|

Juan Pablo Lecaros é enólogo há 11 anos. Começou na Santa Carolina, trabalhou na França, e está na Viu Manent desde 2000. Faz parte da nova leva de enólogos chilenos cheios de ideias novas e disposição para estudar solos, climas e variedades. No quente vale do Colchágua, onde fica a vinícola em que trabalha, testa diversas variedades. Em busca do corte perfeito, experimenta garnacha, tempranillo, carignan, cabernet franc, tannat e petit verdot, entre outras cepas. Mas a grande estrela da companhia continua sendo a malbec. Sim, ela mesma, a malbec. Francesa de origem, argentina por consagração, é com a casta que a Viu Manent faz o seu vinho mais famoso, o Viu 1. Em visita ao Rio de Janeiro, para mostrar os vinhos da empresa, uma das mais populares vinícolas chilenas no Brasil, Juan Pablo conversou com o colunista, na Confraria Carioca, simpática loja de vinhos no shopping Rio Plaza, em Botafogo. |
|
Alexandre Lalas |
Juan Pablo Lecaros |
A escolha da malbec para a produção do vinho ícone da Viu Manent é uma questão técnica ou uma jogada de marketing, para marcar posição com uma uva pouco associada ao Chile? |
Talvez seja um pouco das duas coisas. A malbec é o que temos de melhor. As vinhas de onde sai o Viu 1 são antigas, com solo especial que nos dá a condição ideal para a casta.
Mas também tem a identificação que o consumidor tem com a vinícola. Tanto que fazemos sete vinhos com a malbec. Por sermos um dos primeiros a lançar vinhos com a uva no Chile, o consumidor acostumou a esperar um bom malbec da Viu Manent. E acho que conseguimos um bom resultado. A prova é que, depois que lançamos o nosso vinho, muitas outras vinícolas apostaram, com sucesso, na cepa. |
Na Argentina, a malbec gera vinhos florais e frutados. No Chile, e, especificamente os vinhos da Viu Manent, são mais terrosos, estruturados. Por ser a uva muito mais identificada com a Argentina do que com o Chile, esta diferença não atrapalha as vendas no mercado exterior? |
Muito pelo contrário. Reconheço que nosso vinho é muito diferente daqueles feitos na Argentina. Você tem razão, os argentinos são mais florais, com taninos mais doces. Os nossos são mais estruturados, com aromas mais de terra. Mas como nossa venda é mais direcionada aos restaurantes do que à pessoa física, trata-se de um público diferente, que já sabe o que quer.
E também tem outro fator: os argentinos abriram o mercado para a malbec, mas quem quer a uva, não se importa com a origem, e nem mesmo com o estilo. Quer apenas beber um bom malbec. |
O que mais mudou nos últimos anos na vitivinicultura chilena? |
Acho que muita coisa. Expandimos para vales diferentes, plantamos outras cepas, passamos a fazer um estudo maior de solo, entre outras coisas. Acho que o fundamental é a busca pelo melhor terroir para cada variedade. Creio que avançamos muito neste sentido e estamos conseguindo criar identidade para nossos vinhos.
Outra coisa que passamos a fazer com mais frequência é corrigir, na bodega, a acidez dos nossos vinhos, que era baixa. Passamos a valorizar o frescor. |
Muita gente critica o alto teor alcoolico dos vinhos chilenos. O que o senhor pensa disso? |
No Chile, buscamos a perfeita maturação dos taninos. Assim, conseguimos fazer vinhos com taninos mais macios e de qualidade, que têm capacidade para envelhecimento, mas que também podem ser apreciados quando lançados.
Nunca colhemos as uvas por conta do nível de açúcar, ou pela acidez. Nossa uva tem muito açúcar. Se quiséssemos, poderíamos colhê-la meses antes da data em que colhemos. Mas fabricaríamos vinhos duros, desequilibrados. O preço é fazermos vinhos com um pouco mais de álcool, mas equilibrados, macios, prontos.
E, tem outra coisa: quando o vinho está bem balanceado, este grau de álcool a mais sequer é notado. O que conta é o equilíbrio. |
|