro. Para muita gente, não vale o preço que custa. Uma garrafa do 2005 vai custar R$ 648 aos interessados. Mas o fato é que o vinho acaba. Sempre. O Brasil é o principal importador do Pêra-Manca. E a vertical mostrou que, polêmicas a respeito de preços à parte, o vinho é bom pacas. O da safra 1997 já está pronto. Quem tem a sorte de ter uma garrafa guardada na adega, é bom abrir logo. No nariz, aromas de chá, couro, pelica, terra. Na boca, ainda está vivo, equilibrado, com taninos ainda presentes e um bom final que lembra flores. Mas não vai muito mais longe. O da safra 1998 foi o meu preferido. Este vinho impressiona pela juventude, apesar dos seus 11 anos de idade. No nariz, groselha, frutas vermelhas maduras, compota. Na boca é fresco, aveludado, macio, com um final longo e levemente doce.
Já o Pêra-Manca 2001 despertou paixões e polêmicas. Alguns o elegeram como o melhor do dia. Outros, o acharam inferior aos demais. Fico no time dos que não amaram, embora esteja longe de ser um vinho ruim. No nariz, frutas vermelhas, com evolução para café e tabaco. Na boca, bom corpo, algum frescor e um final longo. O 2003 é um típico vinho do Alentejo: intenso, vigoroso, com frutas vermelhas, compota, especiarias, volume e com um fim-de-boca doce. Já o da safra 2005 impressionou: é um vinho potente, robusto, concentrado, volumoso, intenso, longo, com aromas de fruta compotada e geléia de amora. Se terá a mesma longevidade do 98, só o tempo dirá. Mas vale a aposta. |
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Vinhos degustados |
 PÊRA-MANCA BRANCO 2007 Alentejo, Portugal Corte de antão vaz e arinto, é um branco fresco, elegante e longo, fermentado parte em barrica, parte em tanques de aço inox, com aromas de frutas cítricas, notas de pêssego e um fim-de-boca de banana. Vai maravilhosamente bem com um bacalhau em natas. Nota: 9 Onde: Adega Alentejana (2286-8838) Preço: R$ 168
ATTEMS FRIULANO 2007 Collio, Itália O Friuli é uma região ótima para vinhos brancos. E este é um deles. Do catálogo da Marchesi Frescobaldi, feito com a uva friulano (antiga tocai friulano), é floral, com notas de frutas cítricas. Na boca é vivo, fresco e com um final longo e prazeroso. Nota: 9 Onde: Grand Cru (2511-7045) Preço: R$ 94
PÊRA-MANCA TINTO 2005 Alentejo, Portugal O ano foi de muito calor no Alentejo. E este é um vinho que reflete estas condições climáticas. Concentrado, com muita fruta madura, geléia de amora, compota, intenso, volumoso, potente, longo, com fim-de-boca doce. Pede comida e tempo de garrafa. É caro. Mas é muito bom. Nota: 9,5 Onde: Adega Alentejana (2286-8838) Preço: R$ 648
MAYCAS DEL LIMARI SYRAH 2005 Limarí, Chile O vale de Limarí tem se destacado cada vez mais como uma boa área para a syrah. Este é mais um que corrobora a tese. No nariz, amora, especiarias, pimenta. Na boca, a acidez alta segura bem o álcool e garante uma boa boca. Final um tanto curto. Nota: 8 Onde: Enoteca Fasano (2422-3688) Preço: R$ 71 |
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