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    Viajando pela Austrália

    Nos anos 1980, os vinhos australianos ficaram conhecidos internacionalmente por conta de seus tintos musculosos, potentes, super maduros e também por seus brancos (na grande maioria feitos com a chardonnay) untuosos, pesados, ultra amadeirados. Coisa do passado. Passei as últimas duas semanas viajando Austrália adentro, ciceroneado pelo importador australiano Ken Marshall e acompanhado da crítica gastronômica Luciana Plaas e do consultor de vinhos Paulo Nicolay. Cinco mil quilômetros e vinte e uma vinícolas depois dá pra dizer, sem medo de errar: nove entre dez enólogos do país estão atrás de elegância. Não que os vinhos de estilo antigo tenham desaparecido como por encanto das prateleiras. Ainda estão lá e têm os seus fãs cativos. Assim como os vinhos com generosas doses de açúcar residual, também bastante comuns. Mas, vinícola depois de vinícola, o discurso dos enólogos era o mesmo: a busca pela elegância perdida.

    Não é fácil. Primeiro, porque é difícil mudar, de um dia para o outro, a característica pelo qual o país é conhecido. Segundo, porque o próprio conceito de elegância é relativo. Mas prova atrás de prova fica evidente que o vinho australiano não é mais aquele. E há sinais claros de que a mudança é para melhor. Na Clonakilla, em Camberra, por exemplo, o premiado Tim Kirk (tema da coluna da semana passada), faz um corte de shiraz e viognier, a moda da região francesa de Côte-Rôtie, que esbanja elegância. No vale do Barossa, John Duvall é outro que consegue tal proeza. Vinícolas como St. Hallett, Yering Station, Yalumba, Petaluma, Stonier, Penley, Mount Langi Ghiran (excelente vinícola, para ficar de olho, com um shiraz ótimo e um riesling fantástico), entre outras, em diferentes regiões, repetem o discurso, quase como se fosse um mantra. E, pelos vinhos provados, o resultado tem sido bom. Vinhos com boa fruta, sem a presença exagerada da madeira, frescos, bem acabados, com taninos finos, macios, enfim, elegantes, foram comuns nesta viagem. Para muitos, uma mudança de conceito. Para outros, uma necessidade do mercado, um possível indício de mudança no paladar do consumidor de vinho.

    Mas há também aqueles que dão de ombros para as mudanças e para a tão falada elegância. Peter Barry é um desses. Na Jim Barry, vinícola que herdou de seu pai, ele mesmo faz questão de dizer, que não faz vinhos "da moda", ou visando o mercado. Seus vinhos são autênticos: musculosos, robustos, exuberantes. Refletem bem a personalidade de Peter. Mas há ali uma acidez presente que contrabalança tanta potência. O resultado: vinhos muito bem equilibrados. Mesmo sem serem exatamente "elegantes".
     
    Vinhos degustados
    Knappstein Three 2008
    Clare Valley, Austrália
    Corte de gewürztraminer, pinot grigio e riesling feito por esta emergente vinícola do vale de Clare, a Meca dos rieslings australianos. No nariz, domínio da gewürztraminer, com aromas de flor de laranjeira, melão, lichia e lima. Tem boa estrutura, frescor e é bem saboroso na boca.
    Nota: 8,5
    Onde: Wine Society (2286-3873)
    Preço: R$ 64,00

    De Bortoli Vat 2 Sauvignon Blanc 2008
    Riverina, Austrália
    Este não pretende ser um vinho elegante, mas sim um típico sauvignon blanc da quente região de Riverina. No nariz, maracujá, lima. Na boca, fresco, fácil, vivo, cítrico, com um final agradável, mesmo um tanto curto. De ótimo custo benefício. Vai bem com mexilhões e ostras.
    Nota: 8
    Onde: Zona Sul (2122-7070)
    Preço: R$ 36,80 (safra 2007)

    John Duval Eligo 2006
    Vale do Barossa, Austrália
    Um dos pilares da vinicultura australiana, John Duvall não tem vinhedos ou vinícola. Mas, depois de trabalhar por quase 30 anos na gigante Penfolds, sabe onde encontrar as melhores uvas. Eligo significa justamente isso: eleito. E é com as melhores uvas shiraz que Duvall faz este clássico, em sua segunda safra. A primeira era perfeita. Esta não destoa. Embora um pouco mais potente que o 2005, este vinho já nasce clássico. No nariz, intenso e persistente, frutas negras, especiarias, café, chocolate amargo. Na boca, fino, estruturado, harmônico, interminável. Ainda não chegou ao Brasil, mas vale fazer a reserva. Para guardar.
    Nota: 9,5
    Onde: KMM (2286-3873)
    Preço: R$ 660,00 (safra 2005)

    Richland Shiraz 2007
    Riverina, Austrália
    Bill Calabria é um craque. E este vinho, de ótimo custo-benefício, uma beleza. No nariz, cereja, morango, groselha. Médio corpo, macio, com final longo e levemente doce. Como todo bom shiraz, vai bem com um cordeiro.
    Nota: 8
    Onde: KMM (2286-3873)
    Preço: R$ 66,00 (safra 2006)
    Comentários
    José Paulo Schiffini
    Enófilo da antiga
    Rio de Janeiro
    RJ
    12/04/2009 Caro Lalas, que bela viagem ! E ainda acompanhado pela Luciana, uma referencia em elegancia enogastrônomica.

    Sempre achei a Austrália a Grâ-Bretanha passada a limpo. Já cheguei a recomendar para muitos jovens que queiram aperfeiçoar seu Ingles, irem para lá ou para o Canadá, ao invéz de Londres, New York, etc.

    Claro que o vinho, por mais que os Australianos e os demais povos de fala inglesa, possam questionar: o Vinho não abandona seu Terroir no sentido amplo.

    E a França no quesito elegância é quase imbatível; mas é bom ouvir que alguns enólogos australianos já estão percebendo que é melhor vender duas garrafas de um vinho elegante do que vender uma garrafa de um vinho apenas potente... como foi até agora melhor vender uma garrafa de vinho potente do que não vender nenhuma...

    Vamos esperar e ver se o tchurma do Ken, consegue ter a elegancia do Robert? Será que falei bobagem?

    Parabéns pela descrição da viagem.
    Schiffini
    Eder Heck
    Sommelier, Mr. Lam
    Rio de Janeiro
    RJ
    13/04/2009 Caro Lalas,

    Como de costume, leio suas matérias com atenção, pois bem postas e descritivas. Como ainda não tive a oportunidade de conhecer a Australia, só pelos vinhos, agradeço pelos relatos e opiniões. E o Paulo deve estar se deliciando, o que ele está achando do pais do Canguru?

    Sobre a elegancia que vc mencionou, fico feliz com esta nova visão, pois a robustez dos vinhos estava ficando desagradável.

    abs
    Roberto Cheferrino
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    15/04/2009
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]