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 A safra de 2007 foi bastante complicada para Tim Kirk. A região de Murrumbateman, no distrito de Camberra, na Austrália, sofreu demais com geadas. Quase toda a produção foi perdida. Mesmo assim, Tim, o enólogo e proprietário da pequena Clonakilla conseguiu lançar no mercado seu Shiraz Viognier. Foi um estrondo. Os críticos foram unânimes em enxergar ali uma obra-prima. Resultado: as raras 1.600 garrafas foram disputadas a tapa.
Não foi a primeira bola dentro de Tim. Desde que assumiu a vinícola, no final dos anos 1980, o tranquilo australiano com sangue irlandês coleciona elogios. Apaixonado pelos vinhos franceses, em especial os feitos no vale do Rhône, foi ele o responsável por levar ao país dos cangurus o corte usado em Côte-Rôtie: uma pequena quantidade de viognier misturada à syrah (ou shiraz, como escrevem os australianos). Os críticos adoraram e muitos outros produtores seguiram Tim. Mas, como bem escreve James Halliday, um dos mais importantes escritores de vinho da Austrália, o Clonakilla Shiraz Viognier segue sendo o melhor corte das duas uvas feito no país. Tive a oportunidade de provar amostras de diferentes barricas do Shiraz Viognier 2008, que será lançado em outubro. E não há como negar que Halliday está certo em sua afirmação. O vinho transborda elegância, finesse, complexidade. Tim Kirk é tão fã dos vinhos do Rhône que conseguiu produzir em plena Austrália um Côte-Rôtie de primeira linha.
Mas não é apenas o magnífico Shiraz Viognier que faz a fama da vinícola. A casa tem bom nome desde a fundação, em 1971. Foi o pai de Tim, John Kirk quem criou a Clonakilla. Então, eram produzidos um cabernet-sauvignon e um riesling. Desde que Tim tomou a frente dos negócios, a Shiraz passou a ser a estrela da companhia. Além do Shiraz Viognier, a vinícola faz outros três vinhos com a uva: o Hilltops, o O'Riada e o Clonakilla Shiraz. Todos excelentes. O Hilltops é feito com uvas de cinco diferentes vinhedos em Nova Gales do Sul. O 2007 é intenso, vigoroso, negro. Frutas negras, especiarias, ameixa e um toque de menta no nariz. O O´Riada (o nome é uma homenagem ao músico irlandês epônimo que morreu no ano da fundação da vinícola) foi lançado por conta da difícil safra que foi 2007. Como não tinha produção, Tim comprou uvas de cinco produtores locais e fez o vinho do mesmo modo que faz o Shiraz Viognier: fermentação com cachos inteiros, uso de leveduras indígenas, estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês, sendo apenas 35% novo. E cortou a shiraz com 2% de viognier. Acertou em cheio: é um vinhaço. Frutas negras, pimenta, especiarias, chocolate; com médio corpo, acidez perfeita e um final longo e prazeroso. Por conta das difíceis condições climáticas, em 2007, a Clonakilla não lançou o shiraz 100% feito com uvas próprias. A vinícola ainda produz um corte bordalês chamado Ballinderry, um blend de semillon e sauvignon blanc, e varietais de viognier e de riesling. Destaque para o Riesling 2008. Mineral, com notas de lima e um toque floral. Na boca é fresco, intenso, complexo e longo.
Os vinhos da Clonakilla, infelizmente, ainda não estão disponíveis no Brasil. Ainda. O importador Ken Marshall, da KMM e da Wine Society está em adiantadas conversações com Tim Kirk. Se tudo der certo, ainda neste ano o brasileiro poderá comprovar o talento deste importante enólogo australiano. Cruzemos os dedos! |
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Vinhos degustados |
Brokenwood Semillon 2008 Hunter Valley, Austrália Com apenas 10% de álcool, bem menos do que nas safras anteriores, este semillon vem diferente de seus antecessores. No nariz, surpreendentemente frutado, lima e arruda. Na boca é fresco, cítrico e bom de beber. Combina com frutos do mar. Nota: 8,5 Onde: KMM (2286-3873) Preço: R$ 133 (safra 2006)
Mitchelton Blackwood Park Riesling 2008 Victoria, Austrália Riesling simples e fácil de beber feito por esta bela vinícola australiana. Obra de Ben Heines, eleito o melhor jovem enólogo australiano do ano passado. Aqui, ele fez um riesling frutado, fresco, leve, ótimo para dias quentes. Seria ainda melhor se tivesse mais complexidade e mineralidade. Nota: 8,5 Onde: Wine Society (2286-3873) Preço: R$ 60
Primus 2005 Vale de Casablanca, Chile Top de linha da Veramonte, um vinho de alta qualidade a preço mais do que justo. Corte de merlot, cabernet-sauvignon e carmenère, com aromas de frutas vermelhas e um toque de pimenta negra. Na boca, é aveludado, fresco, com final longo e agradável. Nota: 8,5 Onde: Zona Sul (2122-7070) Preço: R$ 53,90
Hillstowe Karinya Cabernet Shiraz 2003 Adelaide Hills, Austrália A Wine Society é uma nova importadora que chegou ao mercado prometendo qualidade com um preço acessível. A julgar por este vinho, a coisa vai bem. É um corte de cabernet-sauvignon e shiraz simples e bom. Frutado, leve, macio, gostoso. Perfeito para o dia-a-dia. E o que é melhor: bem barato. Nota: 7,5 Onde: Wine Society (2286-3873) Preço: R$ 20 |
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