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 Aos seis meses de idade, o pequeno Francisco, na primeira visita ao Brasil, já aprendeu a dizer "olá" às moçoilas cariocas. Quem garante, com um sorriso orgulhoso estampado no rosto, é a mãe do menino, a enóloga portuguesa Filipa Pato. Era para ser apenas a apresentação do FLP 2008, icewine (vinho feito com uvas congeladas) produzido por Filipa e pelo pai, Luis Pato, um dos grandes enólogos de Portugal. Mas o almoço regado a vinhos e informalidade, na semana passada, no Lorenzo Bistrô, no Jardim Botânico, foi muito mais do que isso. Acompanhada por filho e marido, Filipa, descontraída, falou sobre vinhos e contou sobre os projetos que desenvolve em sua vinícola e em uma empresa em sociedade com o marido. No Brasil, os vinhos de Filipa Pato são importados pela Casa Flora. |
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Alexandre Lalas |
Filipa Pato |
A produção de icewine está mais ligada a regiões frias da Áustria, Alemanha e Canadá. Por que fazer um vinho assim em um lugar quente como a Bairrada? |
Era uma ideia que eu alimentava há um certo tempo. Tinha vontade de fazer um vinho que combinasse com a comida molecular, tão na moda atualmente. Em 2004 comecei a fazer o vinho. Como não temos esse frio todo na Bairrada, congelávamos os bagos. O congelamento provoca um aumento do açúcar e da acidez das uvas. E acho que isso funciona muito bem com este tipo de comida que mistura tantos sabores e texturas. |
E como foi o processo de produção deste vinho? |
No começo, deixávamos fermentar a uma temperatura mais alta. O resultado era um vinho mais doce e concentrado, não tanto como a gente queria. Em 2007, acertamos a mão. Aumentamos o tempo de fermentação diminuindo a temperatura. Assim, conseguimos preservar mais os aromas e fazer o tipo de vinho que estávamos buscando. |
Ele é bem menos doce do que os icewines normalmente são... |
Pois é. E tem 100 gramas de açúcar. Ninguém diz, ao provar o vinho, que tem esse açúcar todo. Por isso mesmo, para mim, nem chega a ser um icewine. Prefiro chamar o FLP de um vinho molecular. Por isso, no rótulo a gente pôs a frase "um vinho de autor para uma cozinha de autor". Acho que é o vinho vai mais por este caminho. |
E o que mais de novidade vem por aí? |
Junto com o William, meu marido, estou com uma nova empresa, a Vinhos Doidos. Por enquanto, fazemos apenas dois brancos: o Bossa e o Nossa. A inspiração é a brasileiríssima Bossa Nova, conhecida no mundo todo. O Bossa é um vinho de festa, para ser consumido em boates, aniversários, casamentos. É um vinho de volume, fácil e simples de beber, feito com a maria gomes, casta branca típica da Bairrada. E o Nossa é um vinho mais elaborado, complexo. Fazemos um corte de bical e encruzado, de pequena produção. E outra novidade que tenho para contar também é que eu e meu pai (o enólogo Luis Pato) faremos um vinho em homenagem a meu filho Francisco. Será um vinho feito com a baga, mas de guarda, com uma boa carga de taninos. A intenção é que fique pronto em 20 anos, assim o Francisco poderá degustá-lo no auge. |
Quando chegamos, você experimentou um vinho nacional, o Fortaleza do Seival 2008, feito pela Miolo. O que achou do vinho? |
Acho que a qualidade dos vinhos brasileiros está melhorando muito. A cada ano que venho aqui posso comprovar isso. Este pinot é bem feito, agradável e com boa tipicidade. Acho que estão no caminho certo. |
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