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 Nem todos os anos, o melhor jogador de futebol do planeta é brasileiro. Pelo menos, assim pensa a FIFA, tanto que o atual eleito é o português Cristiano Ronaldo. Mas é consenso no mundo da bola que não há lugar que consiga produzir tantos craques quanto o Brasil. Não é por acaso que somos conhecidos como o país do futebol. A mesma lógica pode ser aplicada no mundo do vinho. Só que no planeta uva, a dona da bola é a França. É até covardia. Nenhum outro país consegue produzir um número tão grande de vinhos com tanta qualidade, quantidade e diversidade quanto os franceses.
As três regiões de maior prestígio na França são Bordeaux, Borgonha e Champanhe. Tamanho prestígio se reflete nos preços. Os grandes rótulos destes lugares costumam atingir cifras impagáveis para a maioria dos mortais. Não é à toa que são os mais imitados vinhos do mundo. Bordeaux é cortada pelo rio Gironda. Na margem esquerda ficam Pauillac, Margaux, Saint Estephe e Saint-Julien algumas das mais importantes comunas da região e casas de grandes e caros vinhos. É nestas áreas que é a cabernet-sauvignon atinge sua expressão máxima. Do outro lado do rio, na margem direita, ficam as comunas de Pomerol e Saint-Emilion, entre outras. Nestes lugares, merlot e cabernet franc disputam o estrelato. Ao sul de Bordeaux fica outra estrela máxima da constelação mundial de vinhos: Sauternes, lar do inigualável Château D'Yquem, um dos melhores brancos de sobremesa do planeta. Na Borgonha não tem disputa. Seja em que comuna for, a pinot noir reina entre as tintas e a chardonnay entre as uvas brancas. Já em Champanhe, são três as uvas autorizadas para a produção da bebida: chardonnay, pinot noir e pinot meunier.
Se em termos de prestígio Bordeaux, Borgonha e Champanhe saem na frente, nem sempre quando se fala em qualidade esta ordem permanece valendo. Tanto na Alsácia quanto no vale do Rhône são produzidos vinhos espetaculares, que só fazem melhorar ao longo dos anos. Na Alsácia, predominam os brancos. Em especial os feitos com a riesling, a gewürztraminer, a pinot gris e a pinot blanc. Já o Rhône é dividido em sul e norte. É do norte que saem os melhores vinhos. De Hermitage vêm alguns dos melhores syrahs do mundo. De Condrieu, os grandes brancos feitos com a viognier. Em Côte-Rôtie nasceu o cada vez mais imitado corte de syrah com viognier. No sul, grenache, cinsault e mourvèdre juntam-se a syrah entre as uvas tintas de maior prestígio. São as cepas principais na composição do Châteauneuf-du-Pape, o grande vinho da região, seguido de perto pelo Gigondas.
No vale do Loire, destaque para a sauvignon blanc. Nem o cartaz cada vez maior conquistado pelos neozelandeses produzidos a partir da uva fez com que os bons brancos da região perdessem espaço. Sancerre e Pouilly-Fumé são as duas mais importantes apelações do Loire. A Provença é conhecida como a terra dos vinhos rosados. Mas bons tintos são feitos na região, em comunas mínimas como Palette. O Languedoc-Roussillon é terra de grandes vinhos, muitas vezes subestimados e também de grandes opções de excelente custo-benefício. Um dos melhores vinhos de sobremesa que conheço é o Maury, feito na comuna do mesmo nome, em Roussillon.
Do sudoeste vêm belos vinhos feitos com uvas que se deram muito bem na América do Sul. De Madiran saem bons tannats, variedade muito bem adaptada ao Uruguai. E Cahors é terra de belos malbecs. A uva, chamada de côt na região, gera por lá vinhos bastante escuros, com aromas mais terrosos e menos florais do que os feitos na Argentina, mas bastante interessantes. Ainda temos bons vinhos na Córsega, no Jura e mesmo na Sabóia. O que mostra que a França é mesmo o país do vinho. Mas, assim como abundam perebas no futebol brasileiro, nem todo vinho francês é essa maravilha toda. Por isso, escolher bem o produtor faz toda a diferença. |
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Vinhos degustados |
Vinho da semana Château Bois Pertuis 2005 Bordeaux, França Bordeaux genérico de excelente qualidade, majoritariamente feito com a merlot. O château é de propriedade de Bernard Magrez, dono de 35 vinhedos espalhados pelo planeta, entre eles, o prestigiado Château Pape Clément, também em Bordeaux. No nariz, mirtilo e amora. Na boca, suavidade e elegância. Melhora ainda mais com uma boa carne vermelha. Nota: 8,5 Preço: R$ 98 Onde: Grand Cru (2511-7045)
Barato bom Delicatesse de Charles Cros 2003 Corbières, França Vinho de excelente relação custo-benefício, da emergente região de Corbières. Corte de syrah com carignan, escuro, aromas de fruta negra, tabaco e terra, acidez presente, médio corpo, intenso na boca. Bom com uma costela. Nota: 8 Preço: R$ 28 Onde: Barrinhas (2131-0021)
Para guardar Château D'Yquem 1997 Sauternes, França Um dos melhores vinhos do mundo em uma bela safra, pena que seu preço é tão incrivelmente alto. Acompanha maravilhosamente bem um foie gras ou um queijo azul. Mas eu prefiro degustá-lo solo. Até porque é o tipo de vinho que muda o sentido da vida. Bem guardado, pode envelhecer, no barato, uns 60 anos. Mas pra que esperar tanto? Nota: 10 Preço: R$ 2.114 Onde: World Wine (2005-5125) |
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