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 Eu não sou sommelier. Sou um jornalista. Ao longo da minha vida, fui me interessando cada vez mais pelo mundo do vinho. Frequentei palestras, fiz cursos, comprei livros e provei vinhos. Muitos vinhos. De tipos, regiões, uvas, produtores e estilos diferentes. Tornei-me um enófilo. Escrever sobre vinhos foi um desafio que só ousei encarar por me sentir preparado. E cá estou, há mais de dois anos, ocupando este nobre espaço na Programa.
O sommelier é um profissional. Em um restaurante, faz as vezes de um Maître de vinhos. É sua função elaborar a carta, fazer a manutenção da adega, o serviço do vinho e a harmonização da bebida com a comida. É sua obrigação saber sobre a elaboração do vinho, as particularidades de cada região vinícola, as características das principais uvas, dominar a arte de degustar e conhecer muito bem a casa onde trabalha e assim poder orientar bem o cliente sobre a escolha do rótulo. Para se transformar em sommelier, a pessoa tem que estudar. E muito. No Rio de Janeiro, temos ótimos profissionais no mercado. Gente como Claudio Gomes, Deise Novakovski, Dionísio Chaves, Eder Heck, Gianni Tartari, Hirã Salsa, Jean-Pierre, João Pedro, João Souza, Marcelo de Moraes, Marcos Lima, Rodrigo Moura, Valmir Pereira, Yan Braz de Souza Lima, entre vários outros nomes de respeito que labutam em nossos restaurantes. A maioria deles formados pela Associação Brasileira de Sommeliers, a ABS, criada há 25 anos pelo mestre Danio Braga.
Infelizmente, a profissão de sommelier ainda não é regulamentada pelo Governo Federal. Um projeto nesse sentido está em tramitação no nosso ágil Congresso. E a falta de regulamentação abre espaço para algumas distorções. Uma delas causou uma baita polêmica na semana passada. Aqui no EnoEventos, o mestre Danio Braga enviou uma carta de protesto à vinícola Miolo, por conta de um curso de formação de sommelier com certificado internacional, divulgado no boletim da empresa. O diabos é que o tal curso, ministrado pelo sommelier italiano Roberto Rabachino, tem a duração de apenas cinco dias! É difícil crer que em tão pouco tempo, por melhores que sejam as qualificações do sr. Rabachino, alguém possa aprender tanto. Roberto Rabachino é diretor de cursos da FISAR (Federazione Italiana Sommelier Albergatori Restoratori) e duas vezes campeão no concurso mundial de sommelier.
O curso de sommelier da FISAR é divido em três níveis. No primeiro, são ministradas aulas sobre a função do sommelier, a fisiologia dos sentidos, análise sensorial, legislação vinícola, viticultura, elaboração dos vinhos, defeitos comuns e ainda sobre destilados e cerveja. No segundo nível, aulas sobre as regiões vinícolas italianas e ao redor do mundo. E no terceiro nível, aulas sobre comida e harmonização. Há cursos ativos de todos os níveis. Na Campânia, um curso do nível um, iniciado no dia 11 de março, com duas aulas semanais, terminará no dia 3 de junho. Na Ligúria, um curso do nível dois, iniciado em 15 de fevereiro, irá terminar em 5 de maio. E em Caserta, o curso do nível três, iniciado em 5 de março, vai até o dia 7 de maio. Bem mais que os cinco dias do curso prometido aos brasileiros.
Aprender sobre tão complicado ofício a ponto de sair do curso ostentando o título de sommelier internacional me parece um despropósito. Soa como "aprenda inglês dormindo em oito lições" ou "perca peso em uma semana sem parar de comer o que gosta". Por mais séria que seja a Miolo e mais graduado que seja o sr. Roberto Rabachino, tal iniciativa mais parece oportunismo misturado com um quê de charlatanismo. Além de uma afronta aos inúmeros profissionais qualificados espalhados pelo mercado, que muito tiveram que estudar para chegar onde estão. |
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Vinhos degustados |
 Domaine de La Perrière 2005 Fitou, França Fitou é a mais antiga das apelações tintas do Languedoc-Roussillon. Dali, saem muitos vinhos de boa relação custo-benefício. Este é um deles. Aromas de amora, ameixa preta e um toque defumado. Na boca, frescor e maciez, com um final longo e relativamente doce. Bom para carnes vermelhas grelhadas. Nota: 8 Onde: Andes (2286-0313) Preço: R$ 57,30
Bordeaux D'Estournel 2005 Bordeaux, França Tinto simples e fácil, da prestigiosa região de Bordeaux e de uma safra considerada por muitos a melhor do século até aqui. No nariz, frutas frescas e alguns aromas animais. Na boca, médio corpo, boa acidez, maciez e elegância. Bom para costeletas de cordeiro. Nota: 7,5 Onde: Zona Sul (2122-7070) Preço: R$ 34,90
Amayna Pinot Noir 2006 Vale do Leyda, Chile Eis um pinot noir chileno que não chocará os puristas. No nariz, aromas florais, com um toque herbáceo e notas de alcaçuz. Na boca, frescor, com médio corpo e um ligeiro amargor no longo final. Nota: 8 Onde: Mistral (2274-4562) Preço: US$ 53,50
Santa Carolina Late Harvest 2007 Vale do Rapel, Chile Sauvignon blanc de colheita tardia, cortado com um pouco de gewürztraminer, apresenta notas de damasco, bom frescor e uma levíssima botritis. Bom para sobremesas a base de frutas, de ótimo custo-benefício. Nota: 8 Onde: Casa Flora (2224-0826) Preço: R$ 50 |
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