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John Duval é uma lenda viva. Entre 1974 e 2002 trabalhou na Penfolds, uma das grandes vinícolas da Austrália. Durante esse tempo, foi o responsável pelo Grange, o mais conhecido vinho australiano e um dos melhores do mundo.
Quando saiu da Penfolds, John decidiu fazer os próprios rótulos. Mas em vez de comprar terras para plantar vinhas e equipamento a fim de montar a sua vinícola, Duval resolveu utilizar os seus conhecimentos. Macaco velho, John sabe onde encontrar as melhores uvas. E, em vez de gastar rios de dinheiro em barricas e tanques, aluga o espaço de velhos amigos de estrada. Assim, cria suas obras de arte como o top Eligo, e os ótimos Entity e Plexus.
Além das jóias que produz na Austrália, John Duval presta consultoria no Chile e nos Estados Unidos. No Chile, em joint venture com a Ventisquero, faz os ótimos Pangea e Vértice.
E foi para promover estes dois vinhos que Duval veio ao Rio nesta semana. Em companhia do enólogo-chefe da vinícola chilena, Felipe Tosso, apresentou as novas safras dos vinhos em almoço no restaurante Fasano Al Mare e conversou com o colunista. |
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Alexandre Lalas |
John Duval |
Como foi a safra na Austrália? |
Foi muito boa. Recém terminamos a colheita e após o forte calor de janeiro, tivemos uma boa queda de temperatura, o que proporcionou um perfeito amadurecimento do fruto. Estou bastante otimista em relação à qualidade desta safra. |
E no Chile, quais são as perspectivas? |
Só colheremos a carmenère que usamos no Vértice em maio, mas a shiraz promete e muito. Tivemos um ano tecnicamente perfeito, com boa amplitude térmica, calor na hora certa e coisa e tal. Mas vamos ver. No Chile, o trabalho ainda não terminou. |
Qual a principal diferença entre a shiraz no Chile e na Austrália? |
Não dá pra apontar apenas uma diferença. Até porque a shiraz é uma uva que oferece muitas possibilidades.
No Chile, ela vai bem tanto nos climas mais quentes, como em Apalta, onde temos as nossas vinhas, como em lugares mais frios. Gera vinhos de características diferentes.
Mas acho que, em relação à Austrália, o que temos são vinhas mais velhas no vale do Barossa, onde já sabemos com precisão exatamente onde podemos chegar, enquanto no Chile as vinhas ainda são novas, e ainda há muito caminho a percorrer. |
Durante anos o sr. fez o Grange, um dos ícones da Austrália e do Novo Mundo. Como foi sair da Penfolds e montar a sua própria vinícola? |
Trabalhei na Penfolds por quase trinta anos. E acho que saí na hora certa. Tinha meus projetos e a vontade de realizar uma coisa nova e minha, além de explorar outras possibilidades como esta parceria com a Ventisquero.
Se ainda trabalhasse na Penfolds e fizesse o Grange, seria impossível conciliar as minhas aspirações com as necessidades da empresa. |
Muito se discute sobre o estilo de fazer vinho. Uns defendem o que se faz no Velho Mundo, enquanto outros escancaram as portas para o que é produzido no Novo Mundo. Como o sr., parte decisiva na descoberta da Austrália pelo mercado de vinhos, enxerga esta discussão? |
Acho uma conversa quase estéril.
Nas décadas de 70 e 80 até havia certa diferença entre o que se fazia na Europa e o que apresentavam países como Austrália e Estados Unidos. Hoje em dia não há mais isso. Basta dizer que é normal encontrar vinhas de mais de 100 anos na Austrália, coisa que não ocorre na França ou na Itália com a mesma frequência.
Há vinhos feitos no Novo Mundo que são elegantes e austeros e outros feitos no Velho Mundo que são robustos, musculosos e super concentrados. É tudo uma questão de solo, clima e desejo do enólogo. |
Engarrafadas |
Foi um sucesso a décima primeira edição do Jantar dos Chefs, realizado no último sábado na Pousada Terras Altas, em Visconde de Mauá. Paulo Pinho, Paulo Nicolay e Flávia Quaresma apresentaram as suas criações, muito bem harmonizadas pelos vinhos da Confraria Carioca.
Destaque para o Pil-Pil de Bacalhau, feito pelo chef do restaurante Sagrada Familia, Paulo Pinho, que casou perfeitamente com o Fabian, vencedor da degustação às cegas de espumantes nacionais promovida pela Revista Programa no final do ano passado.
A próxima edição do jantar vai acontecer em novembro deste ano. E é bom reservar com antecedência. Como sempre acontece, o restaurante da pousada estava abarrotado de gente. |
Vinhos degustados |
Vértice 2006 Apalta, Chile Corte de carmenère com shiraz, este vinho construído a quatro mãos pelo craque Felipe Toso e pelo lendário John Duval é o perfeito casamento entre Chile e Austrália. No nariz, especiarias, amoras, pimenta. Na boca, boa estrutura, acidez correta, austeridade e maciez. De primeira linha, bom para uma costeleta de cordeiro. Nota: 9 Onde: Cantu (0300 2101010) Preço: R$ 180
Pangea 2006 Apalta, Chile Outra criação de Felipe Toso e John Duval, um dos grandes vinhos feitos com a syrah no Chile. As uvas das melhores parcelas dos vinhedos da Ventisquero em Apalta, uma das melhores regiões chilenas. O nariz é intenso e elegante, com amora, mirtilo, cereja e especiarias. Na boca, é elegante, macio, de boa estrutura, e um final longo e arrebatador. Também é perfeito com um cordeiro. Nota: 9,5 Onde: Cantu (0300 2101010) Preço: R$ 290
John Duval Entity 2006 Vale do Barossa, Austrália Shiraz clássico feito por John Duval, um dos papas da uva, em seu projeto australiano pós Penfolds. Amoras e pimenta no nariz intenso e expressivo, e excelente na boca. Alia potência e elegância, tem ótima acidez, fruta madura, estrutura e um final longo com muita fruta. Nota: 9,5 Onde: KMM (2286-3873) Preço: R$ 315
John Duval Plexus 2006 Vale do Barossa, Austrália Corte de shiraz, grenache e mourvèdre, estilo Châteauneuf-du-Papes, cheio de fruta, vigor, concentração e força no nariz. Na boca, surpreende pela elegância, além de ter boa estrutura e um final longo com fruta compotada. Nota: 9 Onde: KMM (2286-3873) Preço: R$ 285 |
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