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    Recebi um e-mail do leitor Miguel Arcanjo Gialluisi, que, entre outras coisas, expôs sua dificuldade em analisar olfativamente o vinho. Falou dos problemas em reconhecer este ou aquele aroma. De fato, a dúvida tem razão de ser. Enquanto o universo de cores e gostos é mais restrito, a gama de aromas é imensa. Daí a dificuldade em determinar precisamente o perfume dos vinhos. Por isso, além de um nariz bem treinado e uma memória olfativa aguçada, algumas informações relevantes ajudam muito na hora de reconhecer os aromas de um determinado vinho.

    Os compostos aromáticos de um vinho são divididos em três: primários, secundários e terciários. Os primários são aqueles que vêm da própria uva. São aromas de flores, frutas frescas ou maduras, minerais e vegetais. Os secundários são os que vêm com a fermentação do vinho. São aromas de chá, baunilha, caramelo, tabaco, entre outros. E os terciários, ou aromas de evolução, são os que aparecem com o envelhecimento do vinho. São aromas de café, chocolate, frutas secas, cogumelos, etc. É o famoso buquê do vinho.

    Reconhecer um aroma depende muito da memória olfativa de cada um. Por isso, como diz o grande Jorge Lucki, falar muito de aromas é até um pouco pernóstico, Afinal, quem nunca chegou perto de uma madressilva jamais conseguiria reconhecer o aroma desta flor, comumente presente em vinhos feitos com a viognier. Outros cheiros mais familiares, como o de maracujá, comum em sauvignon blanc do vale de Casablanca, no Chile, ou o de violeta, tão presente no malbec argentino ou num touriga-nacional do Dão, são mais fáceis de serem detectados. Por isso, é importante manter um bom arquivo de aromas na cabeça. Muitas vezes, ao enfiarmos o nariz na taça, é comum reconhecermos o cheiro e simplesmente não nos lembrarmos qual é. Não é todo mundo que é capaz de identificar com rapidez um aroma de alcaçuz, por exemplo. Outro dia, em um jantar harmonizado do qual participei, um casal discutia sobre os aromas de um determinado vinho. Ela jurava que era de caixa de charutos. Ele, garantia que era "cheiro de porão de navio". Provavelmente, os dois estavam certos. Eu, que nunca entrei em um porão de navio, jamais teria capacidade para reconhecer tal cheiro.

    Há maneiras de treinar o olfato. A mais fácil é meter o nariz em frutas, especiarias e afins. Conhecer o cheiro das coisas. Mas há também caixas, vendidas em lojas de vinho, que contém ampolas com os aromas mais comuns dos vinhos. As mais completas chegam a ter mais de cem aromas, inclusive os de defeitos. E é importante não desanimar. E não ter medo de expor o que sente. No jogo de aromas, não há certo ou errado. Apenas a percepção e o treino de cada um.

    Nota do editor: Lalas é o único colunista que me envia os textos sem o título. Vamos ver se após o criativo nome desta coluna ele vai continuar com essa prática temerária...
     
    Desengarrafando
    Na semana passada, escrevi que a vinícola Ocho Tierras não possuía representante no Brasil. Pois não é que tem!?! Assim me corrige Fernando Barbieri, diretor-geral da Brasart (www.brasart.com.br) , a importadora que traz para o Brasil os vinhos da Ocho Tierras. Melhor ainda para nós, enófilos.
    Vinhos degustados
    Vinho da semana
    Chassagne Montrachet 1er Cru Clos St Jean 2004
    Borgonha, França
    Grande branco da Borgonha, produzido pela Domaine Parigot Père & Fils. Delicado, elegante, com leves notas de manteiga e baunilha, fresco, longo. Combina bem com frango ao molho de vinho branco.
    Nota: 9
    Preço: R$ 144
    Onde; Nova Fazendinha (2471-3654)

    Barato bom
    Paul Jaboulet Aîné Parallèle 45 blanc 2005
    Côtes-du-Rhône, França
    Branco francês, fresco, frutado, mineral, simples e fácil de beber, feito por esta vinícola ícone do vale do Rhône. Combina muito bem com mariscos, mas pode ser degustado como aperitivo, na beira da piscina em um dia quente.
    Nota: 8
    Preço: R$ 44,18
    Onde: Mistral (2274-4562)

    Para guardar
    Alain Brumont Brumaire Pacherenc du Vic Bilh Doux 2000
    Pacherenc du Vic Bilh, França
    Excepcional vinho de sobremesa feito por Alain Brumont, um dos grandes nomes do Madiran. Intenso e persistente no nariz, com aromas de mel e damasco. Na boca, alia doçura e frescor. Excelente companheiro para foie gras, queijos azuis, pêras cozidas ou para ser degustado solo.
    Nota: 9
    Preço: R$ 137,10
    Onde: Decanter (2286-8838)
    Comentários
    Eder Heck
    Sommelier Mr. Lam
    Rio de Janeiro
    RJ
    02/08/2009 Lalas,

    A questão aromática é algo que como vc mesmo falou, depende da memória olfativa de cada um. Aromas familiares e que nos remetem principalmente à infância, são os que identificamos mais facilmente nos vinhos.

    O aroma é muito importante, tanto que em um treinamento que fiz com a equipe do Mr. Lam, desafiei todos a identificarem a diferença entre açúcar com canela e açúcar com chocolate. Com o nariz e os olhos fechados sentimos somente o doce do açúcar; é algo interessante de se fazer.

    Parabéns e até mais.
    Eder Heck
    Eduardo Moreira
    Economista
    Rio de Janeiro
    RJ
    02/08/2009 Prezado Alexandre Lalas:

    O "ditado" que utiliza sobre o aroma fez-me lembrar o originário que seria: "Quem tem boca vai a Roma", querendo dizer que aqueles que se comunicam vão a qualquer lugar importante, inclusive a bela cidade de Roma. Entretanto, pesquisas realizadas na origem (Portugal) esclarecem que a frase inicialmente era: "Quem tem boca vaia Roma", que foi utilizada após a queda do Império Romano e por ocasião da saída das tropas romanas do território português, quando os soldados abandonavam suas posições cabisbaixos de volta a Roma.

    Voltando ao tema: o sabor e o aroma são inegavelmente fatores fundamentais para a identificação e apreciação de um bom vinho e elementos indissociáveis do prazer de o degustar.
    Gustavo Silveira
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    03/08/2009 Não tem jeito. Para construir uma boa memória olfativa tem que cheirar tudo. Muito treino e paciência.
    Vania Moreira
    Aluna do curso básico da ABS
    Rio de Janeiro
    RJ
    03/08/2009 Miguel, você não está sozinho nessa! Lalas, vou correndo comprar minhas 100 ampolinhas hoje mesmo!

    Pois é, fui toda prosa começar o meu curso básico, crente que eu iria sentir de cara todos os aromas possíveis das mais variadas castas...e qual nada!!!

    Mesmo já tendo lido alguns bons livros sobre vinhos, suas especificidades e a sua santíssima trindade (visão, olfato e paladar), nada aconteceu comigo ainda! Tudo o que sinto é o aroma, de uva!!! Ok, no máximo frutas vermelhas, e só...

    E olha que tenho um ótimo olfato, e paladar melhor ainda, para comidas, condimentos e cheiros em geral. Tenho também uma boa memória olfativa e sou uma pessoa bastante sugestionável...

    Então, será que tenho "cura"???

    Abçs
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